Conselho que não dá conselho

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Tiago estava sentado de lado apoiado com o cotovelo no braço da cadeira e olhando distraído um ponto enquanto passava o indicador pelos lábios. Estava tão bonito...

Apesar da pose relaxada, ele parecia cansado, até perdido em meio àquela falação, por vezes olhava para um e outro e em seu semblante irritado e seu olhar de desprezo mostrava claramente o quanto achava seus conselheiros inúteis.

Para corroborar esse meu pensamento ele soltou um suspiro exasperado e todos se calaram. Sua voz saiu fria e irritada.

— Quando decidi mudar as leis, os príncipes sombrios Nicolae e Rael, o supremo alfa Laican e meu general André me alertaram sobre os problemas que essas mudanças acarretariam em meu reinado.

Na época não os ouvi, porque tudo o que eu queria naquele dia e minha única urgência era expurgar o legado de crueldade que meu pai me deixou.

Alguns murmurinhos de defesa ao rei Júlio começou na mesa e Tiago levantou a mão olhando de modo ameaçador para todos.

— Calem-se! Vocês falaram demais, agora irão me ouvir.

O silêncio de todos parecia até um pressagio, confesso que até eu respirei pelo nariz só para ficar em silêncio para não atrapalhar o que Tiago ia dizer. Ele continuou a falar ainda de semblante fechado.

— Como rei desse reino eu tenho que aprender a resolver os problemas internos sem pedir ajuda aos aliados todas as vezes que acontecer uma merda.

Tiago soltou um suspiro cansado e até senti tristeza por ele, realmente ele parecia desanimado, quase derrotado.

— Mas não está sendo fácil. Há merdas demais e soluções de menos. Quero ideias e não reclamações o tempo todo, quem vai me dar isso? Quem será o primeiro a finalmente me trazer alguma solução?

Os olhos escuros de Tiago varreram o conselho, encarou por um momento cada um à mesa, seus olhos passaram pela grade que me escondia e eu quase levantei a mão pedindo voz para expor não uma, mas várias ideias.

Uma voz fanha ao lado do rei chamou a atenção dele e a minha também.

— Majestade?

Senti a presença de meu pai ao meu lado, apertei os olhos em sua direção e ele sussurrou.

— Não vou participar hoje, Tiago está cansado dessa corja e quer por o lixo para fora.

Meu coração disparou, não sei por que, mas senti medo, uma atitude dessas do rei era o mesmo que sortear nomes para adicionar a lista de inimigos poderosos.

Abri a boca para perguntar mais sobre isso, porém o homem do conselho limpou a garganta parecendo nervoso e voltei minha atenção para a reunião.

— Esse é Pedro da casa Machado, conselheiro responsável pelas armas e estrutura. — Meu pai falou baixo e assenti esperando curiosa, o que ele dizer, mas ele parecia titubear, não era algo que Tiago ia gostar de ouvir, o tipo que o homem o olhava dizia isso.

Não consegui confiar naquele jeito dele, era servil demais, mas os olhos, não sei, eram esquisitos.

Ele remexeu alguns papéis um pouco apressado, logo ele começou olhando atento à folha.

— Majestade, houve um aumento de furtos na casta três, a casta neutra.

Tiago assentiu sem nada dizer, não parecia ser uma novidade para ele aquela noticia, o homem continuou.

—Também há rumores de uma confabulação na casta mais alta. — Ele olhou receoso para Tiago. — Estão planejando algo grande.

Isso também não pareceu surpreender o rei que olhou novamente para os homens sentados a mesa e perguntou. — E o que vocês me sugerem?

Tratado dos Párias- O rei rebelde. ( Degustação)Where stories live. Discover now