Arabela

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         Bebericou mais um pouco do capuccino que há pouco comprara. Era fim de tarde e as ruas francesas encontravam-se molhadas após uma garoa fina. Algumas nuves no céu pintavam a paisagem, acompanhadas de belas arquiteturas e paralelepípedos ao chão de uma avenida não muito movimentada. As flores suspensas nas paredes coloriam o cenário, e eram muitas, ela as amava. Flores de todos os tipos, de todas as cores e formas. Ela gostava de pensar que também era uma flor. Diferente das demais, mas uma flor. 
          Suas mãos estavam quentes e ela, por completo, nervosa. Encolheu-se, colocou a mão entre as coxas cobertas pela meia calça escura. Puxou a saia, ajeitou o cabelo. Ainda não se acostumou com o novo estilo de vida. Seus olhos coçavam e o vento bagunçava alguns cachos, tudo parecia lhe incomodar. Definitivamente nervosa. 
          Os minutos se passavam lentamente, pela quinquagésima vez ela estava pensando em desistir. Ele estava atrasado. Poderia ser um sinal, uma chance para voltar atrás dessa escolha. Pensou. Não. Em algum lugar dentro de si, percebia, ela gostava. Não só de estar lá, mas dele. Era fixo.
          Permaneceu sentada fitando todos que chegavam. As outras garotas pareciam tão calmas, acostumadas, ou conformadas, quem sabe. Poucos pedestres notavam o movimento diferenciado, mas ali dentro, era como um clube secreto. Todos conversavam com olhares, discretos, aceitavam uns aos outros. Umas às outras. Aceitavam aquela forma de ver o mundo, de levá-lo ou enfrentá-lo. Aquilo pouco deveria parecer-se com o amor, mas as francesas sempre tão sutis, faziam aquilo parecer, mesmo que por algumas horas, o verdadeiro amor. 
          Minutos aqueles tão valiosos. Colocou-se a pensar sobre si, sobre a profissão. Ou hobbie. Ela não sabia. E o pior, não poderia tirar essa dúvida com quase ninguém. Mais alguns encontros e ela deveria enturmar-se com as outras moças do café. Eram sempre as mesmas. Tão normais, imperceptíveis. Roupas e cabelos comuns, risos doces e maçãs do rosto sempre coradas. Ela sempre se questionava, como elas faziam, se seriam melhores ou diferenciadas. Quanto será que cobravam... Ela precisava do dinheiro, e convencia a si mesma: "Ele não é má companhia, e eu, sou boa em acompanhá-lo". Um pouco mais velho, figura importante, gentil. Mas de que isso importa?! Era, e sempre será secreto. 
          Enquanto observava belas violetas, ela percebe que ele se aproxima. Tão elegante. Vira o rosto, sorri. 
          "Desculpe o atraso. Vamos, Arabela?". Partiu com ele por algumas horas. E alguns euros.

Crônicas que deram errado e a vida como ela éOnde as histórias ganham vida. Descobre agora