4 - A sorte de Luca

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Narrado por Hector


Depois que saí do quarto de Susana e fui para o meu, deitei-me em minha cama e lá permaneci por um longo tempo, apenas fitando o teto. Eu não sabia o que estava acontecendo com ela, mas algo me dizia que uma bomba estava prestes a explodir.

O dia passou muito demoradamente, ela não saiu do quarto nenhuma vez, nem mesmo para comer, Charlotte levou alguns pães e suco para ela, eu já estava ficando preocupado, mas decidi deixá-la um pouco sozinha, estava claro que ela precisava disso. O baile para comemorar sua chegada era no dia seguinte e eu estava animado, tentaria deixá-la assim também, afinal, seria o dia dela. Fiquei imaginando como ela se vestiria, pensei num vestido longo e vermelho, mas não...

Ela ficaria linda de preto.

Eu não sabia o que estava acontecendo comigo, Susana era meu primeiro e último pensamentos do dia, temia estar realmente apaixonado por ela, temia pois sabia do amor dela por Luca. Eu sei que não seria fácil conquistá-la, mas eu nem mesmo sabia se era realmente isso que eu desejava, a ideia de simplesmente tê-la por perto já me parecia tão agradável. Apenas tinha medo desse tempo que ficaríamos juntos, e se eu acabasse me apaixonando ainda mais por ela? Seria minha ruína ficar louco por aquele Leãozinho e ela voltar para os braços dele, como eu sabia que faria, cedo ou tarde. O problema era que Susana era incrível demais, sua essência exalava à coragem e delicadeza, ela era como um anjo para mim, sentia-me tentado, mas ao mesmo tempo, era como se eu não fosse digno de tê-la.

Então, por volta das 21h- após o jantar-, tomei um banho rápido, vesti um jeans escuro e uma camisa social, olhei-me no espelho enquanto secava meu cabelo desajeitadamente, deixando-o bagunçado, passei um pouco de perfume e respirei fundo. Eu precisava saber o que estava acontecendo com ela. Subi a escada que me levaria ao seu quarto e bati na porta de leve, temendo acordá-la, caso estivesse dormindo.

— Entre... — Sua voz era doce, mas decidida.

Abri a porta e a encontrei penteando seu cabelo. Ela estava sentada de frente a um espelho em sua penteadeira, seus cachos estavam todos jogados de uma maneira sexy sobre um dos ombros, e ela passava os dedos por eles delicadamente. Assim que me viu através do espelho, seus olhos cor de avelã ficaram levemente arregalados, talvez porque estivesse usando uma camisola de seda preta, destacando sua pele clara.

— Oi, Leãozinho. — Consegui dizer depois de alguns segundos de hesitação.

— Achei que fosse Lotte, eu estava esperando por ela...

Aproximei-me e parei atrás de sua cadeira, ela ainda me encarava através do espelho, olhei para suas mãos pousadas sobre seu cabelo e percebi que sua respiração estava levemente ofegante, bem... a minha também estava. Abaixei o olhar e encarei o lado esquerdo de seu pescoço, tão pálido, que eu podia ver as veias finas e azuladas, um vampiro adoraria se perder ali. Assim como eu. Não consegui me controlar, ergui minha mão e toquei seu ombro com as pontas dos dedos, deslizando-os por sua pele macia. Susana fechou os olhos, assim como eu, era só um toque, mas como eu ansiava por aquilo. Mas de repente, ela se levantou e parou à minha frente, encarando-me com aqueles olhos lindos.

— Desculpe... — Acabei pedindo sem pensar.

Fitei-a dos pés a cabeça, a camisola fina modelava todo o seu corpo, que, apesar de magro, era repleto de curvas.

— Hector...

Passei as mãos entre os meus cabelos, respirei fundo e olhei para cima, tentando me conter.

— Você me deixa louco. — Confessei, tombando a cabeça para o lado, a fim de observar seu rosto por um novo ângulo.

— Tenho uma coisa para contar.

Ela caminhou até a cama, sentou e cruzou as mãos sobre o colo. Fui até ela e sentei-me ao seu lado.

— Diga.

— Eu... estou grávida. — Ela revelou, sem rodeios.

Eu já esperava, pela cena que havia visto naquele dia, quando ela estava passando a mão sobre sua barriga, mas confesso que fiquei em choque. Eu não soube bem o que dizer.

— Luca já sabe?

Susana balançou a cabeça negativamente e mordeu o próprio, como se estivesse tentando conter um choro. Num impulso, puxei-a para mim, envolvendo-a em meus braços.

— Eu sei o que está pensando... fui uma idiota...

— Isso é culpa minha, se não fosse por mim, vocês ainda estariam juntos.

Sim, eu estava assumindo minha culpa. Se não fosse por mim, Leãozinho estaria sorrindo naquele momento, e não prestes a chorar.

— Você fez bem em contar, eu não devia ter escondido.

Susana envolveu meu pescoço com as mãos, como se implorasse para ser cuidada, mas não havia malícia ali, notei que ela apenas se sentia segura.

— Sei que você deve estar se sentindo sozinha, mas não está, Su... — Sussurrei, e ergui seu rosto com os dedos indicar e polegar. — Eu estou aqui, vou cuidar de você, está bem?

Abaixei meu rosto um pouco, para beijar sua testa. Juro que não pretendia fazer nada naquela noite além de cuidar dela, eu faria qualquer coisa para ver o sorriso dela de novo. Poderia demorar para que Susana finalmente se esquecesse de Luca, mas eu não me importava de esperar, e mesmo que isso jamais viesse a acontecer, se ele não a quisesse mais, eu cuidaria dela e de seu bebê, ainda que apenas como um amigo. Deitei-me em seu cama e a puxei para mim outra vez. Seu perfume doce era inebriante e fez-me querer beijar cada parte de seu corpo, mas me controlei. Permiti-me lembrar daquela tarde que tivemos. Eu não havia mentido, logo percebera o quão diferente era aquela garota. E agora estávamos ali, tão juntos e ao mesmo tempo tão separados.

— Obrigada, Hector.

Eu apenas beijei sua testa demoradamente e fechei os olhos. Eu não queria que aquilo acabasse, queria poder parar o tempo só para tê-la comigo pelo resto da minha vida. Comecei a acariciar seus cabelos enquanto ouvia sua respiração ficar cada vez mais suave, revelando-me que estava prestes a entrar em um sono profundo. Eu estava louco para vê-la dormir.

— Gosto muito de te ver, Leãozinho, caminhando sob o sol... — Comecei a cantar com a voz baixa, praticamente sussurrando. — Gosto muito de você, Leãozinho... Para desentristecer, Leãozinho, o meu coração tão só, basta eu encontrar você no caminho... — Cessei a canção e respirei fundo, permitindo que sua fragrância invadisse meus sentidos outra vez.

Notei que ela estava dormindo. Então, observei sua mão pousada levemente sobre meu peito, eu gostaria que estivesse em contato com a minha pele, mas infelizmente a camisa impedia que isso acontecesse. Umas mas minhas mãos estava em volta de sua cintura, deixando-a perto de mim, e com a outra, toquei seu rosto de leve, sentindo a maciez de sua pele. Sem deixar de pensar no quão sortudo Luca era por ter sua atenção e seu sentimentos, além de ser o pai do filho que ela esperava, não pude deixar de sentir inveja de sua sorte. Acabei sorrindo, pensando que eu não estaria longe dela, se estivesse em seu lugar naquele momento.

Sim, eu estava disposto a cuidar dela, mesmo correndo o risco de não tê-la para mim no final.




Herdeiros (livro 3)Où les histoires vivent. Découvrez maintenant