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Enquanto andamos até o Itaewon, Hoseok me conta tudo sobre Hobi Dancer e como ele batalhou para escrever, atuar, dirigir, produzir, coreografar, desenhar o figurino, projetar a iluminação, o cenário e buscar patrocínio. Ele parece fora de si e como estou me esforçando para sair de mim também, tento segui-lo. Como era no caso com Sooyeong (porra de bruxa anta vadia mussolini al-qaeda darth vader não entidade), eu não preciso dizer nada, o que pra mim está bom.

Quando chegamos ao parque, Hoseok segue em linha reta para a vitrine com um espelho sob o qual você pode andar e ver sua imagem distorcida.

Em geral, é difícil a princípio localizar-se no reflexo, mas dessa vez sei que sou o graveto ondulante de pé perto da imensa bolha de humanidade. Hoseok dá uma risadinha enquanto se vê dessa forma. Uma genuína risada hi-hi-hi. Odeio quando as garotas fazem essa babaquice, porque é sempre tão falso. Mas com Hoseok não é falso, nem um pouco. É como se a vida estivesse lhe fazendo cócegas.

Depois de Hoseok tentar uma pose de bailarina, de batedor de baseball, de vou-incendiar-a-pista-de-dança e de noviça-rebelde no reflexo do espelho, ele me leva a um banco que dá pra lake shore drive. Penso que ele vá estar todo suado porque, porém, vamos combinar, Hoseok é fabuloso demais pra suar.

— Então, conte seus problemas pro Hoseok.

Não consigo responder, porque da maneira como ele fala, é como se você pudesse substituir a palavra "Hoseok" pela palavra "mamãe" e a frase ainda soaria a mesma.

— O Hoseok pode falar normalmente?

— Sim, ele pode. Mas não é nem de perto tão divertido quando ele fala assim. — Engrossa a voz.

— É que você soa tão gay.

— Hum... tem um motivo pra isso?

— Sim, mas... não sei. Não gosto de gente gay. — Gesticulo.

— Mas certamente você deve gostar de si mesmo?

Puta que o pariu, quero ser do planeta desse garoto. Ele está falando sério? Olho pra ele e vejo que, sim, está.

— Por que eu deveria gostar de mim? Ninguém mais gosta.

— Eu gosto. — Fico chocado.

— Você não me conhece.

— Mas quero conhecer.

É tudo tão idiota, porque de repente eu estou gritando.

— Cale a boca! Só cale a boca! — Digo alto.

E ele parece tão magoado que eu tenho de dizer.

— Não, ah, não é você, ok? Você é legal. Eu não sou. Eu não sou legal, entendeu? Pare com isso!

Porque agora ele não parece magoado; parece triste. Triste por mim. Ele me vê. Cristo.

— Isso é tão idiota. — Digo e ele não fala nada.

É como se ele soubesse que, se me tocar, eu provavelmente vou me descontrolar e começar a bater nele e começar a chorar e nunca mais vou querer vê-lo. Assim, em vez disso, ele simplesmente fica ali sentado enquanto eu apoio a cabeça entre as mãos, como se estivesse literalmente querendo pôr a cabeça no lugar. E a questão é que ele não precisa me tocar, porque quando alguém como Jung Hoseok está perto de você, você tem consciência disso. Tudo que ele precisa fazer é ficar, e você sabe que ele está ali.

— Merda merda merda merda merda merda merda. — Saudades de sua voz.

E aqui está a coisa doentia, deturpada: parte de mim acha que eu mereço isso. Que talvez, se eu não fosse tão babaca, Taehyung teria sido real. Se eu não fosse uma pessoa tão imperfeita, alguma coisa certa poderia me acontecer. Não é justo, porque eu não pedi que meu pai fosse embora, e não pedi pra ser deprimido, e não pedi que não tivéssemos dinheiro, e não pedi pra querer trepar com garotos, e não pedi pra ser tão idiota, e não pedi pra não ter amigos de verdade, e não pedi pra que metade da merda que sai da minha boca saísse da minha boca. Tudo que eu queria era uma porra de uma folga, uma droga de uma coisa boa, e obviamente era demais pedir isso, era demais querer isso.

don't hug me ♠ yoonseokWhere stories live. Discover now