18. A Ata

227 24 0
                                    

          Noirtier esperava, vestido de preto e instalado em sua poltrona.

          Quando as três pessoas que ele pretendia ver entraram, ele olhou para a porta, que seu criado de quarto fechou imediatamente.

          — Preste atenção — disse Villefort baixinho a Valentine, que não conseguia esconder a alegria —, se o sr. Noirtier quiser comunicar coisas que impeçam seu casamento, proíbo-a de compreendê-las.

          Valentine corou, mas não respondeu. Villefort aproximou-se de Noirtier.

          — Aqui está o sr. Franz d'Épinay — disse-lhe. — O senhor o convocou e ele submete-se aos seus desejos. Há muito tempo ansiamos por essa entrevista, sem dúvida, e ficarei feliz se ela lhe provar o quanto é infundada sua oposição ao casamento de Valentine.

          Noirtier respondeu apenas com um olhar, que fez um arrepio percorrer as veias de Villefort.

          Ele fez um sinal para que Valentine se aproximasse.

          Num segundo, graças aos recursos que costumava utilizar nas conversas com o avô, ela encontrou a palavra chave.

          Então ela consultou o olhar do paralítico, que se fixou na gaveta de um movelzinho instalado entre as duas janelas.

          Ela abriu a gaveta e encontrou efetivamente uma chave.

          Quando pegou essa chave e o velho confirmou ser de fato a que pedia, os olhos do paralítico dirigiram-se para uma antiga escrivaninha há muitos anos esquecida, que supostamente guardava apenas uma papelada inútil.

          — Devo abrir a escrivaninha? — perguntou Valentine.

          — Sim — fez o velho.

          — Devo abrir as gavetas?

          — Sim.

          — As laterais?

          — Não.

          — A do meio?

          — Sim.

          Valentine abriu e retirou um maço de papéis.

          — É isso que deseja, vovô? — perguntou.

          — Não.

          Ela retirou sucessivamente todos os outros papéis, até que não restasse absolutamente mais nada na gaveta.

          — Mas agora a gaveta está vazia — disse ela.

          Os olhos de Noirtier estavam fixados no dicionário.

          — Sim, vovô, compreendo — disse a moça.

          E repetiu, uma depois da outra, cada letra do alfabeto; no S, Noirtier a interrompeu:

          Ela abriu o dicionário e procurou até a palavra segredo.

          — Ah, existe um segredo? — perguntou Valentine.

          — Sim — fez Noirtier.

          — E quem conhece esse segredo?

          Noirtier olhou para a porta pela qual o criado havia saído.

          — Barrois? — perguntou Valentine.

O Conde de Monte Cristo - Alexandre Dumas (Clássicos Zahar)Where stories live. Discover now