Capítulo 11 - Verdade ou consequência?

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Brenda Walker

Sábado

Apesar de já termos trocado o assunto na mesa, enquanto cada um contava um pouquinho sobre si, era fácil de perceber a troca de olhares entre Henrique e Angélica. Na verdade, não se olhavam ao mesmo tempo e sim, disfarçavam olhando cada vez um com o canto dos olhos.

Era estranho imaginar estar com alguém por tanto tempo  e de repente vê-lo apenas como um amigo, quando na verdade não se quer isso.

Não tiro a razão do seu discurso. Já que acredito profundamente na felicidade dos dois e, sabemos que um não ama por dois, um não consegue levar um relacionamento sozinho. É necessário os dois, e quando isso acaba, e quando o amor se vai ou se transforma não se pode fingir, não se consegue.

Você não consegue mentir para alguém com quem convive a tanto tempo. Como irá olhá-la sabendo que não a ama mais ou não se sente mais feliz?

Nessas horas agradeço por não gostar de ninguém. Por não precisar sofrer por relacionamentos.

— Como assim você quer encontrar alguém? — Henrique perguntou confuso. — Você nunca comentou nada conosco antes.

Pedro revirou os olhos, como se acabara de se arrepender por ter comentado algo tão intimo e importante para ele.

— Eu só gostaria de ter alguém, assim como você, esteve por dois anos com uma menina tão incrível como a Angélica, eu só sinto a mesma necessidade. — Pedro respondeu.

Se eu achei a coisa mais fofa? Sim. Eu deveria falar aquilo em voz alta? Não. Meninos sentem vergonha de expor seus sentimentos, principalmente quando estão na frente de tantas pessoas, ainda mais de seus próprios melhores amigos. Apenas olhando-o percebia-se que estava desconfortável com a situação.

— É normal alguém querer ter um relacionamento. — Comentei.

— É normal alguém, não o Pedro. — Fred falou.

Balancei a cabeça negativamente e os meninos riram, até mesmo Pedro. Ele já parecia estar mais tranquilo com o desabafo.

— E você Thais, não namora? — Fred perguntou como se estivesse interessado.

— Não. — Negou. — Na verdade, até então as pessoas não costumavam conversar comigo na escola.

Escutar isso foi dolorido. Somente quem passa por isso entende a dor que é ver todas as pessoas juntos conversando, brincando, se divertindo e você estar só.

E agora a brincadeira havia mudado. Nós iríamos passar a contar um momento constrangedor ou engraçado.

— Eu irei começar com algo que aconteceu comigo hoje mais cedo. — Iniciei. — Estava tomando sorvete após o almoço no centro, e um menino desajeitado esbarrou em mim e o meu sorvete acabou de encontro ao chão. — Contei rindo.

— Uau, você ficou sem sorvete e não fez nada? — Angélica perguntou confusa.

— Não. — Balancei a cabeça de um lado para o outro. — O menino pagou outro sorvete para mim. — Expliquei.

— Que cavalheiro. — Thais brincou.

Os olhos das meninas brilharam, enquanto os meninos se entreolharam e reviraram os olhos.

— Vai dizer que vocês não fariam o mesmo? — Perguntei.

— Dependendo da menina. — Piscou Fred.

Meninos. Ah, meninos.

Henrique olhou para Angélica e mexeu a boca, como se estivesse sussurrando algo para que somente ela entendesse. Fingi não ver, mas percebi o movimento afirmativo dela com a cabeça.

— Uma vez quando eu e Angélica ainda namorávamos, eu molhei a cama com água e fingi que ela tinha feito xixi. — Iniciou contando, enquanto as bochechas da minha mais nova amiga começaram a tomar um tom de vermelho. — E só fui contar uma semana depois, ela nem queria mais ir na minha casa por vergonha.

Todos rimos. Rimos muito. E a melhor sensação que eu já havia sentido desde que cheguei ali, foi ver Angélica rir. Não riu sozinha, riu com seu ex-namorado. Talvez percebera que não era necessário se sentir triste o tempo todo, esse momento servia para aprender que podemos sim nos recuperar. Podemos ver alguém que amamos por tanto tempo e nos sentir bem. Rir do passado juntos.

Eles formavam um casal lindo.

— Eu lembro que fiquei brava com você por quase duas semanas. — Ela contou rindo.

— E eu precisei levar tanto chocolate nessas duas semanas que quase fali. — Brincou.

Ela fez careta e mostrou a língua para ele e o mesmo retribuiu.

Deus, não me faz shippar esse casal.

Quando iríamos continuar a brincadeira, a campainha tocou anunciando a chegada da pizza.

— Brenda, pode vir aqui um momento? — Mamãe chamou.

Mamãe havia pedido uma pizza para que os três comecem e não demorou muito para que Gabriel adentrasse a cozinha para nos ajudar a pegar as pizzas.

— Como você conseguiu amigos tão bonitos?  — Evelyn perguntou, o que resultou em uma careta feia por parte de papai.

— Tenha modos menina. — Papai falou alto, fazendo-a encolher os ombros.

Dei risada internamente, mas sabia que não poderia deixar transparecer já que tudo dependia do meu comportamento para ir até o acampamento em Florianópolis.

A minha irmã com certeza não tinha noção alguma do que estava falando. Estava assistindo muitos vídeos no Youtube e isso estava afetando seriamente.

— Voltando ao assunto de você nunca ter namorado antes. — Gabriel iniciou falando. — Mas você já ficou com alguém? — Perguntou interessado, enquanto enfiava uma fatia praticamente inteira na boca.

— Não. — Balancei a cabeça com vergonha. — Eu ainda não tive essa experiência. — Contei.

Todos olharam admirados e perplexos com a minha resposta, até mesmo as meninas. Elas pelo menos já tinham passado por todas as etapas. E eu nem sequer um beijo havia dado ainda.

A grande questão era que eu entendia que para tudo existia seu tempo. Nós aprendemos a caminhar; aprendemos a falar; aprendemos a andar de bicicleta; a escrever; a dançar; e tantas outras coisas que não dominamos mas que um dia qualquer acabamos realizando.

E eu sabia que em algum momento alguém iria chegar. Nem que fosse para somente quebrar meu coração como vejo em filmes, mas apareceria.

— Nós poderíamos brincar de verdade ou consequência e resolver esse problema. — Fred falou brincando, mas todos sentiram o tom de verdade em sua voz.

Eu não enxergava o fato de nunca ter beijado como um problema. Na verdade aquilo não me incomodava nenhum pouco, apenas uma vez e outra quando precisava acompanhar casais e me sentia excluída por não ter alguém.

— Eu não me importo de brincarmos. — Dei de ombros.

Automaticamente as meninas me olharam com os olhos arregalados como se eu houvesse falado a coisa mais sem noção do mundo. Mas eu queria fazer parte da vida deles e se para isso precisava jogar, tudo bem.

Sentamos em circulo no chão e enchemos pratos de pizzas para nos acompanhar. Encontramos uma garrafa vazia de coca cola dois litros e a colocamos no nosso centro.

Eu estava nervosa.

Talvez estivesse acabado de escolher participar de um jogo que poderia trazer consequências sérias ou não.

— Eu começo girando.— Pedro falou.

Girou a garrafa com força, o que fez demorar para que ela parasse apontando para Henrique perguntar para Thais.

— Verdade ou consequência? — Perguntou.

— Consequência. — Respondeu ela de maneira tímida.

As pessoas não costumavam pedir direto consequência neste jogo, pelo menos era assim que funcionava na cidade em que morava antes. A primeira rodada praticamente inteira era composta por perguntas.

Quando O Seu Coração Chamar | TEMPORADA 01Onde as histórias ganham vida. Descobre agora