C A P Í T U L O 13

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Sexta-feira. Sete e quarenta da noite. Dois dias sem nenhum contato com a Ellen. A não ser que dois telefonemas de três minutos ontem e hoje na hora do almoço e uma mensagem ontem antes de dormir contem. A verdade é que desde a conversa sobre contracepção, o clima entre a gente ficou estranho.

Na manhã de quinta, depois que eu acordei, apenas lhe dei um beijo casto nos lábios e nem mesmo a esperei acordar antes de sair e ir pra casa me arrumar para o trabalho. Passei a manhã toda com o pensamento longe e apenas quando era quase uma da tarde e ela me ligou, foi que eu consegui relaxar um pouco. A tarde não foi muito diferente. Fiquei disperso e tive que pedir para os meus pacientes relatarem pelo menos duas vezes a mesma coisa para que eu conseguisse entender. Fiquei um pouco tranquilo, porém desapontado no fim da noite de ontem quando ela me mandou uma mensagem: Tive um bom dia, mas estou cansada agora. Durma bem.

Tive uma noite péssima com sonhos péssimos e uma sensação de frio me incomodando a ponto de me fazer acordar umas duas vezes. Resultado? É claro que o dia de hoje foi um porre. Fui grosso e hostil com metade das pessoas que eu vi e com a outra metade fui apenas cretino. Meu humor só veio melhorar quando a Ellen me ligou perto do meio-dia para me convidar pra um show. O One Republic está na cidade e ela comprou ingressos para a pista. O curioso é que ontem depois da sua mensagem antes de dormir, eu procurei algo pra poder fazer com ela hoje e vi o anúncio do show. Reservei um camarote exclusivo só para nós dois porque achei que seria, talvez, uma boa oportunidade para deixar pra lá o clima pesado e voltarmos a nossa historinha feliz. Ela me disse quando me ligou que pensou exatamente nisso quando os comprou e eu resolvi não comentar sobre o camarote. Se ela quer ficar no meio das pessoas, eu posso fazer isso por ela. Mas termos a mesma ideia mostra que, apesar da distância física, nossas mentes estão conectadas.

Agora estou aqui em frente a sua porta e nervoso como se fosse a primeira vez que eu vou vê-la ou como se eu tivesse quinze anos e saindo para o meu primeiro encontro. Caralho. Não era para eu estar desse jeito. Eu não deveria ficar assim por não vê-la por apenas algumas horas. Nem é tanto tempo, só foram 48 horas. Ok, isso é mentira. É muito tempo. A quem eu estou querendo enganar? Respiro fundo pela milésima vez e arrumo, mesmo sem ver, alguns fios do meu cabelo antes de finalmente bater na porta. Alguns segundos e escuto os passos pelo lado de dentro. A visão dela tira o meu fôlego quando ela abre para mim. Seus cabelos antes compridos estão cortados em estilo chanel com duas pontas bem grandes na frente. Uma calça de couro preta tão justa, que se eu estivesse usando com certeza eu não teria filhos nunca. Algumas correntes penduradas, um cinto cromado e botas com saltos mortais formam a parte de baixo do visual. Uma blusa sem mangas com uma grande caveira e uma gargantilha de crucifixo formam a parte de cima. Sua maquiagem não é tão forte, mas bem mais acentuada do que eu já vi. Se é que alguma vez eu já a vi usar maquiagem. Mas a beleza maior está no seu sorriso cheio de dentes que ela me dá quando entro.

— E então? — ela faz uma mão chifrada e bota a língua para fora entre os dedos — Como eu estou?

Muitas palavras que tentam descrever o que eu estou vendo na minha frente invadem a minha mente, mas tudo o que eu consigo articular é — Perfeita. Você está perfeita.

— Você também não está nada mal. Na verdade você está... muito gostoso.

— E quando eu não estou? — resolvo entrar logo em um clima descontraído.

— Nunca. — ela ri.

O que é bem verdade. Eu estou usando um jeans preto surrado, camiseta branca, jaqueta de couro marrom e coturnos pretos. Minha barba está maior do que normalmente deixo e o meu cabelo está perfeitamente penteado para trás. Sim! Eu sei que estou muito bem aos olhos dela. Sua resposta positiva vem com o lamber de lábios que ela dá ao me examinar com um pouco mais de atenção.

Reviver (SR #1)Where stories live. Discover now