Capítulo dois

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Eu estava embolada sobre a coberta macia e quente aproveitando a penumbra de luz que vinha da janela. O dia lá fora estava começando a se encaixar nos eixos novamente. Meu nariz estava ainda mais vermelho que no dia anterior , e, com certeza havia apanhado alguma gripe pela friagem. Minha avó havia me dado um enorme sermão por ficar saindo de casa em tempos inadequados para uma dama entre outras coisas a mais. Ela ainda estava desconfiada com os acontecimentos estranhos com os jovens de Nashville. Tento ignorar os meus pensamentos, mas ai os meus olhos travam no porta-retratos da minha família.

A cada segundo que se passava,  eu sentia uma falta ainda maior da minha mãe e do meu pai. Era como se um buraco estivesse aberto no meu peito. Eu sabia, que , de alguma maneira, esse buraco jamais se fecharia. 

Sentia tanta falta da presença deles em minha vidinha patética e colérica. Olho para a foto que estava em cima da pequena mesinha marfim. Meu pai, minha mãe e eu aos sete anos de idade com um sorriso banguela no rosto. As bochechas avermelhadas e os cabelos lisos compridos estavam esvoaçados como vento. Hoje eles estavam ainda mais compridos, porém havia cachos se formando em suas pontas.

Meus dedos passaram levemente sobre o material plasticizado que guardava a sua única herança salva daquele maldito incêndio. 

Ouço o bater na porta e subitamente me levantou para abrir. Sem nenhuma surpresa, seu Sr. Rockfierce - conhecido como tio Adolpho - estava me esperando todo sorridente segurando as chaves nas mãos. Estava na hora de ir para Oxford.

Finalmente.

Minha vida agora seria um balde de água fria com vários exames dentro. Livros empilhados nas cabeceiras empoeirados e inacabados. Sem tempo para Dylar; sem tempo para amigas. Estudo, estudo, estudo.

- Está pronta, minha querida? – ele pergunta sorridente. Adolpho continuava com a sua típica aparência de homem desleixado das cavernas. Seu bigode asqueroso parecia balançar de um lado para o outro de acordo com suas caretas.

- Tanto faz – respondi indo em direção a sua mala. Catei-a e entreguei em suas mãos. – Leve lá para baixo.

Sr. Rockfierce assentiu e levou a mala para baixo. Assim que ele saiu, fechei a porta com toda a força e taquei-me  na cama . Por incrível que pareça, eu não sentia nenhuma vontade de ir para Oxford. Só queria dormir até o mundo acabar, se um dia isso fosse acontecer. 

Essa faculdade sempre foi o sonho da minha vida, mas agora tudo parece um ponta-pé para mim. Agora, ir para Oxford , não é algo tão brilhante assim na minha vida.

Acho que a realidade simplesmente pesou em cima de mim e de repente, eu não estava mais tão animada. Metade de mim estava decepcionada por Dylan não ter me mandado uma mensagem sequer e a outra metade estava triste por minha avó, que ficaria sozinha naquela casa enorme.  

Levantei-me sem prazer nenhum e observei pela última vez a pequena cidade de Nashville. Peguei a roupa que havia deixado separado sobre a cama na noite anterior e me vesti lentamente. Penteei o meu  cabelo  levemente com uma escova, deixando-os macios e sem volume.

- Vamos logo, Brooke! – Adolpho gritou. - Estamos atrasados!

Revirei os olhos, completamente entediada. Tudo bem, eu estava agindo como uma adolescente rebelde quando os hormônios se afloram, mas caramba! O que seria de mim agora? Tudo vai virar de pernas por ar?

- Estou pronta – aviso.

Ao descer as escadas rapidamente, olhei para a minha avó que conversava com Adolpho. Sua expressão era carregada de preocupação o que fazia com que a velha senhora envelhecesse uns cinco anos. Ela olhou tristemente para a mim, porém, continuei irredutível.

- Querida, perdoe-me por ontem. Creio eu, que fui rude com você. Sentirei sua falta, querida. – ela diz correndo para me abraçar.

- Eu também sentirei sua falta, vovó – digo sem  perceber que lágrimas quentes escorriam por suas bochechas e que logo começou a soluçar sem parar. Eu sentiria muita falta dela, pois foi ela que cuidou de mim quando os meus pais morreram.

Ela, para mim, era a minha única família.

A única que ficou ao meu lado quando colocaram os caixões debaixo da terra.

- Não chore menina. Eu sempre estarei com você. Ligue-me quando chegar lá.

Funguei um pouco e assenti. Logo, eu estava no pequeno celta do tio. Ele gargalhava alto enquanto colocava as roupas no porta-malas.

- Essa rádio é demais! Os comentaristas são os melhores! – ele bate a mão no joelho e gargalha mais uma vez. Senti que aquela viagem seria a mais longa de minha vida ao lado do meu tio ''contador'' de piadas catastróficas. – Quer ouvir?

Limitei-me a olhar para ele com tédio.Após um tempo, tudo estava silencioso e seus olhos estavam pregados na estrada.

Depois de termos andando mais ou menos cinquenta e cinco quilômetros, fiquei  envolvida  na música repetitiva do meu celular.

Envolvida demais para perceber o que me observava na estrada. Uma mulher que gritava loucamente. De onde ela havia surgido? A segundos a pista estava vazia.

Sr.Rockfierce não ajudava em questão. Cantarolava e dirigia como se a sua frente não existisse nenhuma estrada e ele estivesse pilotando um avião.

Até que ele abre os olhos e se assusta com a aparição da mulher em sua janela gritando por socorro.

Seu pé pisou no  acelerador na medida do susto e logo depois, no freio que parecia não funcionar. O carro velho bate com tudo em um poste e a minha cabeça parecia ter virado gelatina, pois ela se joga para frente, fazendo com que a batesse com força. O cheiro de sangue invade as minhas narinas e não consigo mais me movimentar. Uma silhueta aparece, mas eu já não enxergava mais.

Então, eu morro.

~*~

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Beijada pela Morte | livro umWhere stories live. Discover now