Tudo começa quando chego em casa, vindo de Seoul. Já tenho 27 mensagens de Hoseok em meu celular. E ele tem 27 minhas. Isso consumiu a maior parte da viagem de trem. No restante do tempo, eu calculava o que precisava fazer no momento em que passasse pela porta. Porque, se a inexistência de Taehyung vai pesar sobre mim, preciso me livrar de algumas outras coisas a fim de não desabar direto no chão. Eu já estou pouco me fodendo. Isto é, não que eu pensasse que dava a mínima antes. Mas aquilo era um pouco-me-fodendo amador. Agora é a liberdade do tipo pouco-me-fodendo.
Mamãe está à minha espera na cozinha, bebericando um chá, folheando uma daquelas revistas idiotas em que celebridades ricas exibem suas casas. Ela levanta os olhos quando entro.
— Como foi em Seoul?
— Olhe, mãe, eu sou totalmente gay, e agradeceria se você pudesse deixar de lado o surto agora, porque, sim, temos o resto de nossas vidas pra lidar com isso, porém quanto mais cedo atravessarmos a parte da agonia, melhor.
— A parte da agonia?
— Você sabe, você rezando pela minha alma, me xingando por não te dar netinhos com uma esposa e dizendo o quanto está decepcionada.
— Você acha mesmo que eu faria isso?
— É seu direito, acho. Mas se quiser pular essa etapa, está bom pra mim.
— Acho que quero pular essa etapa.
— Mesmo?
— Mesmo.
— Uau. Quero dizer, isso é legal.
— Você me dá pelo menos um ou dois segundos pra ficar surpresa?
— Claro. Afinal, essa não devia ser a resposta que você esperava quando me perguntou como foi em Seoul.
— Acho que é seguro dizer que não era a resposta que eu estava esperando.
Estou olhando o rosto dela para ver se está reprimindo tudo, mas parece que é isso mesmo. O que é espetacular, levando-se toda a situação em consideração.
— Você vai me dizer que sempre soube?
— Não. Mas eu andava me perguntando quem era Taehyung.
Ah, merda.
— Taehyung? Você também estava me espionando?
— Não. É só que...
— O quê?
— Você dizia o nome dele dormindo. Eu não estava espiando. Mas dava pra ouvir.
— Uau.
— Não fique bravo.
— Como eu poderia ficar bravo?
Sei que essa é uma pergunta boba. Já provei que posso ficar bravo com muitas coisas. Uma vez acordei no meio da noite e jurei que minha mãe havia instalado um alarme de fumaça no teto enquanto eu dormia. Então irrompi no quarto dela e comecei a gritar como ela podia pôr uma coisa no meu quarto sem me dizer nada, e ela acordou e com toda a calma disse que o alarme contra fumaça ficava no corredor, e eu a arrastei pra fora da cama pra mostrar, e naturalmente não havia nada no teto do meu quarto — eu só havia sonhado. E ela não gritou comigo nem nada assim. Apenas me disse que voltasse a dormir. E o dia seguinte foi péssimo pra ela, mas nem uma só vez minha mãe disse que tinha relação com o fato de eu tê-la acordado no meio da noite.
— Você viu Taehyung em Seoul?
Como explicar isso a ela? Quero dizer, se disser que fui até a cidade pra ir a uma sex shop encontrar um cara que no final não existia, os ganhos da noite de pôquer das próximas semanas vão ser gastos numa consulta com o Dr. Keebler. Mas, quando está atenta, ela sabe quando estou mentindo. Não quero mentir neste momento. assim, distorço a verdade.
— Sim, vi. O real nome dele é Hoseok. Na verdade, sabe, ele é muito legal.
Aqui estamos em território mãe-filho completamente desconhecido. Não só nesta casa — talvez em toda a Coréia.
— Não fique preocupada. fomos só até o Itaewon e conversamos um pouco. Alguns amigos dele estavam lá também. Não vou ficar grávido.
— Bem, isso é um alívio. — Ela ri.
Ela se levanta da mesa da cozinha e, antes que eu me dê conta, está me dando um abraço. E, por um momento, não sei o que fazer com meus braços, e então digo a mim mesmo: seu idiota, abrace ela também. Então faço isso, e espero que ela comece a chorar, porque um de nós dois deveria estar chorando. No entanto, ela tem os olhos secos quando se afasta de mim — um pouco turvos, talvez, mas eu já a vi quando as coisas não vão bem, quando tudo está totalmente uma merda, e assim sei o suficiente pra reconhecer que essa não é uma dessas ocasiões. Estamos bem.
— Sooyeong ligou algumas vezes. Parecia aborrecida.
— Bem, ela que vá pro inferno.
— Yoongi!
— Desculpe. Não era minha intenção dizer isso em voz alta.
— Mas o que aconteceu?
— Não quero entrar em detalhes. Só vou te dizer que ela me magoou muito, muito mesmo, e preciso que isso pare por aqui. Se ela ligar pra cá, quero que você diga a ela que nunca mais quero falar com ela. Não diga que não estou em casa. Não minta quando eu estiver no quarto. Diga a ela a verdade, que acabou e que nunca mais estará desacabado. Por favor.
Seja porque concorda ou porque sabe que não tem sentido discordar quando estou assim, mamãe faz que sim com a cabeça. Tenho uma mãe muito inteligente, no fim das contas.
Já é hora de ela ir — achei que isso fosse acontecer depois do abraço —, mas, como ainda está por ali, tomo a iniciativa.
— Vou pra cama. Vejo você amanhã.
— Yoon...
— Sério, foi um dia muito longo. Obrigado por ser tão, você sabe, compreensiva. Te devo uma. Uma das grandes.
— Não se trata de dever nada...
— Eu sei. Mas você sabe o que quero dizer.
Não quero sair enquanto não estiver claro que está tudo bem em eu sair. Afinal, isso é o mínimo que posso fazer.
Ela se inclina e beija a minha testa.
— Boa noite, filho.
— Boa noite.
E tão vou pro meu quarto, ligo o computador e crio um novo nome de usuário.
sweetyoon: hoseok?
blowhobi: aqui!
sweetyoon: você está pronto?
blowhobi: pra quê?
sweetyoon: pro futuro.
sweetyoon: porque acho que ele acaba de começar.
***
gente... depois de 4 meses
rs
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don't hug me ♠ yoonseok
RomanceEm uma noite fria, em uma imprevisível esquina de Seul, Min Yoongi encontra... Min Yoongi. Os dois adolescentes dividem o mesmo nome. E, aparentemente, apenas isso os une. Um Yoongi é amigo do mais expansivo gay de sua escola. O outro precisa explic...