And Then There Were None (Part 4)

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A noite adentrava naquele buraco negro em forma circular através da claraboia, que poupava o exterior dos gritos de terror que vinham dali de dentro. Dois pontinhos se movimentavam ao mesmo tempo naquele círculo gigante, porém ambos distantes. Um, era a menina alta e aparentemente inofensiva Amelie Brody, se apressando em subir. A outra era o sarcasmo em forma de ser humano, Claire Ripley, descendo. Uma não via a outra, separadas por voltas e voltas de andares entre si enquanto seguam em sentidos contrários anunciando que dariam de frente a qualquer momento. Seus impulsos eram quase sincronizados. Ofegantes e mergulhadas em seu próprio medo, mantinham as cabeças abaixadas e de olho nos degraus. A "Diaba", ao chegar no patamar do quarto andar, prosseguiu em linha reta ao invés de continuar nas escadas. Entrou à direita se embrenhando corredor á dentro. Amelie fez o mesmo, a um andar abaixo vindo em sentido contrário, adentrando ao piso do terceiro andar e desaparecendo naquele "túnel" escuro. A ideia de felicidade de Amelie seria parar e descansar um pouco ,mas para isso, tinha que ter certeza de que estava segura. Constantemente espiando por cima dos ombros em sua investida ao desconhecido, tinha seu foco graças uma janela distante no final do corredor que lhe garantia uma medíocre, porém grata, luz. Foi capaz ainda de prestar atenção em todas as portas que existiam naquela passagem. Passando por uma, duas, três e mais sabe-se quantas sem parar o passo, mesmo que ele fosse ficando cada vez mais curto, torto e gradativamente desacelerado. Percebia também o silêncio total atrás de suas costas e do que deixara para trás. Nenhum passo pesado ou batidas a acompanhavam. Podia indicar que o assassino já não mais a seguia? Ou talvez ele estivesse em ritmo mais lento e cauteloso feito um lobo prestes a atacar o primeiro com que cruzasse seu caminho? Não conseguia tirar a imagem de Juliett estirada lá embaixo e a cadeira arrebentada. O arrependimento lhe foi tirando todas as forças na fuga e francamente, até sua vontade de viver.

Exausta e de respiração pesada, Amelie tropeçou sobre as próprias canelas já em ritmo lento, torcendo os pés que assim que como ela, desistiram da corrida. Se apoiou na parede, tateando a mesma com uma das mãos de maneira curvada, e utilizou a outra para se apoiar num dos joelhos que se dobraram facilmente, enfraquecidos. O único vento que percorreu o local foi um bafo quente e nada refrescante que mesmo mexendo seus cabelos, só trouxe mais calor para a garota suada. Respirou fundo em uma pausa, ficando parada ao se lamentar ofegante:

- Eu... Eu tenho que fazer alguma coisa... -Se remoeu dando um fraco passo, ainda pondo seu peso contra o pulso apoiado na parede. - Alguém me tira daqui... Eu não quero mais nada disso... -Mais um passo vergonhoso e mais um apoio. Mas desta vez, foi em vão. Assim que sua palma buscou se apoiar na parede novamente, seu braço entrou com tudo na escuridão e em susto, seu corpo pendeu para o lado sofrendo uma queda. Não havia percebido, mas havia uma porta aberta ali, do qual ela caíra de lado para dentro de um cômodo qualquer estirando-se no chão. - Ai! -Gemeu com o impacto.

Ergueu os olhos e observou o recinto. Havia uma cômoda velha de cor indistinguível devido a fraca visibilidade que vinha de uma janela ao fundo do cômodo, parcialmente coberta por tinta. A tal cômoda estava posicionada ao lado da porta. Deitar ali naquele lugar, mesmo que horrível, acabou parecendo bom dado ao cansaço. Um rápido alívio por não estar mais se esforçando e agradecendo por finalmente descansar um pouco. E teria ficado por mais tempo se não fossem as claras e longas patinhas de uma aranha que vinha inocentemente em direção ao seu rosto. Ergueu-se rapidamente em espanto, dando tapas na roupa cheia de poeira em repulsa ao animal, mesmo que a coisa não a tivesse tocado. Mas ainda estava cansada e sem nenhuma coragem de voltar a sair correndo no escuro. Ao olhar em volta, não notou muita coisa. Era um cômodo grande, vazio, empoeirado e com um enorme e profundo buraco na parede grande o bastante para caber mais de uma pessoa, cujas vigas interiores da casa podiam ser mais ou menos vistas ao fundo, revelando seu interior sujo e cheio de teias. Sem saber o que fazer, dirigiu-se até a porta, onde a empurrou de volta, fechando-a e se pondo contra ela. Escorregou as costas pela mesma até ir novamente ao chão, se sentando. Quase não havia ventilação ali ,mas a calmaria a confortou. Se sentia segura novamente, como se aquela fosse sua barreira impenetrável. Pôs a cabeça sobre os joelhos em posição fetal iniciando um choro quieto e abafado. Sozinha e arrependida.

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