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Vivo constantemente dividido em me matar ou matar todos à minha volta.
Essas parecem ser as duas opções. Tudo o mais é só pra matar o tempo.

Neste momento, estou atravessando a cozinha em direção à porta dos fundos.

  — Toma o café da manhã.

Não tomo café da manhã, não tomo café da manhã desde que pude sair pela porta dos fundos sem tomar café da manhã antes.

  — Aonde você vai?

À escola, mãe. Você devia experimentar um dia.

— Não deixe o cabelo cair no seu rosto assim, não consigo ver seus olhos.

Mas veja, mãe, é justamente essa a porra do propósito.

Eu me sinto mal por ela — sinto, sim. É uma pena, mesmo, que eu tenha que ter mãe. Não deve ser fácil ter um filho como eu. Nada pode preparar uma pessoa pra esse tipo de decepção.

— Tchau, mãe.

Não digo "bom-dia". Acredito que essa seja uma das expressões mais imbecis já inventadas. Afinal, você não tem a opção de dizer "mau-dia" ou "horríveldia" ou "não-sou-a-mínima-pro-seu-dia". Todas as manhãs, espera-se que seja o início de um bom dia. Bem, eu não acredito nisso. Acredito contra isso.

— Tenha um bom d...

A porta meio que se fecha no meio da frase, mas não que eu não possa adivinhar como termina. Ela costumava dizer "até mais tarde!" até que numa manhã eu estava tão cansado daquilo que disse a ela: "não, até nunca."
Ela tenta, e é isso que torna tudo tão patético. Eu só queria dizer: "sinto muito por você, sinto mesmo." mas isso pode dar início a uma conversa, e uma conversa pode dar início a uma briga, e então eu me sentiria tão culpado que talvez tivesse que me mudar ou algo assim.
Preciso de café.

Toda manhã, rezo pra que o ônibus escolar bata, e que todos morramos nos destroços pegando fogo. Então minha mãe vai poder processar a empresa que fabrica ônibus escolares e conseguir mais dinheiro com minha trágica morte do que eu jamais conseguiria ganhar em minha trágica vida.

₩₩

Sooyeong não está exatamente à minha espera antes da escola, mas eu sei, e ela sabe, que vou procurar por ela onde estiver. Em geral recorremos a isso para que possamos dar algumas risadas ou algo assim antes de irmos embora. É como aquelas que se tornam amigas na prisão, embora nunca fossem nem mesmo se falar se não estivessem ali. É assim que eu e Sooyeong somos, acho.

— Me dá um gole de café. — Peço.

— Compra uma porra de um café pra você.

Então ela me entrega o cocôccino XXG do dunkin donuts e tomo tudo de um gole só. Se pudesse pagar meu próprio café, juro que compraria, mas a maneira como vejo a coisa é: a bexiga dela não está pensando que sou um babaca, mesmo que o restante dos órgãos esteja.

É assim comigo e Sooyeong, desde que me lembro, o que dá mais ou menos um ano. Acho que a conheço há um pouco mais de tempo que isso, mas talvez não. Em algum momento do ano passado, a melancolia dela encontrou minha desgraça, e Sooyeong achou que a combinação era boa. Não tenho tanta certeza assim, mas, pelo menos me rende um café.

Jungkook e Namjoon estão se aproximando agora, o que é bom, porque isso vai me poupar algum tempo no almoço.

— Me dá seu dever de casa de matemática. — Digo quando eles se aproximam totalmente.

— Claro. Aqui. — Namjoon me entrega.

Que amigo.

O primeiro sinal toca. Como todos os sinais em nossa excelente instituição de ensino inferior, o sinal é um longo bipe, como se você estivesse prestes a deixar uma mensagem de voz dizendo que está tendo o dia mais escroto do mundo e ninguém jamais vai ouvi-la.

don't hug me ♠ yoonseokWhere stories live. Discover now