21a. A sinistra selva virgem (narrado por Adornado)

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Xaxī Xaterê continua sem se importar com a nuvem escura se movendo sobre eles. Atravessa rapidamente a pequena clareira. E antes de adentrar novamente a floresta, entra em um buraco. Uma abertura média no chão, entre as ossadas e restos de corpos em decomposição, como se fossem uma cortina impedindo qualquer um de descobri-lo. E eles somem. Aos poucos, o barulho diminui.

O pequeno gênio da floresta adentra a caverna. Deposita o menino no chão sujo, escuro, entre teias de aranhas e restos de ervas secas no chão e penduradas pelas paredes úmidas. Olha em volta. O local é apavorante. Há também restos secos de animais. Ossos de tamanhos variados em um canto. O cheiro é fétido e mais penetrante ainda.

No canto, um fogo aceso, lança uma pálida luz amarelada, doentia sobre o local. E em meio a fumaça, se vê ele: o Ermitão, um homem, aparentemente. Sua aparência é de alguém mais velho, mas seus braços exibem músculos firmes, trabalhados. Tem uma postura encurvada, como se carregasse um peso grande, sua aparência é grotesca.

Ele é alto, sujo, ou melhor, imundo. Olhos estreitos, espertos e maliciosos se movimentam rápido. Seu olho é estranho, como se uma névoa escura o cobrisse, brilhando em âmbar às vezes. Exala um mau cheiro do corpo, da boca grande, desdentada e de sua pele, onde veem-se crostas de sujeira e afecções com prurido. Suas unhas são grandes, duras, imundas e pretas. Tem peles de animais, felinos variados, tão imundas e fétidas como ele, sobre o corpo, amarradas, cobrindo-o. Exibe estranhas pinturas corporais, tatuagens. Em seu pescoço e peito, diversos colares, ornamentados com ossos, provavelmente de algumas de suas vítimas. No centro, uma espécie de altar de pedras empilhadas. Sobre ele estão colocados vários crânios, alguns vazios, outros com líquidos de cores estranhas. O mau cheiro é horrível.

Ele vê a pequena criatura loira de cabelos com cachos dourados. Vê a criança colocada no canto. Exibe um sorriso desdentado e negro, podre de satisfação.

— Enfim, eis você aqui, meu amigo. Pensei que não chegaria mais.

A criatura criança não ousa encará-lo. Tem os olhos abaixados.

— Eu trouxe o menino – ele fala. – Agora cumpra a sua parte do trato e me devolva o meu cajado.

O bruxo deixa o canto escuro e vem em direção a Xaxī Xaterê. Assim, visto a partir da luz do fogo aceso no centro da caverna, ele aparenta ser ainda mais terrível, mais assustador. Xaxī Xaterê se retesa de medo.

O horrível homem se movimenta devagar. Seu olhar inspeciona o pequeno ser mágico. Vai em direção a ele. Nas mãos, ele tem ervas secas que ele amassa nas mãos sujas. Ao passar pela fogueira, joga essas ervas amassadas no fogo. Uma fumaça espessa se forma e cobre a caverna. Fica difícil respirar.

— Hahaha! – o som de sua risada é assustador e penetra os ouvidos, fazendo doer os tímpanos. – Você pensou mesmo que eu lhe devolveria o seu cajado mágico, criatura mínima?

Com um gesto, ele joga o gênio menino na parede da caverna. Xaxī Xaterê bate com a cabeça e corpo em coisas que despencam sobre ele, fazendo barulho. Tenta se levantar. Mas o bruxo vem em sua direção novamente. Um poder emanado de suas mãos o prende à parede da caverna, imobilizando-o.

— É um verme mesmo! – diz com ódio e desprezo na fala e olhar. – O pequeno Xaxī Xaterê. A criatura que gosta de brincar com crianças humanas. Foi muito fácil te roubar o cajado! Foi muito fácil te dominar.

O Bruxo se aproxima ainda mais de Xaxī Xaterê. Desliza sua grande e imunda unha pelo rosto e peito do pequeno ser, arranhando-o com desenhos estranhos. Ele treme e tem os olhos esbugalhados de medo. Xaterê tenta se mover, se desvencilhar, mas não consegue, está imobilizado com a magia.

Jegwaká: o Clã do centro da Terra (COMPLETO) 🏆Prêmio Melhores de 2019 🏆Where stories live. Discover now