Capítulo cinquenta e um

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Chego na rua sem saída onde supostamente Carla está. É tudo muito silencioso e escuro. O lugar fede a mijo e há lixo amontoado em caçambas azuis, que já deviam ter sido recolhidos. Já não há mais resquícios de sol ou do que era pra ter sido o dia mais feliz de nossas vidas. Engulo em seco ao lembrar de Carla. Respiro fundo e tento parar de tremer as pernas. Minha barriga dói de ansiedade e sinto um aperto no coração que mal me deixa respirar. Já me arrependi de não ter contado a Henri ou chamado a polícia, agora me sinto muito mais só do que eu gostaria. Por outro lado, uma parte de mim não quis envolver Henri no meio dessa história, talvez eu consiga resolver tudo e levar todo mundo são e salvo para casa.

Fico parado por um momento na esquina. A rua principal de onde eu vim está vazia também. Algumas poucos carros passam por ela, nem mesmo moradores de ruas são vistos por essas bandas a essa hora. Meu Deus, que loucura que aconteceu? Carla foi sequestrada por um cara que eu nem mesmo sei o nome e o pior, não sei do que é capaz. Rezo para que nada de ruim aconteça, respiro fundo e ando lentamente em direção ao final da rua sem saída. Não vejo ninguém no princípio da rua onde é mais iluminado, então continuo andando. Passo pela caçambas de lixo cheias de sacos plásticos pretos abertos. O cheiro começa a me incomodar, fazendo meu enjoo e a minha dor de barriga piorarem.

– Olha quem está aqui... – meu coração quase sai pela boca de susto da voz que sai de trás de uma das caçambas.

O cara que aparece do meu lado é o mesmo cara do metrô e da boate onde Carla derrubou bebida nele e depois Henri acabou o esmurrando. Ele está vestido com uma camisa estampada branca, meio suja, meio rasgada, com seus músculos apertados nas mangas e uma bermuda cargo preta, dobrada nas pernas. Está usando um tênis surrado da adidas, amarelo com azul. Meu coração bate tão rápido que me deixa tonto. Olho para os lados desesperadamente tentando encontrar Carla. Minhas pernas tremem com tanta força que acho que vão ceder a qualquer momento.

– Calma, ei... calma... – ele diz com uma voz calma – eu só quero conversar.

Engulo em seco, puxo um pouco de ar para tentar me acalmar e tento formar uma frase.

– Cadê... cadê... a

– A sua amiga? – Ele dá um passo para o lado. – Logo ali.

Carla está sentada no chão, toda suja, com um pano na boca e fios de cobre amarrando suas mãos. Seu rosto está todo sujo, seus olhos vermelhos e uma fina linha de sangue escorrendo do canto da sua boca.

A primeira reação que tenho ao vê-la é correr para ajudá-la, mas o ele enfia o braço na frente e faz um gesto negativo com a cabeça. Carla e eu trocamos olhares. Fico preocupado com a sua saúde física, não sei o que esse maníaco fez com ela. Seu olhar me diz que está tudo bem. Ela está tentando me acalmar. Talvez se ambos nos acalmarmos esse cara nos deixe ir.

– O que você quer? – Digo com uma convicção que sei que não é minha.

– Eu já te disse. – Ele fecha a cara. – Quero conversar.

– Sobre o quê?

– Sobre o dia que vocês me humilharam na frente de todo mundo.

Então é isso que ele quer? Vingança?Deixo que ele continue falando.

– Você se lembra? – Ele pergunta.

Balanço a cabeça afirmativamente.

– Você tem ideia da vergonha que me fizeram passar. Eu tinha acabado de ser demitido, já tinha sido humilhado durante o dia e aí eu resolvi sair à noite para relaxar... – ele se aproxima – você se lembra, Pedro Otávio? – A menção do meu nome me faz estremecer. Não devo deixar ele saber que estou morrendo de medo, mas também não posso ser arrogante, ele só quer me humilhar.

Balanço a cabeça afirmativamente.

– Eu quero escutar! – Ele se aproxima e grita no meu ouvido, me fazendo assustar.

Meus olhos se enchem e lágrimas, estou com muito medo do que esse cara é capaz. Respiro fundo e tento arranjar forças.

– Eu me lembro. – Digo baixinho, baixando a cabeça e olhando para os pés.

– Eu não ouvi. – Sua voz é ríspida.

– Eu me lembro. – Digo mais alto.

– E daí – seu tom volta o normal – essa vadia aqui entornou a minha bebida. Eu estava puto aquele dia e só queria relaxar. Essa piranha entornou a minha bebida e meu sangue ferveu. Depois veio você tentando defendê-la.

– Olha pra mim enquanto estou falando! – Ele se aproxima, puxa meu cabelo com força pra trás, me dando mais um susto. Uma lágrima rola do meu rosto. Droga! Agora não é hora de chorar, Pedro!

– Está chorando, é? – Ele sorri, ainda segurando minha cabeça. De repente ele fecha a cara e me dá um soco na barriga.

Caio de joelhos no chão com uma dor insuportável no estômago e sem conseguir respirar. Chego perto de desmaiar, mas junto todas as forças do meu ser para não ceder. Se eu desmaiar agora, ele vai matar nós dois. Aperto os olhos com força tentando fazer a dor passar. Tento a todo custo puxar o ar de volta para meus pulmões.

– Sua bixa! – Ele cospe em mim. – Essa sua raça tinha que sumir desse mundo. Cambada de desgraçados chupadores de pau!

Ele vai até onde Carla está e dá um tapa na cabeça dela. Depois a segura pelo cabelo e vira seu rosto para mim.

– Tá vendo isso, sua desgraçada?! Piranha! – Isso é o que acontece quando alguém tenta me fazer de otário.

Passo a mão suja de terra pelo rosto para secar as lágrimas e tentar me controlar. Ai Meu Deus! Me ajuda! – Mais lágrimas rolam pelo meu rosto e eu as limpo também. – Me ajuda, Senhor! Eu sei que nós humilhamos esse cara, mas estávamos todos bêbados. Me ajuda, meu Deus! Não deixa ele matar a gente. Ele volta a se aproximar de mim.

– Olha pra mim! – Ele grita mais uma vez.

Tiro uma das mãos que estão apertando minha barriga, tentando conter a dor excruciante que estou sentindo e apoio no chão. Tento parecer o menos vulnerável possível, mas acho que a esta altura não consigo fingir mais nada. Olho para cima, encontrando seu olhar. Sua expressão é de satisfação. Esse cara é maluco.De repente ele tira uma arma do bolso e minha alma quase sai do corpo.

– Você vai morrer hoje. – Ele diz, sorrindo.

Última Chamada (Amor sem limites #3)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora