17 - A fuga

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Já passava das duas da manhã, e eu ainda não havia conseguido dormir. Saí da cama com cuidado para não acordar Luca e fui até a cozinha, a fim beber alguma coisa, optei apenas por um copo de água. Recostei em um armário e fiquei balançando o copo, observando o movimento da água, passei a mão pela testa e mordi o lábio a fim de conter o choro. Eu não podia acreditar que Luca estava sendo caçado. Afinal, quem teria cometido aqueles crimes para culpá-lo? Devon não poderia ser, já que não era capaz de ficar no mundo material, então, a única alternativa que encontrei foi a de que ele provavelmente estava possuindo mais alguém para se vingar. Respirei fundo e então ouvi passos, assim que olhei para o lado, pude ver os olhos de Hector fitarem-me com preocupação.

— Vai ficar tudo bem, Su.

— Não, não vai. — Balancei a cabeça negativamente, e finalmente comecei a chorar.

Céus, como eu odiava parecer fraca!

— Ei...

Hector se aproximou e fez menção de que iria me abraçar, mas eu me afastei, sequei os olhos com as costas das mãos, e encarei-o.

— O que eu disse naquele bilhete foi a mais pura verdade, Hector... Eu adoro você, mas por favor... não estrague tudo.

Ele assentiu.

— Eu rondei a casa por um tempo e não encontrei nada.

Franzi o cenho, pela primeira vez pensando em uma coisa.

— Como sabia que estávamos aqui?

— Procurei seu irmão, ele me disse que tinham viajado para cá.

Um calafrio percorreu minha espinha. Nem eu, nem Enrique, nem ninguém sabia para onde Luca me levaria, nossa viagem tinha sido um segredo dele o tempo todo.

— Enrique não sabia para onde tínhamos vindo. Ninguém sabia.

Hector arqueou levemente as sobrancelhas e aproximou-se mais de mim, pegando minhas mãos. Soltei-as imediatamente.

— Luca deve ter contado a Enrique, Su...

— Su? — Encarei-o. — Sabe, tenho a impressão de que você não me chamou de "Leãozinho" nenhuma vez até agora... Isso é bem estranho.

Caminhei de costas até um balcão no qual eu sabia que havias talheres limpos sobre, pus minhas mãos para trás enquanto ele caminhava em minha direção.

— Sente falta desse apelido? — Questionou-me com o corpo próximo ao meu, então inspirou próximo ao meu pescoço. — Adoro seu perfume.

Adora? Acho que não.

Eu sorri ironicamente e apanhei uma faca atrás de mim. E assim cravei a lâmina em seu peito, fazendo-o urrar de dor. O demônio cambaleou para trás, com o corpo arcado para frente, então começou a rir como um louco. Deixei-o gemendo de dor enquanto corria até o quarto o mais rápido que consegui.

— Luca! Acorde!

Luca acordou num salto e foi até mim, segurando meus braços com delicadeza, tentando me acalmar.

— O que aconteceu?

— Hector, ele...

— Hector? Ele está aqui? — Notei o tom de desprezo em sua voz.

— Não, não é ele realmente...

Luca me soltou e saiu porta a fora, à procura do impostor, decidi permanecer no quarto caso o mesmo desejasse entrar pela janela e nos surpreender. Meu coração estava acelerado. E se fosse mesmo Hector? E se eu o tivesse ferido injustamente? Temi pelo pior. É claro que uma simples faca não poderia matar um demônio -eu acreditava nisso, pelo menos-, mas se aquele homem fosse realmente Hector, eu o teria ferido de qualquer forma. O problema era que eu não sabia se desejava que fosse Hector, pois assim Luca e eu não estávamos submetidos a nenhum perigo, ou se preferia que fosse algum inimigo para não ter machucado Hector por puro engano. Então, Luca voltou ao quarto.

Herdeiros (livro 3)Where stories live. Discover now