22 - Planos escondidos

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Narrado por Luca


Max foi embora logo depois de Enrique. Eu permaneci algum tempo na rua depois de me despedir do meu amigo. Apenas observava o céu, estava completamente escuro, sem lua ou estrelas. Quando voltei para casa, subi a escada que me levaria até o meu quarto, a porta estava aberta, então eu apenas entrei. Susana ainda dormia. Respirei fundo e sentei-me ao seu lado, acariciei sua bochecha rosada e beijei sua testa suavemente. Em seguida, deitei-me ao seu lado.

— Por quanto tempo você ainda dormirá? — Pus minha mão sobre sua barriga e sorri. — Sua mãe é uma garota muito forte, filho. Tenho orgulho dela, e tenho certeza de que você também terá.

A primeira coisa que eu havia percebido assim que acordara do pesadelo de Devon, eram as madeixas de Susana, que estavam com um tom de ruivo mais vivo. Enrolei um de seus cachos no dedo e aproximei-me mais dela, de modo que seu corpo ficasse protegido pelo meu. Beijei sua testa outra vez e abracei-a. Fiquei ao seu lado durante horas, apenas observando-a dormir, velando seu sono, depois decidi tomar um banho. Voltei para o quarto e deitei ao lado de Susana outra vez, até que de repente, pensei que não seria nada bom se ela dormisse por muito tempo, afinal, ela precisava se alimentar adequadamente. Porém, para o meu desespero, várias horas se passaram, e ela permanecia desacordada. Já era quase noite, e nada.

Sentado na beirada da cama, eu observava sua respiração suave, desejando que ela recobrasse logo sua consciência. Enrique e Ana haviam me ligado algumas vezes, e eu acabei por deixá-los preocupados, mas não pude mentir. Por volta das 19h, resolvi pedir comida pronta, caso ela acordasse. Eu estava na sala, deitado no sofá, esperando, até que um perfume maravilhoso invadiu meus sentidos, virei-me e a vi. Ela vestira uma camiseta preta minha, e estava com os pés descalços. Seus cabelos? Mais selvagens do que nunca, e eu gostava.

Ah, como gostava.

Eu queria ir até Susana e abraçá-la, dizer-lhe que agora estava tudo bem e o quanto estava feliz em vê-la acordada, mas a imagem que estava preenchendo minha visão me fez ficar estagnado. Ela estava parada na soleira da porta, entre o corredor e a sala, e encarava-me com um sorriso tímido nos lábios, seus braços a rodeavam, revelando que sentia frio, e seu olhar apenas sustentava o meu. Decidi que aquela era a visão que eu gostaria de ter todos os dias durante toda a minha vida. Susana bocejou e foi até mim, encostando sua cabeça em meu peito, então, eu a envolvi completamente em meus braços.

— O que você está aprontando? — Indagou ela, rindo em seguida.

— Estou esperando sua comida... Como se sente?

Susana se espreguiçou, fazendo minha camiseta subir em seu corpo... Foi impossível não sustentar meu olhar ali. Então, ela pegou meu queixo e ergueu-o, fazendo-me encará-la.

— Que foi? — Sorri, como se não tivesse feito nada.

Minha noiva balançou a cabeça negativamente como quem diz "O que eu faço com você?".

— Estou cansada... mas feliz. Finalmente nos livramos dele.

Fitei seus olhos por um instante.

— Está muito cansada?

— Sim... por quê?

Segurei sua cintura com as duas mãos, e empurrei-a até um dos balcões que havia no cômodo. Seu olhar novamente sustentava o meu.

— Porque... — Abaixei meu rosto para beijar seu pescoço. — Se não estivesse tão cansada, poderíamos comemorar.

— Sabe, não estou mais tão cansada... — Ela disse rapidamente, fazendo-me sorrir.

Então, eu a peguei no colo e coloquei-a em cima do balcão. Sua língua percorreu seus lábios enquanto ela me observava. Seus olhos brilhavam tanto. Toquei sua clavícula com o polegar e subi até seu queixo. Tirei a camiseta que estava vestindo e beijei suavemente seus ombros, seu pescoço...

— Eu realmente quero você agora... — Sussurrei em seu ouvido.

Sua respiração estava acelerada, e ela mordia o lábio inferior.

— Eu também... — Murmurou.

— Mas tempos um problema.

Afastei-me e observei sua expressão, ela franziu a s sobrancelhas ligeiramente. Eu apenas beijei sua testa.

— Você precisa comer.

Você também. — Ela maliciou a frase e sorriu, arqueando uma das sobrancelhas logo em seguida.

Eu passei uma das mãos pelo rosto e dei uma risada curta.

— Ah, Susana... quando foi que eu te deixei assim?

Suspirando, ela desceu do balcão e beijou-me intensamente nos lábios. Sentamo-nos para comer assim que nosso jantar chegou. Depois de jantarmos, ela disse que precisava tomar um banho, e que ordenava a minha presença no mesmo. E eu obedeci, claro. Ficamos um longo tempo debaixo da água, apenas abraçados. Eu massageava suas costas e beijava seu pescoço. Houve um momento em que ela ergueu os olhos para mim e permaneceu algum tempo fixando-os nos meus, eu não sabia o porquê daquilo, mas não pude desviar o olhar, não quando as íris que encaravam eram as mais sublimes que eu já vira em toda a minha vida. Depois do banho, fomos para o quarto, e ao contrário do que realmente queria, vesti-me rapidamente. Havia coisas importantes que eu precisava organizar a partir do dia seguinte, e Susana não devia estar totalmente recuperada, era bom que repousasse. Não foi difícil fazê-la dormir, depois de falar por vários minutos seguidos, ela finalmente se cansou e adormeceu.

Na manhã seguinte, eu a observava tomar o café da manhã com grande apetite -algo normal, na verdade.

— Tenho umas coisas para resolver hoje. — Confessei.

— Hum... que coisas? — Ela indagou enquanto mordia uma maçã.

Fui para trás dela e beijei seu pescoço.

— Nada muito importante, só que estarei ocupado por alguns dias, então nos veremos pouco.

Ela se virou para mim e encarou-me com uma das sobrancelhas erguidas. Depois, enrolou um de seus cachos no dedo.

— Se não é importante, não vejo necessidade disso.

Eu revirei os olhos.

— Implicante. — Provoquei-a. — Vou levá-la para casa e... você decide se devemos contar ao seu pai o que houve, afinal, era para voltarmos na próxima semana.

Susana cobriu o rosto com as mãos.

— Ah, meu pai... — Murmurou, e então me encarou. — Ele não pode saber, caso contrário você não me veria nunca mais.

— Não.

— Sim, eu conheço meu pai.

— Ah, é? — Eu abaixei meu rosto para falar ao seu ouvido. — Você só está se esquecendo de um detalhe.

— E qual é?

— Eu posso invadir seus sonhos. — Sussurrei.

Ela fechou os olhos e respirou fundo, afastando-se logo em seguida.

— Se vai me levar para casa, é melhor fazer isso logo.

Foi quase impossível não sorrir. Pegamos sua mala dela e saímos de casa. Por sorte, Max havia deixado o carro conosco, então dava para enganar bem o Sr. Albuquerque, apesar de eu saber que de idiota, ele não tinha absolutamente nada. Durante todo o trajeto, Susana falou e falou, eu não pude compreender nem sequer metade do que ela disse, mas ouvir sua voz era um dos meus passatempos preferidos, então não me importei. Ela estava empolgada, em parte por termos derrotado Devon, e em parte, por estar ansiosa para saber o que é que eu estava preparando, pois estava claro que não havia acreditado no meu papo de que não era nada importante. Eu gostava de despertar a curiosidade nela, gostava de saber que eu era o motivo de sua inquietude, e eu sabia que ela ficaria extremamente feliz quando finalmente descobrisse o que eu estava maquinando em minha mente.



Herdeiros (livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora