Capítulo 31

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- Boa noite Cinderela.

Meus olhos doem, minha cabeça dói mais ainda. Levo um tempo para me lembrar do que houve, eu estava com Alice na casa dela, ela pediu desculpas por algo e então eu levei uma pancada. Não faz sentido nenhum.

Foque na voz Kile, e na figura a sua frente. Me obrigo.

Mas está muito escuro para ver, existe um pequeno feixe de luz revelando pelas janelas que estou em alguma espécie de galpão.

- O que temos aqui? Talvez o amante da rainha...

A voz soa familiar, eu conheço o dono dela, de onde? A resposta tem que estar no período da seleção. Recapitulo quem pode ser, e só paro quando me lembro de Marid. Droga! Georgia e August alertaram, Eadlyn acelerou o casamento, o general Leger ordenou buscar e ninguém o encontrou, acharam que podia ter sido bobagem. Pelo visto não foi.

- Marid Illéa. - Digo. - Parece que uma vez sem escrúpulos, sempre sem escrúpulos.

Sinto minha garganta arranhar um pouco, parece completamente seca.

- O que estou fazendo aqui? - Pergunto com calma.

Acho que quando você cresce sabendo que seus pais foram açoitados, que presenciaram um ataque mortal ao palacio, você não se deixa intimidar muito fácil por qualquer situação, porque sabe que poderia ser pior. Alem do mais, meu pai é um soldado, eu vi ele ser frio e controlado muitas vezes, posso fazer isso também.- Essa vai ser uma conversa interessante visto que foi divertido descobrir que a rainha está longe de ser uma boa garota. - A sombra de Marid atravessa o salão. - E você não foi um bom homem também.

Ele aperta um interruptor e apenas uma luz fraca perto de mim se acende.

- Ei Woodwork, bom revê-lo, acho que te vi uma vez com Eadlyn. - Ele fala. - Talvez aquilo fosse um sinal.

Marid é irritantemente sarcástico e animado enquanto fala, o que me faz querer socá-lo, mas me dou conta de que minhas mãos e pés estão presos.

- Desculpe por isso, eu precisava garantir. - Diz.

- Garantir o que? Por que prender o filho do guarda e da dama de companhia? - Tento parecer calmo.

Ele ri e puxa um banco para se sentar de frente para mim. Ele sabe que não sou só isso, não é?

- Alice, querida, quer se juntar a nós nessa conversa? - Chama alto.

Alice e Marid. Não faz nenhum sentido. Ela é a irmã de uma ex selecionada, vem de uma boa familia, porque se juntar a isso.

Ela aparece segundos depois e eu só consigo pensar em uma pergunta para fazer.

- Por que?

O olhar dela procura o de Marid como se pedisse autorização para falar e ele assente. 

- Você foi a minha sala de aula, viu aquelas crianças, a monarquia não as ajuda, dissolver as castas não as ajuda, a tradição fala mais alto e não só em Angeles, sem a monarquia eles teriam uma chance. - Ela responde.

- Ah e para ser uma pessoa melhor participa de algo violento, cheio de ataques, como isso pode ajudar? - Rebato.

Ela esfrega a mão na testa. Essa pessoa na minha frente é uma desconhecida, eu me equivoquei com ela, me sinto idiota.

- Continue. - Marid ordena.

- Não era para ser assim. - Alice fala. - Nós íamos fazer pacificamente, tínhamos um infiltrado na Seleção. Ele fez tudo certo, ela se apaixonou por ele, se casou com ele...

Não. Não Erik. Eu o achava reservado demais, nós tivemos nossos problemas, mas ser um rebelde e ter casado por um plano? Eadlyn quase arruinou nosso futuro por causa de alguem que a via como um plano?

- Ele só tinha que convence-la a desistir, mas ele cometeu o erro mais grave, se apaixonou por ela. - Alice é fria. - Então ele se recusou a ajudar e com mais ninguém dentro começamos a agir de fora, foi quando Marid apareceu e propos nos liderar para derrubar a monarquia.

- Obrigada Alice, mas continuo daqui. - Ele interrompe.

Eu nem estou conseguindo focar no que eles estão dizendo, desde que o nome de Erik veio a conversa. O que estou sentindo é raiva pura. Mesmo que tenha se recusado quando se apaixonou, por algum tempo ele tentou. Basta lembrar de quando Eady deixou o cargo logo após a coroação porque Erik estava se "adaptando". Filho de uma Mãe.

- Eu achei que seria fácil Alice se aproximar de alguem do palacio, dado quem é sua irmã. Você foi um alvo fácil, ela poderia tirar informações que nos poderiam ser uteis. - Marid conta. - Mas foi uma surpresa quando ela começou a ver quanto Eadlyn era territorial com você, ciumenta, e então veio o divorcio e foi só somar um mais um.

Ele faz sinal de um com cada uma das mãos e depois se aproxima.

- Vocês são um casal. - Ele fala. - E então eu subornei alguem e outra surpresa! Estão casados!

Sabe quando eu disse que Marid é irritantemente animado, isso está começando a parecer loucura pra mim. Ele soa um pouco fora de si.

- Você está louco. - Disparo.

- Talvez, mas não estou mentindo, estou?

Fico em silencio. Se ele já subornou alguem não tem como negar.

- O que quer de mim? - Resmungo.

- De você? Nada. Da sua linda esposa? Um anuncio de fim da monarquia. - Ele fala como se não fosse nada demais.

Olho para Alice de novo. Eu não acredito que a deixei me enganar, que me deixei estar aqui e agora Eadlyn está sendo pressionada a abrir mão do que sua familia tem construído há varias gerações.

- Não pode fazer isso! - Me altero forçando a corda amarrando minhas mãos. - Você não se importa com o país que carrega seu sobrenome, só se importa consigo mesmo, não está fazendo isso porque não concorda com a monarquia, está se vingando porque Eadlyn não deu a minima pra sua pressão.

Marid se levanta e me encara.

- Tarde demais. - Ele diz. - Em uma hora ela vai fazer o anuncio para o país. Parabéns, ela faz qualquer coisa por você. Que tola.

Acho que por estar prestando atenção demais a essa fala dele eu me distraio de Alice, mas Marid está ainda mais distraido. Ele está de costas pra ela, por isso não pode prever o cabo do revólver acertando sua cabeça por trás.

- Que tolo. - Alice murmura quando ele cair.

Ah, isso voltou a não fazer sentido. Olho para Marid caido no chão e depois de volta para ela.

- Eu vou te soltar, mas tem que prometer não tentar me matar? - Ela sorri e parece a mesma mulher inofensiva que eu via nela antes. - Você precisa chegar antes que Eadlyn faça o anuncio.

Alice se aproxima e com uma faca começa a cortar as cordas.

- Por que fazer isso se é contra a monarquia? - Pergunto.

- Primeiro, acho que a ideia da rainha de colocar representantes em cada região pode funcionar quase como uma democracia. - Ela diz. - Segundo, eu disse que Erik voltou atrás porque cometeu o pior erro, se apaixonou.

Ela termina de soltar e eu me levanto.

- Eu cometi o mesmo erro que ele. - Ela fala.

Entendi. Não sei se posso perdoar ela ou Erik pelo que fizeram, mas posso entender porque mudaram. Quando se apaixona você quer fazer algo pela outra pessoa, mesmo que tenha cometido erros com ela antes.

- Espero que tenha um plano. - Digo.

- Eu agi meio por impulso. - Alice revela. - Tem três homens armados lá fora, de algum jeito vamos ter que passar por eles.

Droga!

A Verdade {fanfic de A Seleção}Where stories live. Discover now