Capítulo seis

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- Mãe, cadê você?

- Eu estou aqui, querida.

- Eu não a vejo...

- Eu sempre estive aqui, querida.

Minha cabeça latejava. Eu não sabia onde estava e só me dei conta minutos depois. Eu não deveria estar com as meninas? Aquele não era o meu quarto! Olho para todos os cantos, desnorteada. Que lugar era aquele? Um quarto mal iluminado, com uma cama de madeira velha. Tinham vários retratos ali e percebi que era Blake com algumas pessoas. 

O que eu estava fazendo no quarto de Blake? 

Ó, céus! Será que fizemos alguma coisa? Verifico as minhas roupas rapidamente e vejo que estou vestindo a mesma roupa de antes. Meus cabelos, com certeza, estavam desalinhados. Pisco rapidamente e me levanto da cama.

- Já está se sentindo melhor? – ele pergunta. Sua voz fria me faz estremecer. Como ele havia surgido ali?

- Como eu vim parar aqui? – pergunto receosa. Estava realmente muito confusa.

- Relaxe. Eu trouxe você aqui, porque você havia desmaiado no meio dos outros alunos. Como está se sentindo? - ele pergunta. Estava calmo, com o olhar despreocupado.

- Eu estou bem. – digo, sentando novamente na cama. Coloco a mão sobre a minha cabeça. Como eu podia sentir estando morta? Era surreal.

Para a minha surpresa, Blake se senta também. Ele parecia... Diferente. Estava apenas com uma regata preta que combinava com sua vestimenta gótica. Os cabelos negros penteados em topete e a pele acinzentada. Um sorriso surgiu em seu rosto. Meu Deus! Eu estou vendo A Morte sorrir!

- Você está rindo de quê? - pergunto, tentando quebrar o silêncio.

- Da sua cara quando desmaiou. Foi engraçado. – ele gargalhou. Ah, claro!

Reviro os olhos. Já devia esperar isso desse tal de Blake. O problema era que tudo em Blake era bonito, o que dificultava a minha concentração. Ele parecia àqueles caras populares em faculdades e que faziam cursos que quase ninguém tinha coragem de fazer.

- Já acabou? – perguntou. Cruzo os meus braços e não consigo evitar a carranca que surge no meu rosto. Fala sério, eu acabei de morrer!

- Já – ele para de ri e olha timidamente para mim.

Blake tímido? Ainda bem que estou semimorta para ver isso acontecer.

Flashes do sonho anterior invadem a minha mente. Minha mãe. Como eu sentia falta dela. Como eu ansiava por ela. Fazia tantos anos que eu sonhava com algum dos meus pais. Anos! Por que voltou justo agora? São tantas perguntas fervilhando a minha mente que nem consigo controlar as lágrimas que descem pelo meu rosto. Tudo o que eu deixei acumular por anos dentro de mim, estava se desfazendo.

Na frente de Blake.

Meu Deus, que vergonha! Eu precisava sair dali, antes que ele percebesse que havia algo errado. Parabéns, Brooke!

- Porque está chorando, Brooke? – ele perguntou. Seu semblante era calmo e atencioso como um psicólogo. Eu não queria que isso acontecesse na frente dele. Blake não era bom, ele não era!

- Meus pais. Eu sinto falta deles. - digo, rendendo-me por completo.

Pare de chorar, Brooke. Apenas pare.

Blake se aproximou de mim e me deu um abraço. Sabe aqueles que os amigos lhes dão quando você precisa? Foi isso. Eu precisava disso. Precisava de alguém ao meu lado, abraçando-me. Não era necessário falar. O silêncio bastava por si só.

Quando o abraço cessa, percebo que deixei sua camisa ensopada de lágrimas. Engulo em seco e olho para ele. Seus olhos escuros estavam maiores e seu rosto próximo ao meu. Não fazia ideia do que estava sentindo e não que estava a nossa volta, mas era algo... Desconhecido e completamente intenso.

O ambiente mal iluminado não ajudava em nada. Nossos rostos estavam tão próximos que se um de nós se afastasse, todo o encanto do momento se quebraria. Porém, o menos inesperado, aconteceu. A boca de Blake se aproxima da minha com uma intensidade que me deixa zonza. Seus lábios eram macios e viciantes. Ele explorava a minha boca de uma maneira surpreendente e todo o meu corpo parecia formigar com a eletricidade que suas mãos nuas causavam em meu corpo.

Seus braços agarraram a minha cintura com firmeza e por mais que fosse errado, eu não queria sair dali. Automaticamente, minhas mãos vão até a sua nuca e o puxo para mais perto, fazendo com que nossos corpos caiam na cama macia. Lembro-me de Dylan e de seus beijos doces. Fazia anos que eu não beijava ou flertava com alguém.

Eu não acredito no que estou fazendo! É insano, eu sei disso! O corpo de Blake sobre o meu fazia com que o meu cérebro soltasse faíscas. O que eu estava fazendo mesmo? Sua boca não desgrudava da minha nem por um segundo e percebo que sua mão toca na minha coxa e a aperta.

Isso está indo rápido demais. O que eu estava deixando ele fazer? Preciso parar, isso é errado e eu mal o conheço! Não acredito que me deixei levar pelos hormônios adolescentes. Isso se eu ainda tiver hormônios.

Quebro o beijo e tento recuperar o fôlego perdido. O que está acontecendo? Esse homem é a própria Morte! Aquilo tudo foi um momento de fraqueza, que não deveria acontecer jamais. Blake parecia ser perigoso, com certeza eu não vou querê-lo perto de mim.

- Droga! Isso não vai se repetir, você sabe, não é? – ele pergunta, em tom acusador. Eu não tinha feito nada de errado, oras! Foi ele quem avançou. Aliás, qual é o problema de um beijinho inocente? Posso ter morrido, mas ainda sou adolescente. Ele é como  se fosse qualquer cara que eu peguei na balada, antes de começar a namorar Dylan. Eu precisava parar de ser bipolar. Não conseguia nem pensar direito sobre o certo e o errado perto dele.

Olho para o seu rosto atordoado. 

Eu deveria tê-lo parado antes.

Arrumo minhas roupas e o meu cabelo. Olho pela última vez para Blake que estava enraivado. Balanço a cabeça negativamente e falo:

- Nunca mais vai se repetir, Blake. Isso foi errado, está bem? - tento manter a calma, enquanto por dentro de mim, uma tempestade estava prestes a começar.

Blake assente e eu saio do quarto, tentando por os pensamentos em ordem.


Beijada pela Morte | livro umWhere stories live. Discover now