Herdeiros (livro 3)

30 - O julgamento

Assim que despertei do sonho de Luca, sentei-me na cama e fitei o vazio. Juliana e as meninas já haviam voltado para o quarto, apenas Hector e Max não estavam. Respirei fundo, e olhando uma única vez para Juliana, minha amiga conseguiu decifrar o que meus olhos transmitiam, ela deixou minha irmã e Lotte a brincarem com Scarlett e veio até mim, envolvendo-me num abraço terno.

— Como ele está? — Sussurrou.

— Estranhamente... conformado.

Ela segurou meu rosto, fazendo-me encarar seus olhos castanhos.

— Daremos um jeito.

— O único jeito seria provando que Lisa é a assassina, e não vejo como podemos fazer isso.

Juliana se sentou na cama com as pernas cruzadas e franziu o cenho.

— Está desistindo?

Assenti levemente e baixei o olhar.

— Vou depor... amanhã, à favor dele, mas... como sou a única testemunha, não sei se dará certo.

— Então, é isso? Vai mesmo deixar a história de vocês acabar assim? Meu Deus, Susana! Lembre-se de tudo que passaram, como pode desistir tão facilmente, agora?

— Facilmente... — Repeti o que ela disse com ironia, enquanto observava minha irmã.

— Sabe o que eu quis dizer...

Olhei em seus olhos e peguei suas mãos.

— Tudo ficará bem. — Tentei confortá-la, lembrando-me das palavras de Luca.

— Como sabe?

— Eu confio em Luca e sei que, aconteça o que acontecer, ele sempre estará comigo e com nosso filho.

Juliana estava com os olhos repletos de lágrimas e as deixou cair sem impedir. Ela secou o rosto com as mãos e encarou-me com carinho.

— Eu tive algumas visões nessa semana... — Comentou com a voz embargada.

— Ah, você e suas visões do passado...

— Sim, você estava abraçando ele enquanto aquele seu amigo... bem, enquanto ele arrancava as asas de Luca. Não foi minha imaginação... isso realmente aconteceu, não é?

— Sim, aconteceu.

Toquei minha nuca e permiti-me lembrar desse dia, que havia acontecido há muitos anos, em minha outra vida. Juliana realmente possuía um dom maravilhoso. Lembrei-me de sentir os braços de Luca ao meu redor como se eu fosse seu porto-seguro em meio à dor, como se eu fosse a única coisa que o estava mantendo de pé.

Para aliviar nossas mentes de tudo o que estava acontecendo, começamos a conversar sobre os pais dela, que estavam mais unidos do que nunca agora que a filha deles voltara, fiquei feliz por saber disso, Juliana os amava demais e teria sido péssimo se eles houvessem se separado por conta do seu "desaparecimento".

— Isso é ótimo mesmo.

— Sim, parece que as coisas acontecem quando devem acontecer, quer dizer, os dois viviam brigando, então... a minha suposta fuga aproximou-os mais... Estou tão feliz com isso.

— Aposto que sim. — Comentei, sorrindo.

Então, Lotte veio até mim.

— Su, estou com sono, vou dormir, tá?

— Não quer dormir aqui, com a gente?

Subitamente, seus olhos dourados se iluminaram.

— Sério?