Pyromania

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Os olhos vermelhos e um tanto inchados, expressavam o desespero. O nariz já avermelhado de tanto escorrer devido ao choro, os cabelos bagunçados na altura dos ombros querendo recair sobre seu rosto, do qual ele a toda hora jogava para trás. A vida de seu irmão estava em jogo. Aliás, esse era o jogo. Edward não pensava que seria capaz disso. E para falar a verdade, ele ainda não sabe se realmente é. Mas até chegar ao ponto decisivo e tomar a atitude que para os outros o transformaria num herói, ou num assassino, a única opção próxima era a mais fácil. Com o telefone colado na orelha, ouvia o toque chamar. Chamava e chamava... E sua cabeça, suas orelhas, coçavam. A coceira de nervosismo parecia a cada hora surgir num canto diferente, como se sua pele recebesse mordidas. Chamava...  Chamava... "Eu tenho que disfarçar a voz"...

- Alô? -A voz feminina atendeu.

- Detetive? -Edward tremia, tentando não transparecer seu nervosismo.

- Edward? Edward Graim? -Respondeu ela em tom preocupado. Do outro lado da linha dava para se ouvir um ruído grave de motor e um certo movimento, ela provavelmente estava dentro de um carro.

- Isso. Sou eu mesmo.

- Eu não posso falar agora, pode me retornar em... Vinte minutos?

- Não... Não posso fazer isso.

- Qual o problema?

- Você precisa passar aqui. Eu tenho uma pista. Mas vou contar só pra você. Só pra você.

- Edward, pode falar... Do que se trata?

- Não posso falar por telefone.

Dentro do carro, a Detetive se mantinha com sua estratégia, onde sua voz saía num tom e sua expressão facial estava em outro. Séria e com um certo orgulho estampado, aproveitando mais uma vitória. "Eu fiz ele falar" se contentava fitando Nicholas, o Xerife, que dirigia a viatura. Ele retribuiu o olhar de modo curioso, talvez se perguntando do que se tratava o teatrinho da colega durante a ligação, querendo saber, ainda que não estivesse escutando a conversa.

- Okey... -Continuou ela. - Eu vou te ver ainda hoje à noite, tudo bem? Agora, eu estou indo atender um chamado com o Xerife. Acho que nós dois também temos uma pista.

- Tudo bem. Te espero, então?

- Sim, chego assim que possível. Até mais.

- Até...

Ela desligou enquanto Edward abaixou o celular tirando-o de perto da orelha, guardando o aparelho no bolso de trás da calça. Levantou sua mão esquerda, olhando fixamente para o que nela segurava: revólver, mais especificamente uma pistola. Pousou a outra mão em cima da arma destravando a mesma, que emitiu dois "Clicks".


Evelyn, por outro lado, não tirava os olhos de Nicholas. Ele, focado na direção, se sentiu incomodado de curiosidade com a colega que não parava de encará-lo com um sorriso soberbo:

- O que foi, Ev?

- Tem alguma coisa muito errada acontecendo.

- O que você acha?

- Nicholas, vou te pedir um favor... Depois que a gente ver isso, vou precisar do carro. Eu vou ver um garoto. Mas é muito importante que você se lembre disso.

- Pode falar...

- Depois que eu ir, se eu não der notícia em no máximo uma hora...

Ele a olhava de canto, tenso, esperando que ela terminasse a frase:

- Vou querer que você prenda Edward e Dylan Graim.


Já cansado de correr e com as pernas latejando, Marty estava coberto de suor, ofegante na noite quente. Pelo menos o vento gelado lhe refrescava. A respiração rápida e a adrenalina do momento lhe comandavam. "Será que alguém me viu?". Havia medo. Medo de Dylan ter morrido e a culpa cair sobre ele. Medo de ter ficado óbvio de que todos lhe apontassem o dedo dizendo que deixou Dylan para morrer. O que devia ser feito? Ficar quieto e fingir que não viu nada? Ou contar para todo mundo e se livrar de uma suspeita que atrapalharia sua jornada? Edward iria surtar... Iria jogar a culpa nele. Marty nunca foi um verdadeiro amigo dos gêmeos. Se conhecem é claro, do colégio. Já trocaram poucas palavras sempre quando Stacy tentava enturmá-lo. Óbvio que todos estavam se tornando mais próximos nos últimos dias, mesmo que obrigados. Isso ainda não era o suficiente para qualificá-los como amigos... Ou seria? No entanto, Marty se preocupava com possibilidade de ser tachado como o assassino, desde que seus álibis não se confirmariam a quem não estava disposto a acreditar. Deixar alguém para morrer talvez seja a mesma coisa que assassinato ou quem sabe, algo ainda pior. Aos olhos dos outros, isso não o deixaria diferente daquela figura mascarada. A essa hora, Dylan deve estar com os intestinos espalhados por todo aquele casebre. E suas impressões digitais nas correntes... "Ai meu Deus ... Vão me culpar..." Mas com razão?

Scream - SurvivalNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ