32 - Dor que devasta

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Quando despertei, levei alguns segundos para abrir os olhos completamente, então, sentei-me e apertei minhas têmporas com os dedos, minha cabeça latejava. Logo senti braços ao redor de mim, e um perfume agradável adentrar em minhas narinas.

— Enrique? O que está fazendo aqui? — Indaguei.

— Pensei que a tinha perdido... — Ele sussurrou, ignorando minha pergunta.

Retribuí seu abraço. Depois, ele me segurou pelos ombros, analisando-me. Seus olhos verdes checaram cada parte do meu rosto com muita preocupação.

— Enrique...

— Você está bem?

Segurei alguns dos meus cachos entre os dedos e os cheirei.

— Tirando o fato de estar cheirando à fuma... Meu Deus, Max!

Olhei ao redor e vi que Max não estava lá. Observei pela janela e notei que já era noite. Não acreditei que eu havia dormido por tanto tempo. Levantei-me para sair do quarto em busca de Max, mas meu irmão segurou meu antebraço com delicadeza, impedindo-me.

— Calma, ele está bem... — Assegurou-me. — Ele criou um portal... vocês saíram de lá. Na verdade, foi ele quem me trouxe para cá.

Observei seu rosto, seu semblante demonstrava tristeza.

— E minha irmã? Lotte e Juliana?

Enrique me puxou pela mão, para que eu me sentasse.

— Os guardas estão procurando por elas, mas parece que não a encontram em lugar algum do castelo... Também pudera, esse lugar é enorme. — Comentou, percorrendo os olhos por cada detalhe do meu quarto.

Foi então que pensei em algo e mordi o lábio, sem saber se deveria ou não lhe questionar.

— Você... você falou com o nosso pai?

— Sim. — Respondeu-me, sem emoção aparente. — Somos filhos de Lúcifer, Susana... Dá para acreditar nisso?

— Às vezes, acho que tudo isso é apenas um sonho.

— Finalmente acordou, Ruivinha. — Ouvi a voz de Max atrás de nós.

Levantei-me da cama e fui até ele, que parecia exausto, porém, com certeza havia tomado banho, já que não cheirava à fumaça como eu.

— E então, encontraram elas?

Max balançou a cabeça negativamente, frustrado.

— Lisa é muito sagaz, armou tudo isso durante o julgamento, pois sabia que todos estariam lá... Mas está claro que ela não fez isso tudo sozinha. — Comentou, extremamente pensativo.

Mas eu não havia prestado atenção, minha mente parou de trabalhar no momento em que o demônio pronunciou a palavra "julgamento".

— O julgamento... — Murmurei, somente, pois não conseguia encontrar forças para continuar.

O amigo de Luca baixou o olhar, como se não soubesse o que dizer.

— Su... — Sussurrou, hesitante.

— Max... o que aconteceu? — Exigi uma resposta, mas minha voz soou mais fraca e trêmula do que eu pretendia.

Ele fixou seus olhos cinzentos nos meus.

— Luca está...

Eu o encarei, atônita. Abri e fechei a boca, sem saber o que dizer. Talvez simplesmente não houvesse algo a ser dito. Hesitei por mais algum tempo, antes de finalmente processar aquela informação.

— Entendo...

Enrique veio até mim e abraçou-me outra vez. Enterrei meu rosto em seu peito, mas era como se eu não estivesse realmente ali. O peso em meu coração era o que preenchia minha mente naquele momento. Nem sequer uma lágrima escorreu pelo meu rosto, elas apenas permaneceram intactas em meus olhos. Afastei-me calmamente do meu irmão.

— Quero ficar um pouco sozinha. — Falei num tom de voz baixo, mas ambos não me deram ouvidos, apenas continuaram ali, parados. — Por favor.

Eles se entreolharam, e dando-me um beijo na testa, Enrique seguiu Max para fora do quarto, e fechou a porta. Andei com os pés descalços até minha penteadeira, e minhas mãos caíram com um baque sobre a mesma, derrubando algumas coisas. Observei meu reflexo no espelho e as lágrimas vieram, junto à dor. Uma dor devastadora. Violenta. Fitei minha cama e resolvi me deitar um pouco, porém, tropecei, acabei por cair, e assim permaneci, sentada sobre o chão frio. Eu estava sozinha, Lisa poderia surgir e acabar comigo a qualquer momento, mas não me importei. Eu estava indiferente. A esperança de vencer aquilo tudo já não existia mais em mim.

Luca...

Toquei meu lábio e fechei os olhos, imaginando ser o toque dele ali, deixei-me levar pelas lembranças. Clamei por sua voz em minha mente, seu sorriso... cada parte dele invadiu meus pensamentos nesse instante. Mesmo relutante, abri os olhos e encarei o vaso com as flores deixadas por Lotte e lembrei-me do campo de lírios, que eu nunca mais teria a chance de ver. Eu me levantei com dificuldade e fiquei de frente para o espelho novamente. Eu via o fracasso ali, não havia mais nada que pudesse ser feito, havia? Fechei os olhos por um momento, sorrindo ironicamente, sem deixar de pensar em tudo que havíamos passado. Tudo absolutamente em vão. Então, fitei novamente minha imagem no espelho, ergui a camiseta e pousei minhas mãos sobre meu ventre. Enfim, encontrei ali um dos motivos para eu não desistir.

— A sua morte não será em vão. — Consegui dizer em meio aos soluços. — Eu destruirei Lisa e o vingarei... E nosso filho crescerá sabendo o que você fez por nós.

Caminhei até a janela, e encarei o manto escuro acima de mim. Havia algumas poucas estrelas, e duas em particular, chamaram minha atenção. Eu não acreditava que o tempo pudesse dissipar a dor da perda, ou o abismo devastador que havia se formado em meu peito, contudo, consegui esboçar um sorriso fraco, ao fitar aqueles dois pontos de luz, pois foi como se eu visse os olhos dele ali.

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Renascidos, podem me chamar de malvada, fria etc. Eu aceito, hahaha... Espero que vocês não desistam da história por conta desse pequeno e trágico acontecimento. Ainda tem muita coisa por vir e estamos em reta final. Apesar de ser má, eu adoro vocês. ♥♥

Herdeiros (livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora