Capítulo 3 - Tensão no ar

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Brenda Walker

Sexta-feira

Caminhava atentamente pelos corredores, ainda sentindo o gosto em minha boca do chiclete de hortelã que havia acabado de jogar fora. O tempo não estava favorável para sair da cama. Além da chuva que estava caindo, não parava um minuto sequer de ventar. Mesmo que o colégio não fosse totalmente aberto, afinal, era construído como um retângulo, onde as salas se encontravam, ainda assim, era o suficiente para causar frio.

Meus olhos procuravam pelas portas das outras turmas algum indicio dos meninos que haviam conversado comigo no dia anterior. Não sabia se teria coragem de chegar até eles para puxar algum assunto, mas gostaria que tomassem a iniciativa.

Infelizmente não encontrei ninguém, muito menos a menina da biblioteca. O dia era vazio e cansativo, principalmente por não haver aula de educação física. Felizmente, poderia agradecer por se tratar de uma sexta-feira. O único problema é que não teria nada de interessante para se fazer no final de semana.

A maioria da minha família era daqui, eu tinha alguns primos, poucos por sinal. Mas o que adolescentes da minha idade querem é poder sair com os amigos aos finais de semana. Poder aproveitar um dia no cinema, ir à pizzaria, jogar boliche, qualquer coisa que fosse permitida fazer.

Agradeci quando o sino do intervalo tocou, indicando que teríamos quinze minutos para fazermos a nossa refeição. Eu normalmente não comia nada pesado ou em grande quantidade, já que todos os dias almoçava com Evelyn em casa.

Enquanto caminhava para dentro do refeitório, dei de cara com os meninos. Assim que me viram, sorriram e pararam de caminhar.

— Você chegou bem na hora. — O jogador falou sorrindo. Outro apelido havia sido criado.

— Oi. — Acenei para os quatro.

O grandão passou o braço por trás do meu pescoço e assim entramos. Não sabia que a nossa entrada causaria tanto impacto. Mas realmente, eles eram muito conhecidos ali.

Ainda na fila do lanche, optei por um sanduíche natural, uma caixinha de suco de limão e uma maçã. Como sempre, independente do lugar, cuidando da minha saúde.

Conseguia escutar várias pessoas conversarem atrás de nós e poderia afirmar que o assunto era "a estranha que adentrou o refeitório com os meninos mais populares". Eu deveria ignorar, não é?

Sentei-me, enquanto observava-os falando sobre futebol. Eu sabia que ali no Rio Grande do Sul, a maioria das pessoas torciam para o Internacional ou Grêmio, tirando o fato dos turistas ou então das pessoas que se mudavam.

— Está gostando daqui? — Perguntou Gabriel.

— Só estou um pouco perdida, as pessoas não são tão sociáveis. — Brinquei.

— Ei, não se preocupe, nós estamos aqui. — Pedro falou de maneira sincera. — A verdade é que as pessoas aqui tem medo de conversarem com as outras, pelo que os outros irão falar. — Explicou.

Eu já havia pensado nessa hipótese, mas poderia soar um pouco rude se isso saísse da minha boca. Afinal, eu era a menina que havia chegado depois de todos, não seria correto da minha parte sair falando mal das pessoas que eu nem conhecia.

— Nós vamos mais tarde na lanchonete perto da praça, você quer ir? — Perguntou Henrique.

Nunca na face da terra que iria recusar um convite desse. Primeiro que eles eram os únicos que faziam a minha presença ali ser mais agradável e segundo que eu adoraria frequentar lugares novos.

Quando O Seu Coração Chamar | TEMPORADA 01Onde as histórias ganham vida. Descobre agora