Capítulo 34

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Não há nada de elegância quando uma rainha precisa correr até o banheiro e vomitar.

- Que saco. - Eadlyn resmunga não se importando em se sentar no chão e amassar todo vestido que Eloise acabou de lhe ajudar a vestir

Solto o cabelo dela que estive segurando e me sento ao seu lado.

- Ei bebê, você precisa colaborar com a mamãe. - Digo acariciando a barriga agora muito visível no auge do quinto mês de gestação.

- Acho que hoje é um pouco minha culpa. - Eady fala.

Não vou concordar em voz alta, mas eu também acredito que seja, ela está agitada, nervosa, ansiosa. Ontem foi a votação e hoje, daqui a pouco minutos teremos o resultado final ao vivo no Jornal de Illéa. Alguns dos conselheiros insistiram que Eadlyn olhasse antes para não ter nenhuma eventual surpresa, mas ela disse que só saberá junto a população, porque isso é o justo.

Uma das coisas que mais me orgulho é do senso se justiça que Eadlyn tem desenvolvido, da importância que ela aprendeu a dar as pessoas.

- Preciso me trocar de novo, escovar os dentes, arrumar o cabelo. - Ela diz. - Pode ir descendo e avisar que daqui a pouco estarei lá?

- Claro.

É só uma forma sútil dela dizer que precisa de um tempo sozinha, talvez antes eu até tentasse forçar a presença e fazê-la ficar bem, mas quanto mais convivemos mais sabemos do que o outro precisa.

A apreensão é nítida nos olhos de todos quando desço, ninguém sabe ao certo que fazer caso Eadlyn seja recusada como rainha. Várias possibilidades foram cogitadas. Até mesmo um possível acordo com a França para que Ahren assuma o trono até Kaden atingir a maioridade. Porém, nada concreto.

Particularmente eu estou muito confiante com o resultado. Eadlyn nos últimos três meses e meio tem feito um grande esforço, criado maneiras de levar possibilidades reais as pessoas e fazê-las perceberem que podem mais e isso é bom, acho que vão saber reconhecer isso.

- Pediram para te entregar, chegou no escritório. - Josie me entrega um envelope.

Para ser aberto somente por Kile Woodwork.
Remetente: Anne Sumner
Madri - Espanha

Estranho. Não conheço ninguém com esse nome, aliás, não conheço ninguém em Madri. Abro o envelope e tiro a folha lá de dentro.

Kile,
Eu vou ser breve, estou escrevendo durante uma pausa rápida em um café de Madri antes de embarcar para onde será impossível me comunicar. Sou eu, Alice, me desculpe o nome falso, mas era necessário.  Sei que disse que daria notícias logo, mas eu estava tentando dar um rumo a minha vida antes de dizer qualquer coisa. Espero que fique feliz em saber que meus dias de rebelde ficaram para trás, agora eu tento mudar o mundo com o meu talento em ser professora, mas ao invés de salas de aula tradicionais vou levar esperança a lugares distantes, esquecidos.
Soube que prenderam Marid e estão conseguindo desmontar os grupos rebeldes. Meu nome foi citado, mas não o de Erik, o que eu suponho tenha sido abafado pela realeza. Essa carta deve chegar as vésperas das eleições, quando Illéa ganha ainda mais ares de monarquia constitucional, e espero sinceramente que Eadlyn tenha sorte. Espero que seja feliz Kile.
Não acho que vou voltar a escrever, por segurança, e provavelmente nunca mais nos vejamos, mas lembre-se sempre que sou grata por ter me dado uma segunda chance para seguir minha vida.
Adeus.

Dobro a folha e guardo no bolso, mais tarde mostro para Eadlyn, se a situação permitir.

Josie ainda está perto de mim e só então noto que ela está apreensiva de um modo diferente dos outros, como se fosse algo mais particular.

- Você está bem? - Pergunto.

- Eu não sei. - Ela diz e faz sinal para nos afastarmos dos outros. - Sabe o que Kaden vai fazer caso Eadlyn continue como rainha?

Paramos em frente a um janela e ficamos os dois olhando para fora.

- O que? - Pergunto.

- Estudar na Europa, em Londres. - Conta com tristeza. - Isso significa ficar quatro anos fora...

Ela não precisa dizer mais nada, é claro que quer que dê tudo certo para Eady, mas ela também tem medo do futuro que isso vai lhe trazer. É totalmente aceitável para uma garota da sua idade e apaixonada.

- Se for forte, verdadeiro, nem tempo, nem distância, nem qualquer barreira impede. - Digo a ela.

Abraço os ombros dela e ela se encosta em mim.

- Eu sei, mas vou sentir falta dele.

- Experiência própria Jos, você sente falta a cada droga de dia, mas você também tem que viver, e aos poucos aprende que saudade é ruim sim, mas é suportável. - Falo. - Você vai sobreviver até se encontrarem de novo.

Os passos e som de vozes baixas atrás de nós é o suficiente para que eu tome consciência da presença de Eadlyn no salão.

- Vá. - Josie manda baixinho.

Dou um beijo em sua testa e vou ao encontro de Eadlyn que está falando baixo com seus pais. Kaden está um pouco mais afastado com Osten.

- Está melhor? - Pergunto a Eady.

- Sim, precisamos ir para o estúdio, entramos ao vivo em cinco minutos. - Ela informa.

Ela não é mais a Eadlyn frágil que eu estava ajudando no banheiro alguns minutos atrás, frágil e com medo, ela é a força em pessoa, segura e confiante. Nós a seguimos para o estúdio e nos sentamos, eu ao lado dela, seus pais do outro lado e Kaden e Osten logo depois.

- Bom dia alteza. - Yanko, o substituto de Gavril, diz assim que nós nos sentamos. - Grande dia.

- Bom dia Yanko, e sim grande dia. - Eadlyn sorri. - Estou pronta, então quando quiser...

Ele assente e toma seu lugar antes que as câmeras liguem e quando elas ligam segue todo o protocolo, cumprimentar todos, dar alguns anúncios e então passar a palavra a rainha. Esses meses me fizeram me acostumar com a exposição semanal.

Eadlyn não demora dessa vez, ela é breve, apenas diz que confia na decisão da população e que espera que esses representantes escolhidos façam um grande trabalho em parceria com a monarquia, seja lá quem der continuidade. A seguir ela se senta novamente enquanto esperamos o anuncio dos eleitos.

A mão dela segura a minha enquanto as fotos, nomes e porcentagens aparecem na tela. E segura cada vez mais forte a medida que se aproxima a hora do resultado mais importante.

- E agora o resultado da aprovação do reinado da rainha Eadlyn. - Yanko anuncia. - Com 68% dos votos a população de Illéa decidiu que Eadlyn Schreave permanece como rainha de Illéa.

O suspiro de alivio de todos é tão audivel que se torna um som só. Eadlyn para de apertar minha mão e olha primeiro para seu pai, como se lhe dissesse "salvamos o reinado Schrrave", depois olha para mãe e depois para mim sorrindo.

- Acabou. - Ela sussurra. - Os dias ruins acabaram.

- Os bons estão só no começo. - Renato.

Ela acaricia meu rosto e eu beijo sua mão antes que ela se levante para se pronunciar.

Eu sei que os dias ruins passaram, mas os dias agitados nunca vão, sempre vamos estar cercados por esse mundo, que não é mais o mundo dela, é nosso mundo.






A Verdade {fanfic de A Seleção}Where stories live. Discover now