39. enigma

1.3K 320 45
                                    

Hopkins aceitou, tão logo viu Clark sumir pelo salão, que estava acabado.

Iria morrer sozinho, abandonado novamente por aquela mulher. Bela maneira de morrer, Hopkins. Irritado, chutou a viga mais uma vez. Nem um milímetro se moveu. Ele grunhiu, desistindo e aceitando o que o destino colocara em seu prato. O fogo e a fumaça lambiam as paredes e as outras vigas de sustentação do palacete não pareciam firmes o suficiente para aguentar por muito mais tempo. Hopkins fechou os olhos por um momento, esperando pelo o que viria a seguir.

Foi exatamente quando ela reapareceu, segurando um pedaço de ferro.

— Hopkins! Saia... daí! — Clark gritou, enfiando uma barra de metal entre a viga caída e o chão, criando uma espécie de alavanca.

De alguma forma, ele estava livre. Tão logo Hopkins rastejou para longe da viga que o prendia, Clark soltou a barra, encerrando o movimento de alavanca com um estrondo. Ele ofegou quando ela o ajudou a se levantar. A perna presa ardia, e Hopkins grunhiu um palavrão quando percebeu que não conseguiria apoiá-la no chão. Ótimo.

— Onde você estava?! — retrucou ele, tossindo e apoiando-se nos ombros de Clark, que sorriu com o canto dos lábios. — Pensei que fosse me esfaquear pelas costas outra vez.

— Com medo de ficar sozinho?— provocou ela, carregando-o por uma porta apodrecida. — Depois discutimos isso, meu bem.

Quando o ar puro atingiu os pulmões de Hopkins, ele fechou os olhos e sentou-se num banco de pedra quebrado. Eespirando com força pela boca, pediu:

— Sem mais palacetes do século XVIII. Pelo amor de Deus.

— Fechado — concordou ela, apoiando-se nos joelhos.

---

Na cabana, Spankin' sentou-se na mesinha de centro, virando o notebook para Clark e Hopkins. Ele grunhiu quando a garota se sentou, afastando para o lado sua perna machucada que descansava numa almofada na mesinha.

— Certo, temos informações bem interessantes. — Spankin' sorriu e apertou uma tecla no computador. A foto de Holt apareceu na tela. — O cara é filho de um casal de arqueólogos suecos e foi criado na Rússia. Temos o motivo para a fixação nos Romanov. Históricos escolares exemplares, muito rico e muito... temperamental.

— Mas não se pode negar que ele é... interessante — comentou Clark como quem não quer nada. Spankin' riu e Hopkins franziu o cenho. — O quê?

— O cara quase arrancou o seu olho e colocou fogo em você. Qual é o seu problema? Pelo amor de Deus.

— Não tenho culpa se gosto de um pouco de brutalidade de vez em quando.

— Ei, foco aqui — Spankin' retomou antes que Hopkins abrisse a boca. — O palacete foi construído no início do século XVIII, e foi a residência desse cara, tendo vários donos depois. — O retrato de um homem de bigode e cabelos negros apareceu, usando farda militar. — Grigoriy Victorovich Simonov.

— Um instante, querida. — Clark riu, erguendo uma das mãos. — Grisha Simonov? O médico louco?

— O próprio. Grisha era conhecido por fazer experiências não muito... ortodoxas, como implantar ancinhos na cabeça de camponeses e ubres nos seios de prostitutas — Spankin' explicou a Hopkins, que franziu o cenho. — Mas o que interessa é que Grisha era louco por enigmas. Tudo na vida dele era guiado por enigmas. Cofres, passagens secretas e fechaduras esquisitas eram a menina dos olhos dele. E logo que Pedro, O Grande, assumiu o trono em 1721, reza a lenda que ele construiu um cofre, o Cofre dos Romanov, para preservar a riqueza da dinastia. E adivinhem quem foi o responsável pelos enigmas?

— Nosso amigo Grisha — Hopkins respondeu num tom azedo.

— Exato. Ninguém, além de Pedro e Grisha, sabia a localização exata do suposto Cofre dos Romanov. Analisei alguns documentos online, e nenhum dos monarcas russos menciona o Cofre, exceto...

— Catarina, a Grande. — Clark completou com um sorriso animado. — Mas isso é uma lenda. É como a Atlantis russa ou algo do gênero. Acreditar nisso significaria aceitar que em algum lugar da Rússia existe um tesouro guardado há quase trezentos anos. — Ela fez uma pequena pausa. — Existiram, entre Pedro e nossa Catarina, seis monarcas. Vocês realmente acham que...

— E onde Catarina entra nessa história? — interrompeu Hopkins, remexendo a perna machucada. — Quer dizer, ela deu o colar ao amante. O colar falso com as coordenadas até a casa do médico maluco. Onde ela encontrou esse colar? E por que uma porra de colar falso teria coordenadas?

— Para despistar. — Spankin' deu de ombros e Clark concordou com um aceno de cabeça. — Se o colar caísse em mãos erradas que soubessem como decifrá-lo, levaria à casa do médico, e não ao Cofre. Já o colar verdadeiro... esse levaria ao lugar certo. Vocês estão com ele aí?

Os dois ficaram em silêncio. Hopkins fez uma careta.

— Holt está com ele.

— Então vocês querem me dizer que o cara malvado tem o colar verdadeiro, as coordenadas certas e... todo o resto? — Spankin' franziu o cenho. — E nós temos...?

— Nós temos, meus caros, minha preocupação com o futuro. — Clark sorriu e puxou um pedaço de papel amassado da mochila. — Achei que esse tipo de coisa pudesse acontecer, então marquei as coordenadas nessa página. Só precisamos descobrir qual o próximo passo.

Spankin' sorriu, segurando o papel.

— Você é demais, Liz.

A garota se levantou, digitando furiosamente no computador. Clark sorriu para Hopkins, que fechou a cara.

— Admito que um obrigado por salvar o dia e meu rabo, querida cairia bem agora, Liam...

Ele riu. Ela era inacreditável.

Parceiros? | ✓Where stories live. Discover now