Conserto destrutivo

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Um mês... Quem diria que eu ia conseguir. Nunca antes tinha passado pela minha cabeça que veria isso, não na situação que o reino estava, mas ali estava a primeira escola futura do reino Humanis.

Daniel meu amigo rebelde tinha me dado esperanças sobre a mudança de comportamento, principalmente nos mais jovens, esses ainda não estavam moldados com a corrupção, ainda eram passivos de bondade se fossem ensinados, por isso eu acreditava que conseguiria mudar pelo menos o preconceito infantil pré-concebidos pela vivência com os adultos corruptos e arraigados em suas crendices e costumes.

E realmente o local era ótimo para uma escola, e muito maior do que uma casa simples, sem contar que o espaço poderia ser usado para outros futuros projetos que poderiam beneficiar algumas famílias. André me olhava com tanto orgulho que meus olhos arderam de emoção mais uma vez por ele estar comigo depois de tanto tempo separados. Ele se aproximou e colocou a mão em meu ombro.

— Parabéns Amélia, quem diria que daria certo em tão pouco tempo.

— Obrigada pai, devo a você boa parte disso, também agradeço pelo que fez a Daniel, sei que por conta dele quase todas as vagas foram preenchidas e nem todos possuíam o perfil que você tinha em mente, mas tenho certeza que ele saberá fazer os seus prosperarem, eles o respeitam e isso já será mais efetivo do que somente a força do braço.

Ele assentiu e me sorriu ternamente. — O pai supremo tinha razão filha, você tem bons olhos para encontrar bondade nos corações mais escuros.

Neguei com a cabeça. — Daniel é novo, por isso esqueceu qualquer diferença que veio a aprender em seus curtos anos, a crueldade do reino não o moldou, e é por causa dele que eu acho que as crianças são realmente o que devemos focar, não acontecerá rapidamente claro, temos que pensar no futuro.

André suspirou e olhou para uma estrada poeirenta que segundo fiquei sabendo, levava a outro bairro parecido com o da Procriação.

— Nem todos os adultos estão corrompidos, filha. O filho de Uzias é um desses. Seu nome é Marcos e estou tentando há dias tirá-lo da vida miserável em que vive, ele merece mais do que isso, o pai dele morreu na batalha sombria, morreu com um alto posto de soldado, por isso ele tem direitos.

Ele parou de falar e o olhei de canto. — Mas...?

— Mas ele não é muito receptivo, me deu um soco como resposta na última vez que tentei conversar com ele.

Isso me fez rir e falei em tom brincalhão para tirar daquele olhar a preocupação pelo rapaz.

— Que bom que você tem superpoderes, não é mesmo? Pode relevar quantos socos quiser e continuar tentando.

Ele me deu um peteleco na testa. — Engraçadinha hein menina, mas eu sinto dor, sabia?

Eu ri ainda mais e fiquei contente pelo peteleco, não que eu quisesse apanhar, longe de mim sentir dor atoa, mas o ato descontraído me fez ver que nossa relação estava se estreitando por conta da convivência e ele estava muito mais solto, e parando de recear que eu o condenasse pelo passado.

André era um homem que sabia se martirizar por seus erros, não precisava de sua filha o ajudando com isso.

Enganchei no seu braço e continuei rindo enquanto o acompanhava até o cavalo que pela simplicidade das traias imaginei que ele tentaria mais uma vez conversar com o violento rapaz Marcos.

Assim que me despedi com um aceno de mão, me virei para voltar ao templo e olhei em volta me dando conta do aumento de observadores.

Crianças de todo tipo e idades olhavam de longe, curiosas, com medo e muitos deles até com ódio. Nesse momento agradeci por ter soldados encarregados de minha segurança.

Tratado dos Párias- O rei rebelde. ( Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora