2

273 92 369
                                    

---- Eu fui obrigada, senhor. Não estava ali por vontade própria. Por favor? acredite em mim?!

---- Certo. Então quem foi que obrigou a senhorita a esta naquele local?

O delegado perguntou, quase cedendo e deixando ela ir embora. Estavam ali a quase uma hora. Priscila poderia ficar mais duas se preciso, mentindo com tanta segurança e veemência, que era questão de tempo sua mentira parece verdadeira até para sí mesma. Sempre foi uma ótima mentirosa.

---- Não posso falar, senhor. Fui ameaçada, como ja lhe disse. Juro!

Sua cara ingénua era ridiculamente convicente. Não tardaria para que logo o delegado a deixa-se parti sem causa qualquer problema, como se aquilo nunca houvesse ocorrido.

O homem gordo sentado a sua frente começou a estudá-la, tentado descobrir algo em sua expressão. Lutando contra a repulsa de revira os olhos, ela simplesmente passou a mão no cabelo, procurando tirar qualquer um dos insetos que rodeavam a lâmpada falha acima de sua cabeça que, por acaso, pudesse ter caído nele.

---- Certo. Então, tudo bem. Nesse caso, o melhor a fazer é denunciar, senhorita, para que possamos prender seu chantagista. Por favor...

---- Não, não. Não sera necessário! Fui abordada na rua, provavelmente por algum viciado, entende? Nem saberia como encontrá-lo novamente.

---- Sendo assim, por que ele mesmo não foi comprar?

---- Eu não sei, droga! Vai lá pergunta pra ele.

Priscila cruzou os braços, feliz por ver a irritação crescer no rosto do homem a sua frente. Gostava de problemas, e mais ainda da forma como escolhia resolvê-los.

---- Recomponhase, se não, serei obrigado a lhe prender por desacato a autoridade!

Priscila vacilou em um sorriso irónico, mas logo tratou de escondê-lo.

Ela olhou bem as paredes verdes, com tinta velha e descascada. Reparou na sombra que o grande armário cinza, cheio de papeis pulando suas pequenas gavetas, fazia junto a iluminação precária da lâmpada que pendia sombre sua cabeça. Sabia que não precisaria mais permanecer naquele lugar insuportável por muito tempo. Finalmente seu xeque-mate havia chegado. Ela ria tanto internamente, que até preocupou-se de não conseguir conter a risada apenas para sí, dando logo um fim nela.

---- Desculpa -- produziu a melhor voz chorosa que tinha, jogando-se, dramática, sobre a velha mesa de madeira, coberta de papeis, em sua frente ---- É que eu acabei de passa por uma situação muito traumatizante, não estou conseguindo pensar direito. Só quero voltar pra casa e esquece que esse dia aconteceu. -- lágrimas falsas escorriam silenciosas por sua face, comovendo o delegado ---- Estou tão, tão desolada. Por favor?! Me deixa ir logo pra casa?

Não seria mais preciso muito esforço para se livrar daquela sala de delagacia, não, com o show que havia acabado de dar.. Ela soube disso no momento em que olhou o homem em sua frente, e, por isso, fingiu coça o nariz, escondendo a boca com a mão para disfarça um sorriso. Mas como estava orgulhosa de sua atuação.

---- Ah, tudo bem! Eu entendo. Mesmo assim eu insisto que pelo menos deixe que um de nossos polícias a acompanhem. Para sua segurança.

Insistente. Você é um idiota muito insistente, realmente, Priscila pensou consigo mesma, mas não poderia perde a paciência, as aparências tinham que ser mantidas até ela esta no conforto de seu quarto, assistindo algo na TV deitada sobre os muitos edredões de sua cama enquanto reclamava, xingava e fumava um baseado qualquer que pudesse ter sobrado.

Intercambiáveis.Onde histórias criam vida. Descubra agora