Capítulo 2 - Chances da vida

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Brenda Walker

Quinta-feira

O cheiro do café quente adentrava as minhas narinas, com certeza, em um dia de frio, era a minha maneira preferida de ser acordada para ir ao colégio. A xícara que havia ganhado de meus avós toda florida — a minha preferida — estava sobre a pequena cômoda que ficava ao lado da minha cama.

            Sentei-me e desfrutei do delicioso gosto de café quente misturado com achocolatado e leite. Não tinha pressa de levantar, mesmo porque, acordava bons minutos antes, apenas para ficar mais alguns minutos deitada.

            O café era o meu ponto de energia para começar um dia bem e quente. Era o empurrão que eu precisava todas as manhãs para levantar da cama e enfrentar mais um dia de pessoas me olhando pelos corredores e ruas.

            Gostava de usar uniforme. Isso costuma ser estranho, porque a maioria dos adolescentes da minha idade preferiam utilizar suas próprias roupas, principalmente se algumas delas fossem de marcas. Mas eu gostava do termo "igual". Gostava da igualdade que aqueles uniformes deixavam amostras, apesar de saber que ninguém lá dentro era igual e que não estavam nem perto disso.

            Comi três pequenas torradas com requeijão, as minhas prediletas. A caçula ainda insistia em encher a barriga de cereais cheios de açúcar, mas essa era só uma questão de tempo.

            Nós não estudávamos em colégios iguais, e isso de certo modo me deixava feliz. Não queria ser responsável por leva-la ou trazê-la, e era por isso que uma van fora contratada por pais para levar seus filhos à escola.

            Retirei o casaco do meu corpo, a fim de colocar o colete para a primeira aula do dia que era educação física. Uma das coisas que mais me incomodavam naquele colégio, era que essas aulas sempre eram no primeiro sinal, ou seja, apesar de tomarmos banho quando a coisa ficava feia, o restante do dia parecia desconfortável.

            Adentrei a quadra com vários olhares voltados para mim. Essa era a única aula do dia que precisávamos fazer com outras turmas. Apesar de ser sempre atenta com os detalhes, até então, nunca havia me preocupado em reparar nos alunos das outras classes. E foi quando parei para reparar.

            Os quatro meninos do dia anterior estavam treinando basquete em um lado da quadra. Todos animados e sorridentes com a aula, como todos os outros garotos de sua idade. Para eles, talvez esse fosse o melhor horário do dia.

            Observava a grande quantidade de meninas sentadas nas arquibancadas, muitas delas, com os olhos pregados naqueles quatro. Algo me dizia que eles eram de certa forma especiais naquele lugar e que isso me dava ainda mais certeza de permanecer distante.

            Encarava atentamente os deslocados igual eu. A maioria eram meninas. Nada nelas me parecia estranho. Mas muito do que nos incomodava não era visto pelo exterior.

— Meninas levantem! — Pediu a professora, chamando-nos para a quadra.

            Algumas retrucaram e retrucaram muito, até quase serem expulsas da aula. E lá fomos nós, times mistos de meninos e meninas foram formados para jogarmos basquete. Outra coisa que devo contar sobre mim, é que eu não sou boa com bolas pesadas. Recebia gritos de raiva da maioria dos meninos, menos dos quatro populares, eles realmente pareciam não se importar.

            Talvez fosse o ato de jogar levando na brincadeira, enquanto os outros agiam como se fosse um grande campeonato.

— Não se preocupe, você não irá quebrar uma unha. — O alto, dos cabelos encaracolados brincou, passando por mim.

Quando O Seu Coração Chamar | TEMPORADA 01Onde as histórias ganham vida. Descobre agora