Capítulo dois

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Coloco a última caixa em cima de uma pilha de outras. Foi tudo o que sobrou do meu apartamento. Os eletrodomésticos que eu trouxe, acabei mandando de volta para minha prima em um pequeno caminhão de mudanças.

Sento de pernas cruzadas no chão branco de porcelanato do apartamento de Henri e encosto na parede. Suspiro fundo e uma tristeza começa a tomar conta de mim. Cheguei no Rio com a perspectiva de crescer profissionalmente, ganhar mais dinheiro, viver tranquilamente, viajar, fazer o que os turistas sempre fazem em cidades assim e aonde fui parar? Estou desempregado e nem sequer tenho uma casa para morar. Fecho os olhos para não chorar e deixo os pensamentos tomarem conta de mim.

Para completar ainda teve a situação da Lucinha, que é praticamente uma segunda mãe para mim. A nossa despedida foi muito difícil. Eu disse à ela que ia ficar tudo bem, que assim que conseguisse um trabalho novo eu a chamaria de volta, quis passar toda a segurança possível para ela, mesmo eu mesmo não tendo nenhuma. Sua reação foi de otimismo, como sempre. Ela me abraçou, me desejou muita sorte e disse que estaria ansiosa por me ver de novo. No fundo eu sabia que ela tava tão desesperada quanto eu, mas não deixou isso transparecer nem por um minuto.

– Tudo bem, amor? – Sua voz é doce e terna.

Abro os olhos instantaneamente, ainda cheio de lágrimas. Não queria chorar agora, mas não consigo não ficar desesperado e triste com o rumo que minha vida tomou. Volto a fechá-los e uma lágrima rola pelo meu rosto. Ele fecha a porta atrás de si e vem em minha direção. Ele senta ao meu lado e passa um braço por cima do meu ombro, me puxando para ele.

– Não fica triste, amor, as coisas vão se ajeitar você vai ver. – Ele beija minha têmpora.

– Desculpa, Henri. Eu não queria chorar. – Digo baixinho.

– Vai ficar tudo bem, Pedro. Você tem a mim. – Ele começa a mexer no meu cabelo.

Ficamos assim por um tempo. Ele me consolando e eu tentando não fazer papel de chorão – não mais do que já estava fazendo. Depois volto a quebrar o silêncio.

– Eu fico mais preocupado com a Lucinha. Se tudo der errado eu ainda posso voltar para Juiz de Fora e morar com minha prima e no pior caso volto para a casa da minha mãe. Mas ela não tem nada disso e pra piorar ainda tem seus filhos pra criar.

– Não se preocupe, Pedro, já disse. Tudo vai dar certo. – Ele vira e fica de frente pra mim, segura meu rosto nas mãos e me olha nos olhos. – Você confia em mim?

Fico ali observando seus olhos negros cheios de energia, transmitindo confiança.

– Eu confio, Henri. – Ele me dá um beijo rápido e me solta. – Obrigado por me ajudar.

– Eu só queria saber uma coisa... – Seu tom muda para descontraído. – Que história é essa de voltar para a casa da sua mãe? Vai me abandonar?

– Claro que não, Henri... é só que... – Na verdade disse aquilo sem pensar, mas prefiro não comentar nada.

– Pedro, venha cá. – Seu tom fica sério novamente.

Ele se levanta, e estende os braços para que eu me levante também. Em um puxão estou em pé na sua frente.

– Eu quero ter uma família com você. – Seu olhar segura o meu como um imã. – Você não vai embora pra lugar algum. Você vai ficar aqui comigo, entendeu?

Não digo nada. Apenas aceno com a cabeça. Ele fica pensativo por um momento e depois volta a falar.

– Você quer ficar aqui comigo, Pedro? – Sua voz continua muito séria.

– Sim, Henri. Eu quero ficar com você, não tenha dúvidas. – Respondo no mesmo tom.

Ele abre um sorriso e eu não consigo segurar o meu também.

– Eu te amo, Piloto! – Digo a primeira coisa que me vêm à cabeça ao ver aquele sorriso que eu tanto amo.

– É tão bom ouvir isso! – Ele diz, já me abraçando. – Também te amo, amor. – Ele sussurra no meu ouvido.

O clima entre a gente acaba mudando e uma nova energia começa a crescer dentro de mim. É verdade, a minha vida tomou um rumo que eu não estava esperando, mas junto com esse novo rumo eu trago comigo um amor verdadeiro e que eu adoro passar cada momento junto. Mesmo com todas as adversidades eu posso dizer que valeu muito a pena ter chegado aonde cheguei. E agora eu vou confiar no meu parceiro de vida e vou acreditar que tudo vai dar certo, tanto para mim quanto para Lucinha.

– Agora vamos arrumar essa bagunça aqui. – Digo para ele.

– Primeiro eu gostaria de dizer uma coisa pra você. – Ele me pega pela mão e me leva para a sala.

– Pra que tanta cerimônia?

– Eu sei que você fica meio relutante de ficar aqui. Mas tenho uma novidade. Este apartamento agora é oficialmente meu. – Ele sorri.

Fico boquiaberto. Um apartamento desses num lugar tão bem localizado no Rio de Janeiro deve ser os olhos da cara.

– Henri... – começo uma pergunta que nem consigo formular na minha cabeça.

– Antes que você pergunte qualquer coisa eu queria te contar mais uma coisa sobre mim. – Ele volta a ficar sério. – Eu não sou só um piloto de avião particular do meu tio. Também tenho participação nos negócios dele, a parte que pertencia ao meu pai. Por isso te disse aquela vez que nem tudo que eu usufruo é do meu tio. O iate, por exemplo, era meu.

Sinto um frio na barriga com a menção ao iate, mas não interrompo. Ele continua.

– Então, eu acabei comprando esse apartamento da construtora. Muito provavelmente meu tio sequer vai ficar sabendo. Apesar de eu saber que vou contar a ele em algum momento. Enfim, – ele suspira – pode ficar tranquilo porque agora nós estamos em casa. E eu queria que você se sentisse na sua casa, Pedro. Quero que esta seja a nossa casa. Por favor, não se sinta como um convidado, você agora mora aqui, é meu namorado e futuro marido – ele dá um sorriso torto. – Tudo bem?

Tento ignorar o máximo que posso sobre a parte do marido, minha ansiedade normal já quase me mata.

– Tudo bem, Henri. Vou tentar ficar à vontade. – Eu o abraço. – Obrigado mais uma vez. Não sei o que seria de mim sem você.

– Você me salva. Eu te salvo. – Ele me aperta. – E assim a gente vai ultrapassando os obstáculos.

– Você me salva. Eu te salvo. – Repito, suspirando.    

Última Chamada (Amor sem limites #3)Onde histórias criam vida. Descubra agora