Sentimento maduro

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André

A pequena vila sombria já podia ser vista ao longe, mantive o ritmo do meu cavalo. Estava sendo vigiado, eu sentia isso, porém era a assim que os humanos eram recebidos no reino dos sombrios e nenhum acordo de paz os faria mudar seus costumes.

Mesmo que por ordem de Tiago para que as portas do reino humano fossem abertas amigavelmente às outras raças, Rael não mudou as regras antigas e funcionais. Toda e qualquer visita teria que passar por um rigoroso questionário e o visitante teria que aceitar ser escoltado por um sombrio até a família que pretendia visitar.

E como sempre, não eram permitidos novos moradores, somente se esses fossem parentes dos que já moravam ali. Por fim, nada tinha mudado, ainda eram seletivos os sombrios no que dizia respeito aos humanos e eles tinham razão para isso visto o caos que estava no reino Humanis.

Não me pararam porque já me conheciam. Senti a saudade me encher o peito com as boas lembranças do tempo que passei entre eles.

Aqui entrei anos atrás como um escravo enfurecido deixando a família exilada no limite sombrio, aqui eu voltei há poucos meses como um escravo fugido e justamente daqui... Saí como um general de guerra.

Uma ascensão e tanto para mim que sempre imaginei que morreria como um servo nas mãos do tirano rei Júlio.

A floresta antes tão devastada pela sangrenta batalha de meses atrás, agora começava a se renovar devagar. A clareira continuava aparente como se fosse uma ferida no meio da floresta, ainda se via de longe a grande quantidade de árvores quebradas pela fúria dos leviatãs e força dos lobos e sombrios. Porém, agora os brotos se projetavam dos tocos ainda enraizados no solo. O mato dominava o vão largo. Ainda não parecia em nada com a antiga floresta sombria, mas também não se podia dizer que ali há poucos meses, quatro raças haviam travado luta.

As casinhas da pequena vila estavam reformadas. Telhas de barro mais claras destoavam das antigas mais escuras, mostrando, como se fosse uma cicatriz recente, o local exato onde houve os estragos. As paredes caiadas recentemente também mostravam isso.

Assim como em todos nós que lutamos nessa batalha, a floresta e a vila tinham suas cicatrizes à mostra, porém nada mais que isso, a calmaria ainda dominava e o mistério continuava encantando esse reino o deixando como se fosse quase etéreo, quase perfeito.

Nicolae já havia sentido meu cheiro e corria em minha direção na estradinha. Era veloz e logo chegaria. Desci do cavalo e fui ao seu encontro, seus olhos de um azul marcante fixos em mim não me contava nada sobre seu humor, na verdade esse príncipe nunca demonstrava o que estava sentindo, menos ainda o que estava pensando, sempre o achei muito misterioso.

O cumprimentou foi braço com braço. Ele só fazia isso quando respeitava alguém e sempre me sentia orgulhoso por isso, pois apesar de tudo o que eu fiz a sua companheira no passado, ele me tratava com respeito e como amigo, era por isso e por tantos outros motivos que respeitava e admirava não só ele, mas os três príncipes sombrios.

Ele não sorriu, mas assentiu educado. — Folgo em saber que chegou bem, André.

— Folgo em saber que está bem, Nicolae.

— André?

Sorri ao ouvir a voz querida e familiar, que ainda fazia doer o remorso em meu coração. Diana vinha correndo em minha direção, nem tive tempo de falar nada e ela pulou em meu pescoço, a segurei por reflexo.

— Opa! Cuidado menina.

Ela riu. — Vovô assassino, eu sinto sua falta. — Logo ela olhou atrás de mim e procurou por todo lado. — Amélia não veio?

Tratado dos Párias- O rei rebelde. ( Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora