Sem tato com o coração

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E então Marcos, o que me diz?

Ele riu e me encarou com o olhar morno. — Então você ama o rei?

Fiz um bico envergonhado. — Bom... Não é para você sair gritando por aí, ninguém sabe. — Levantei a mão e fiz um gesto sem importância. — E é só um amor sem esperanças... Ele é o rei, precisa casar com alguém de uma casta equivalente. Por isso nada de comentar isso com alguém, sou filha de um escravo e de uma mulher que para todos os efeitos foi parar em prostíbulo, então é um sentimento só meu.

Ele franziu o cenho. — Então porque me contou?

Estalei a boca já desconfortável com a pergunta. — Para que você acredite em mim quando digo que ele não irá retaliar vocês oras!

Marcos apertou os olhos. — Sei... Foi só por isso então?

Levantei os ombros decretando que não diria mais nada sobre isso e ele entendendo meu silêncio, sorriu e cruzou os braços ficando sério.

— Tudo bem, se não quer falar mais nada, vou respeitar isso. Agora me diga uma coisa, se realmente viesse morar aqui, onde acha que dormiria? Não temos nenhum abrigo preparado sem ser essa caverna.

— Bem, não vou me mudar hoje. E claro que também não vou dormir ao relento, vou construir uma casa aqui. — Ele sorriu amplamente e isso me deixou mais empolgada, abri os braços girando o corpo. — Na verdade uma grande casa.

Marcos riu ainda mais e balançou a cabeça. — Já te falaram o quanto é tola?

Ri alegre e concordei com entusiasmo. — Só ouço isso o tempo todo e já te falaram o quanto é cético?

Ele levantou as sobrancelhas. — Muitas vezes, só que eu vou pela lógica. Primeiro: acha que seu pai vai permitir uma coisa dessas? Segundo: onde arrumará dinheiro para isso? E... Terceiro: acha que vai dar conta de morar em um lugar desses?

— Não me preocupo com meu pai, aliás, me preocupo... Um pouco, mas tenho um obstáculo maior a enfrentar que é Tiago. Quanto ao dinheiro... Vou conseguir, de um jeito ou de outro e quanto a aguentar, estou é empolgada com as possibilidades.

— Vai roubar?

Torci a boca e levantei as sobrancelhas. — Não sabe o quanto consigo ser persuasiva, nem preciso roubar, só preciso falar. Sou uma mendiga nata, você não tem ideia.

Ele assentiu e sorriu. — Muito bem, se conseguir dinheiro eu ajudo na construção de seu palácio, dona rainha mendiga.

Ele fez uma vênia dramática, era uma piada pelo que eu tinha contado e balancei a cabeça, assustada.

— Não diga isso nem por brincadeira, não é porque disse que amo Tiago que você começará com isso.

— Me ama?

Abri os olhos como pratos para Marcos e ele retribuiu da mesma forma, claro que ele reconheceu, ele trabalhou no castelo e com certeza havia ouvido muitas vezes aquela voz.

— Amélia?

Fechei os olhos. Como ele sabia onde eu estava? Aliás, porque ele veio atrás de mim? Me virei devagar já pensando em uma desculpa deslavada para o que ele ouviu, nem tive tempo de falar nada, quase tive um surto. Suas roupas velhas estavam cheias de buracos, usava botas diferentes e seu rosto...

— Pelos antigos, Tiago, como você ficou assim? — Ri sem conseguir me segurar. — Está horrível!

Ele cruzou os braços sem paciência e me encarou com uma enorme carranca.

Tratado dos Párias- O rei rebelde. ( Degustação)Where stories live. Discover now