Conforto

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– Bella vai adorar você. – ele falou.

Estava um silêncio bom desde que saímos daquele orfanato idiota. Ninguém falava nada dentro do avião, e era bom assim.

– Bella?

– Minha filha.

– Não me disse que tinha uma filha. – acusei, mas fiquei feliz de ter companhia.

– Eu acho que esqueci. – ele falou. – Ela não vive mais comigo, de qualquer jeito.

Engoli em seco, assentindo.

– Ela está casada. – ele continuou. – Você vai adorar a filha dela.

Sorri. Eu realmente precisava de algumas amigas. Não sabia quando veria as minhas novamente. E se as veria novamente.

– Vem, vamos entrar. – ele falou, pegando minhas malas e entrando primeiro.

A casa era linda. Ficava em um lugar chamado Forks. Era frio e chuvoso. E eu tinha zero problema com isso. Calor: pessoas suadas, você cansa muito, fica com preguiça. Frio: você coloca roupas estilosas, sempre está cheiroso, pois não transpira em excesso.

– Sue. – ele chamou assim que entramos. Meu coração acelerou, e de repente fiquei com medo. Tentei afastar de mim, mas foi impossível. – Chegou a nossa nova moradora!

Ouvi algum talher sendo despejada na pia, e logo uma mulher de aparência muito gentil apareceu na sala. Sua pele era morena e seus cabelos longos e pretos.

– Olá, querida. – ela falou e veio me abraçar. – Sou Sue.

– Lavine. – falei, retribuindo o abraço, meio atrapalhada.

– Bem vinda ao seu novo lar. – exclamou, com um sorriso simpático no rosto. Eu não tive como não retribuir.

– Vou te levar para o seu quarto. – Charlie falou, e seguiu pelo corredor. A casa era razoavelmente grande, até para onde ela ficava. Quando estávamos a caminho, eu via tantas casinhas pequenas, que era uma surpresa o tamanho desta.

– Eu tenho meu próprio quarto? – perguntei animada.

Minha família – meus pais, minha irmã e eu – sempre viveu em uma pequena casa. Uma pequena cozinha, sala, um banheiro, e dois quartos. Um beliche para minha irmã e eu, por não haver espaço suficiente para duas camas. Nunca tivemos condições de comprar uma moradia melhor.

– Sim. Era, na verdade, de Leah. – ele esclareceu, deixando a dúvida plantada na minha cabeça.

– Quem é Leah? – perguntei, curiosa.

– É filha da Sue. – explicou. – Ela está em um intercâmbio, e abriu mão do quarto dela para você.

Assenti, agradecida.

– E tem o Seth também. – meu coração acelerou ao ouvir que eu moraria com um garoto.

Nunca me relacionei com nenhum antes. Só esperava que ele fosse de boa índole.

– Ele é um ótimo garoto. Você vai gostar dele.

Fiquei aliviada ao ouvir essas últimas informação.

– Pelo menos você não vai dormir no chão. – ele falou, e riu sozinho. Eu apenas dei um sorriso forçado, para não o deixar no vácuo.

Balancei a cabeça, assentindo. Não me importava muito. Só de sair daquele orfanato, eu poderia forrar o chão e dormir com gosto na sala mesmo.

– Fique à vontade. – Charlie finalizou. – Seth chegará logo da escola. Pode mexer no computador dele enquanto isso. – sugeriu. – Ele não vai se importar.

– Eu acho que eu prefiro ler. – falei. E eu preferia mesmo. Ler era uma ótima companhia desde sempre na minha vida.

-Fiquei de comprar um computador para os seus estudos, mas Seth ainda está escolhendo um modelo bom.

-Não se incomode com isso. – murmurei, sem jeito.

Ele assentiu e me deixou sozinha.

Dei uma olhada no quarto. Era lindo. Pintado de um lilás claro. A perfeição da pintura denunciava que havia sido recente. Tinha um guarda-roupa grande, e fiquei feliz de ter aonde colocar minhas roupas em ordem. Uma cômoda pequena, sobre ela uma televisão adequada para quarto. Também percebi uma sapateira, e fiquei muito feliz ao que eles pensaram bastante no meu conforto. Ao lado da cama, uma escrivaninha com um abajur e alguns enfeites.

Bem, o quarto era muito lindo.

Peguei uma muda de roupa e fui tomar um banho. Uma regata branca, meu moletom cinza e a calça moletom para completar. Em casa, obviamente optei por meia e pantufas.

Fui para a cozinha. Estava faminta.

Sue e Charlie estavam lá, terminando de comer. Inspirei o ar. Hmmm, tinha peixe frito. Minha barriga roncou ao que tinha uma das minhas comidas favoritas feita.

– A comida ainda está quente, querida. – Sue falou assim que cheguei dentro do cômodo. – Depois, se quiser, te faço chocolate quente.

– Quero sim, obrigada. – aceitei e fui para o fogão. Geralmente, eu recusava apenas para ser educada, mas aqui era a minha nova casa, e eu precisava me acostumar a dizer sim para algumas coisas.

– Aproveite enquanto pode. – Charlie me chamou a atenção. – Ela não mima os filhos dela desse jeito.

– Me considero sortuda. – falei e eles riram. Era fácil eu fazer alguém de bom humor rir.

Eu tinha uma colega da escola que se chamava Mendy. Qualquer coisa que eu falava, ela ria. E era explicito que ela não forçava. E eu adorava isso nela. Era minha vizinha antes de tudo acontecer, mas ela se mudou.

– Espero que goste de peixe. – Sue falou, e eu percebi que estava em meus devaneios, que nem percebi que estava parada.

– Eu gosto sim. – falei envergonhada, pela minha parada súbita. Coloquei arroz, peixe, e um pedaço de coxa de frango. E tinha salada! Eu não via como esse dia ser mais perfeito!

Terminei e fui me sentar com eles. Nós comemos em silêncio. De vez em quando, Sue parecia ficar pensativa, como se pensasse se perguntava ou não. Agora o que, eu não sei. Será que ela queria saber mais sobre a minha vida, diretamente de mim? Eu esperava que ela fizesse isso quando estivéssemos sozinhas, pois não gosto nada de chorar. E esse assunto definitivamente me faria chorar.

Tudo bem. Eu gostaria muito de me abrir com a Sue para que ela me conhecesse melhor, mas esse assunto ainda era extremamente delicado para mim.

Quando a minha mãe morreu, pensei seriamente em me matar. Eu não via mais razão para permanecer viva. Quando ouvi que minha mãe morrera, eu desejei que Deus tivesse me levado junto. O médico falou que era a bebê ou ela. Claro que minha mãe escolheria a filha. Mas isso foi tão doloroso. Pelo menos eu fiquei com uma parte dela. Não que isso a substituísse, mas ainda assim era o meu pedacinho sagrado.

Eu me dediquei ao máximo para a minha pequena irmã. Para que? Para quando fizesse cinco anos, sermos mandadas para dois orfanatos diferentes, órfãs? Eu também entrei em depressão. Foi a coisa mais dolorosa – depois que meus pais morreram – ter que me separar da única família que me restava.

Mas acho que, com essa adoção que eu sofri, posso achar um outro sentido para a vida. 

Você é meu destino (Quileutes - pós Saga Crepúsculo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora