28 - Dúvidas e medos

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Senti braços fortes me envolverem, mas eu ainda gritava.

— Su, calma... — Hector era quem tentava me tirar dali.

— Susana... — Meu pai murmurou uma última vez antes de começar a se tornar um pó azulado, exatamente como havia acontecido com Juliana.

Ele desapareceu completamente em poucos segundos, mas a figura dele com uma adaga cravada em seu peito, não. A imagem de seus olhos aflitos, encarando-me, implorando por ajuda, permaneceu viva em minha mente. E só de pensar que Heloíse havia presenciado o que havia acontecido, tornava tudo ainda pior de suportar. Hector me envolveu novamente em seus braços.

— Shhh...

— Eu cheguei tarde demais... — Murmurei, entre soluços.

— Talvez não tão tarde. — Sussurrou ele, fixando seus olhos em minha irmã, que havia permanecido agarrada à Scarlett.

Soltei-me de Hector e fui até ela, abraçando-a.

— Meu amor, eu sinto muito... Mas vai ficar tudo bem, eu estou aqui e não vou deixar que nada a machuque.

Heloíse se aninhou ao meu peito e chorou baixinho por algum tempo. Hector apenas nos observou, mantendo uma certa distância. Quando minha irmã parou de chorar, afastou-se um pouco e encarou-me.

— Foi ela, Su... — Disse com a voz embargada.

— Ela quem, Ise?

— A namorada do papai...

O quê?

— Como era a namorada do papai?

— Loira... e tinha olhos verdes.

Foi então que tudo se encaixou. Carine, a namorada do meu pai, era Lisa. Por essa razão, nunca havíamos sido apresentadas, ela nunca viajara até São Paulo, era sempre meu pai quem ia até ela, por isso não havia fotos... Encarei Hector, seu olhar denunciou que ele pensava o mesmo que eu. Contive mais um choro, amaldiçoando-me por ter sido tão estúpida. Eu deveria ter percebido que havia algo errado. Abracei minha irmã outra vez, agradecendo mentalmente à minha mãe por ter me avisado há tempo suficiente pelo menos para salvar Heloíse.

— Quando procurei por você, Max me avisou que havia voltado para casa... — Hector comentou. — Sinto muito, Susana.

Beijei a testa da minha irmã e a deixei na cama com Scarlett. Fui até Hector e peguei sua mão.

— Obrigada, Hector... E me desculpe pelo que eu disse, não acredito que tenha sido você.

Ele assentiu.

— Na verdade, eu... — Interrompeu-se, de repente.

— Sim?

O demônio balançou a cabeça negativamente, como se tivesse decidido não me contar o que quer que estivesse em sua mente.

— Eu preciso voltar para... você sabe. — Talvez ele não tenha dito "Inferno" pelo fato de Heloíse estar no quarto.

— Eu também, mas não posso levar ela para lá... — Cochichei, observando minha irmã abraçar Scarlett. — Hector, nem mesmo sei se eu irei, Heloíse precisa de mim, o que aconteceu aqui, o que ela viu... foi demais para ela, eu mesma não estou...

Cobri o rosto com as mãos e respirei fundo.

— Mas... sua irmã pode voltar a qualquer momento.

Mordi o lábio inferior com força, reprimindo a raiva que eu estava sentindo. E pensei que havia algo errado.

— Não é estranho? Carine, quer dizer... Lisa está com o papai há alguns meses... Ela poderia ter vindo atrás de mim muito antes.

Herdeiros (livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora