12. A Família Morrel

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          Minutos depois, o coche estava na rua Meslay nº 14.

          A casa era branca, risonha e precedida de um quintal no qual dois pequenos canteiros exibiam lindas flores.

          No empregado que lhe abriu aquela porta o conde reconheceu o velho Coclès. Mas como este, lembramos, tinha apenas um olho e esse olho debilitara-se consideravelmente naqueles nove anos, Coclès não reconheceu o conde.

          Os coches, para estacionar em frente à entrada, precisavam contornar um pequeno repuxo que esguichava de um laguinho de pedra, enfeite de luxo que despertara grande inveja no bairro e originara o apelido da casa: "Pequeno Versalhes".

          Desnecessário dizer que no lago agitava-se uma profusão de peixes vermelhos e amarelos.

          A casa, erguida sobre um andar de cozinhas e porões, tinha, além do térreo, dois andares completos e mansardas; os moços haviam-na comprado com dependências, que consistiam num imenso ateliê, dois pavilhões ao fundo de um jardim e o próprio jardim. Emmanuel, na primeira visita, vira naquela disposição um pequeno negócio a ser feito; reservara para si a casa, metade do jardim, e traçara uma linha, isto é, construíra um muro entre ele e os ateliês, que arrendara com os pavilhões e a área do jardim a eles contígua; de maneira que se via alojado por uma soma bastante módica e tão bem instalado em sua casa quanto o mais minucioso proprietário de um palacete do faubourg Saint-Germain.

          A sala de jantar era de carvalho; o salão, todo em acaju e veludo azul; o quarto, em tons de limão e damasco verde; havia, além disso, um gabinete de trabalho para Emmanuel, que não trabalhava, e uma sala de música para Julie, que não tocava nenhum instrumento.

          O segundo andar inteiro pertencia a Maximilien, que ali dispunha de uma reprodução exata dos aposentos da irmã, embora a sala de jantar estivesse convertida numa sala de bilhar, na qual se reunia com os amigos.

          Ele mesmo supervisionava um curativo em seu cavalo, fumando seu charuto na entrada do jardim, quando o coche do conde parou em frente à casa.

          Coclès abriu a porta, como dissemos, e Baptistin, lançando-se do assento, perguntou se o sr. e sra. Herbault e o sr. Maximilien Morrel podiam receber o conde de Monte Cristo.

          — O conde de Monte Cristo! — exclamou Morrel, jogando fora o charuto e lançando-se na direção do visitante. — Claro que podemos recebê-lo! Ah! Obrigado, cem vezes obrigado, senhor conde, por não ter esquecido a promessa.

          E o jovem oficial apertou tão cordialmente a mão do conde que este pôde confirmar a franqueza do gesto, vendo claramente que havia sido aguardado com impaciência e recebido com entusiasmo.

          — Venha, venha — disse Maximilien —, quero ser o seu arauto; um homem como o senhor não deve ser anunciado por um criado; minha irmã está no jardim, despetalando suas rosas murchas; meu irmão lê seus dois jornais, La Presse e Les Débats, a seis passos dela, pois, em qualquer lugar onde esteja a sra. Herbault, basta olhar num raio de quatro metros e o sr. Emmanuel lá está; isto vale "reciprocamente", como dizem na Escola Politécnica.

          O barulho de passos fez se erguer a cabeça de uma moça de vinte a vinte cinco anos, vestindo um robe de chambre de seda e despetalando com um cuidado muito particular uma rosa-chá.

          Essa mulher era a nossa pequena Julie, que se tornara, como previra o emissário da Thomson & French, sra. Emmanuel Herbault.

          Ao ver um estranho, ela soltou um grito. Maximilien pôs-se a rir.

          — Não se faça de rogada, minha irmã — disse ele —, embora esteja em Paris há apenas dois ou três dias, o sr. conde já sabe o que é uma dona de casa do Marais e, se não sabe, você vai lhe ensinar.

O Conde de Monte Cristo - Alexandre Dumas (Clássicos Zahar)Where stories live. Discover now