Capítulo 7 - O menino do sorvete

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Brenda Walker

Sábado

E como o esperado, assim que saímos de nosso carro, a atenção das pessoas estavam todas em nós quatro.

A rua cercada por lojas, restaurantes e lanchonetes, agora com a grande movimentação de pessoas, na maioria famílias e adolescentes caminhando por ela, olhavam atentamente quem era a menina extravagante caminhando pela calçada, no caso, minha irmã.

Eu não sabia como reagir aquilo. Com certeza várias pessoas do meu colégio estaria andando por ali, aproveitando o sábado.

Embora estivesse com vergonha, não iria deixar a minha família e ir embora por causa da louca ao meu lado.

Enquanto deliciava-me com a carne vermelha e o purê que nos haviam servido, não conseguia parar de pensar um segundo sequer no acampamento. Na minha cabeça, milhares de coisas poderia acontecer e a minha vontade de voltar para Florianópolis aumentaria ainda mais.

— Querida, então quer dizer que fez novos amigos? — Papai perguntou interessado.

— Exatamente. — Contei sorrindo. — Eles me acolheram.

Uma coisa que posso afirmar com toda a certeza que sempre fiz, era o ato de agradecer. Não estava me referindo a minha religiosidade, apesar de também fazer o mesmo com ela. Mas se tratava das pessoas que estavam a minha volta e o quão cada uma era essencial na minha vida.

Estava retornando para o carro, já que com um sorvete de casquinha em mãos, quando atrapalhadamente esbarrei em alguém, fazendo com que meu sorvete novinho acabasse de encontro ao chão.

Bufei frustrada com o acontecido.

— Nossa, sinto muito. — O garoto falou, encarando meu sorvete.

— Tudo bem. — Falei sem vontade, encarando-o.

— Eu compro outro para você, um segundo. — Antes que eu pudesse responder algo, o garoto havia corrido até o local que vendia sorvete, assim, pedindo outro igual para mim.

Fiquei sem graça com a atitude, mas era o mínimo que ele poderia fazer, afinal, ele quem estava correndo na calçada.

Quando me entregou o sorvete, agora menos agitado, sorriu sem graça. Suas bochechas estavam com um leve vermelhidão, talvez fosse vergonha.

— Espero que esteja tudo bem. — Comentou.

— Está sim, obrigada pelo sorvete. — Agradeci.

Ele sorriu animado, agora sentindo-se mais leve.

Aos poucos ele foi se afastando, alguém o chamava pela calçada, era uma voz masculina que o chamava. Não conseguia entender exatamente o que o outro menino chamava, mas o mesmo entendeu, e afastou-se acenando.

Antes que sumisse do meu campo de visão, chamou a minha atenção ao gritar:

— A propósito, eu sou o Júlio. — E então, após dizer seu nome, desapareceu.

E não deu tempo para que eu falasse o meu nome, ele já havia sumido. Por algum motivo que eu desconhecia, estava lá parada no mesmo lugar, como se fosse uma estátua. Não conseguia me mover e muito menos entender o que havia acontecido.

Quando olhei para o carro, onde meus pais estavam me esperando, com aquelas caras de interrogação, como se também não entendesse nada, mas ainda com um sorriso malicioso, como se estivessem insinuando algo.

— Não falem nada. — Falei, assim que adentrei o carro.

Evelyn começou uma risada, que se estendeu por todo o carro, acompanhada dos meus pais.

Normalmente, pais normais deveriam reclamar de eu estar conversando com um estranho no meio da rua, não?

— Pode me dar um pouco do seu sorvete? — Ela pediu, demonstrando vontade pelo meu.

— Você já tomou o seu. — Retruquei.

— Só uma lambida, por favor? — Insistiu.

— Você é nojenta. — Falei baixinho, para que nem papai nem mamãe escutassem.

E lá estava ela, engolindo mais da metade do meu sorvete.

Uma vez e outra pegava-me pensando se essas coisas só aconteciam comigo. Se era só eu que tinha uma irmã maluca, que muitas vezes gostava de me imitar. Ou se só os meus pais pareciam querer me atirar para todo mundo. Ou então, de repente conhecer alguém, e não conseguir parar de pensar um segundo na cena ocorrida.

Analisava as minhas unhas roídas, e em como aquilo poderia distanciar qualquer possível relacionamento.

Eu não era assim.

Nunca havia deixado as unhas chegarem aquele ponto.

Não era porque eu não me preocupava se elas fossem quebrar, que não poderia deixá-las saudáveis.

— Você não falou uma palavra o caminho todo, o que aconteceu? — Mamãe perguntou, sentando-se ao meu lado.

— O meu sorvete caiu, eu ganhei outro e a Evelyn praticamente tomou ele todo. — Menti.

Ela deu uma risada. Aquela risada de quem me conhecia muito bem, melhor do que ninguém.

Mamãe não precisou me dizer que sabia que eu estava escondendo algo dela, que era muito maior do que um simples sorvete.

Quando adentrei meu quarto e fui em busca das redes sociais para analisar o que meus novos "amigos" estavam fazendo em pleno sábado. A maioria estavam planejando uma festa à noite.

✖ ✖ ✖

Vocês já esbarraram acidentalmente em alguém e de repente essa cena não saiu da sua cabeça?

O que estão achando da história? Querem mais capítulos?

Espero que gostem.

Quando O Seu Coração Chamar | TEMPORADA 01Onde as histórias ganham vida. Descobre agora