18. memória

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Quando Hopkins entrou na saleta, foi assaltado pelo cheiro forte de papel envelhecido, uísque e couro.

O pequeno escritório, assim como o restante do apartamento, era um refúgio de pergaminhos e livros que saltavam das estantes num caos organizado. Atrás da escrivaninha de mogno trabalhado, um quadro branco, daqueles de escola, possuía fotografias antigas coladas com fita adesiva, nomes rabiscados, lugares anotados e linhas vermelhas ligando todas as informações num esquema digno de um filme de ação.

— Hopkins — Clark chamou, apontando para a mesa. — Dê uma olhada nisto.

Era um diário de encadernação escura e fechadura enferrujada. As páginas grossas e amareladas ostentavam uma caligrafia fina, feita à pena e com diversas rasuras. Clark respirava com dificuldade e tinha no rosto o olhar curioso de sempre.

Querido amigo S. — ela leu, puxando o diário para si. — Não se volte contra mim. Saiba que o tenho em alta conta, porém preciso que o senhor fique onde está, por mais que me dilacere sabê-lo tão distante. Envio um belíssimo presente para que se lembre da primeira vez em que nos vimos e onde construímos estes ternos laços...

Silêncio. Clark ergueu os olhos verdes e Hopkins sentiu medo.

— Isto não pode ser verdade. Catarina escrevia muito, mas todos os diários dela cessaram na adolescência. Isto é um rascunho de carta para o amante, o rei da Polônia. Olhe a data, Hopkins! 1764, o ano em que ele subiu ao trono.

Clark caminhou com o diário nas mãos, sorrindo como uma maníaca. Hopkins adorava quando ela ficava daquele jeito.

— Isto é uma pista. Para que se lembre da primeira vez... Catarina e Stanislau se conheceram em São Petersburgo! O colar, Hopkins.

Ela afastou os pergaminhos da escrivaninha e lá estava o colar falso, brilhando contra a luz amarelada.

— O colar nos leva a algum lugar. Só precisamos descobrir onde.

Hopkins olhou para o quadro e pegou a falsa joia de cima da mesa. O nome "Catarina" estava circulado com fúria no quadro. Ele girou o colar contra a luz, observando o vidro e o engaste com atenção. O engaste. Hopkins afastou os outros pergaminhos com a mão e, debaixo dos protestos furiosos de Clark, derramou um vidro de tinta preta no engaste do colar.

E lá estava. A tinta empoçou num pequeno baixo-relevo, formando uma pequena mensagem no metal prateado. Ela sorriu para ele.

— São coordenadas, princesa — Hopkins disse, sorrindo de volta. — Finalmente estamos chegando a algum lugar.

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