Capítulo dez

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Dou uma última olhada em mim mesmo no grande espelho que temos no quarto, conferindo mais uma vez o meu look. Confesso que gostaria muito que a Carla estivesse aqui para me dar sua experiente opinião. Aliás, fiquei muito mais tranquilo depois que descobri que Carla e Ralph também vão para o tal jantar. Fiquei sabendo no dia seguinte quando fui para a academia. E depois Ralph me disse que só iríamos começar a trabalhar na próxima semana, o que me daria o resto da semana de folga. Ele aproveitou a oportunidade para me chamar para o tal jantar, mesmo sabendo que eu provavelmente diria não, por causa de Henri. Aí eu disse que iria com Henri no mesmo jantar e poderíamos nos encontrar lá. Ele deu um jeito de chamar Carla e David para o evento. Carla aceitou de prontidão, mas David disse que não poderia ir. Suspeito que David, em parte, preferiu recusar o convite por causa do clima ruim entre Carla e ele, mas não me disse nada. Aliás, David anda me evitando. Ele demora a responder minhas mensagens e quando responde é bem breve. Isso quando não fica até o outro dia sem me responder e coloca a culpa no plantão.

De qualquer forma, fiquei muito mais aliviado quando meus amigos disseram que iriam também. Estar com Henri é ótimo, mas em um possível encontro com seu tio, posso muito bem sair de perto e ficar junto deles. Assim todos nós poderíamos aproveitar o evento e deixar embates calorosos sobre seu sobrinho ser um machão comedor heterossexual e eu ser um gay interesseiro e aproveitador para outro dia. Pra falar a verdade, eu estou muito farto do tio de Henri se intrometendo na nossa relação. Existe um limite entre desejar que um filho seu se realize profissional e pessoalmente, torcendo para que tudo dê certo e querer que ele siga exatamente o caminho que você escolheu para ele. O tio de Henri já ultrapassou esse limite há muito tempo e até o Henri sabe disso. O problema é ele usar do fato de ser o único parente vivo de Henri para tentar controlar a vida do sobrinho.

Balanço a cabeça para afastar o pensamento e torço profundamente para que o tio de Henri nem mesmo apareça neste evento. Outra coisa que me deixa um pouco desconfortável é o fato de Ralph estar lá e eu não poder ficar perto dele por causa dos ciúmes de Henri. Espero que ele já tenha superado essa parte com a última conversa que tivemos. Não quero ter que me comportar de uma outra forma perto dos meus amigos por temer que meu namorado fique com ciúmes.

Dou uma última ajeitada no cabelo e confiro o resultado. Nada mal. Procurei usar uma calça social e uma camisa branca. Por cima, joguei um blazer preto com um corte bem slim fit, me deixando um pouco mais fortinho do que eu realmente sou. Coloquei sapatos e cinto pretos e no final das contas fiquei básico e elegante. Pra completar, coloquei o relógio que Ralph me deu, afinal o relógio é tão bonito que eu prefiro deixar para ocasiões especiais como esta. Passo um perfume, que eu havia me esquecido e... estou pronto! Nossa que gatinho! Até parece que vai arrumar um namorado...– meu cérebro me cutuca. Engraçado como tudo na minha cabeça mudou para o masculino. Namorado, marido, gostoso, gato... Eita nóis!

E por falar em namorado gato. Ele chega de mansinho por trás, e me dá uma olhada da cabeça aos pés. Fico observando seu reflexo pelo espelho enquanto ele caminha devagar em minha direção balançando a cabeça afirmativamente, aprovando alguma coisa. Ele está bem mais elegante que eu, de terno e gravata prateada. Sorrio com a cena se passando atrás de mim pelo espelho. Ele continua, chega bem devagar, me abraça pela cintura, encaixa seu rosto no meu ombro e fala baixinho no meu ouvido.

– Você é lindo, sabia? – Me arrepio todo e meu coração se acelera.

– Você acha? – Digo, já perdendo o controle do meu corpo.

– Acho. – Ele dá um beijinho no meu pescoço. – Inclusive to tendo que me segurar muito agora para não tirar a sua roupa.

Ele me aperta em seus braços e encosta sua ereção na minha bunda, me deixando louco. Fico ali ofegante no seu abraço, aproveitando o seu calor, mas ele me solta.

– Agora vamos. Não quero me atrasar. – Ele me vira e me dá um beijo. – Mais tarde a gente continua isso aqui.

– Tá bom... – Digo, tentando fazer meu cérebro pegar no tranco.

Henri me pega pela mão e entrelaça seus dedos nos meus assim que nós saímos do apartamento. Fico meio tenso. Pode entrar alguém no elevador e ver a gente assim, mas ele parece não ligar. O elevador começa a descer e para na metade do caminho. Sinto um frio na barriga quando um casal jovem entra.

– Boa noite. – Eles dizem juntos e continuam a conversar.

– Boa noite. – Henri e eu respondemos.

Sinto uma vontade forte de tirar a minha mão da dele, mesmo que o casal conversando ao nosso lado nem tenha dado bola para isso. Henri não parece estar incomodado com isso, aliás, ele está sorrindo, como se estivesse... ele está se divertindo às minhas custas!

O casal para no térreo e nós continuamos na mesma posição, sem dizer nada. Assim que a porta se fecha, eu me viro para ele:

– Você está se divertindo, não está? – Aperto os olhos em desconfiança.

Ele mal consegue segurar o riso quando responde.

– Eu não sei o que você está falando.

Dou um soco no peito dele.

– Ai! – Ele esfrega o peito, fazendo drama. – Isso machuca!

– Seu piloto de uma figa!

Me viro para a porta se abrindo e saio puxando ele pela mão, mal conseguindo me segurar para não rir da situação.

Última Chamada (Amor sem limites #3)Where stories live. Discover now