É isso aí. Hora de voltar ao trabalho. Tentando manter tudo em perspectiva. Não é nada comum para mim chegar em casa depois de ir visitar minha mãe e não receber uma mensagem perguntando se eu já cheguei, nem começar um dia sem uma mensagem com um imagem desejando bom dia e dizendo que Deus vai abençoar o meu dia. O silêncio entre a gente está me matando e boa parte é culpa minha, já que também não me atrevi a ligar para ela ou enviar uma mensagem. No fundo estou com medo de ligar e ela não atender ou atender e me falar que eu já não sou mais seu filho.
Mas esta manhã resolvi reunir forças e ir cumprir o meu compromisso com Ralph. Aliás, que compromisso é esse que não dá para esperar até o início da próxima semana? Um dia depois do natal é um dia morto na cidade. Praticamente ninguém trabalha e quando eu digo ninguém, também quero incluir Henri. Ele sempre é o primeiro a acordar, mas depois da viagem cansativa de ontem, ele sequer se mexeu quando me levantei. Mesmo depois de fazer tanto barulho para me arrumar, a única reação que ele teve foi de virar para o outro lado e continuar dormindo. E tudo bem, ele dirigiu sozinho a viagem inteira, merece o descanso.
Peguei o meu ônibus como de costume e sentei em um lugar vago, aliás o que não falta nesse ônibus hoje é um lugar vago. Está até indo rápido demais. Não tem trânsito, não tem passageiro para descer e não tem quase nenhum para pegar nos pontos. Fico olhando para fora com cara de desespero. Está tudo tão deserto... – Deixo os ombros caírem – ainda assim é melhor do que não estar indo trabalhar. Tiro o celular do bolso e mando uma mensagem para Carla.
"Gata. Como faz para ter ânimo para trabalhar nessa cidade praticamente morta?"– Enviada às 08:22
"Nem me fale. Foi preciso muita força de vontade para acordar hoje. Onde você tá?"– Recebida às 08:22
"No ônibus. A caminho. :)"– Enviada às 08:23
"Nossa, o Henri nem pra te dar uma carona. Ele não vai trabalhar hoje?"– Recebida às 08:23
"Não :/ E acho que tirando a gente e o Ralph ninguém mais vai..."– Enviada às 08:23
"Minina, nem te conto quem mais vai..."– Recebida às 08:24
"Quem?"– Enviada às 08:24
"Falei que não ia contar... kkkkk agora se apressa que eu to chegando e vou te esperar pra gente tomar café da manhã."– Recebida às 08:24
"Affff vc e seus suspenses ¬¬ "– Enviada às 08:25
"Manda o motô acelerar aí P.O.zinho pq to morrendo de fome... beijo s2" – Recebida às 08:25
"Beijo ;* "– Enviada às 08:25
Me animo um pouco mais com o nosso papo. Vai ser um dia longo, mas a Carla vai estar lá, bem melhor do que se fosse na P&V Engenharia. Hummmm é melhor não fazer essa comparação– meu cérebro me adverte. Verdade. Enfim, vai ser divertido com a Carla lá.
Chego na porta da academia poucos minutos depois e sou recebido por Camila, a recepcionista loira, que me deseja bom dia e me diz – toda empolgada – que Ralph liberou algumas vagas para funcionários fazerem aulas de dança na Sol & Lua e que ela será a primeira da lista. Entro recepção adentro, rindo da empolgação de Camila. Carla já vem correndo ao meu encontro, me pegando pelo braço e saindo em disparada em direção ao refeitório.
– Você demorou demais, P.O.zinho. – Ela me puxa e eu vou freando para não cair.
– Eita nós, tava presa debaixo de um balaio é?
– Quero comer logo antes que os gatões cheguem.
– Quem? – Finco o pé no chão.
– Ai, amigo, vamos andando enquanto te falo, tá?
Concordo com a cabeça e continuo andando. A academia está praticamente vazia, só alguns pessoas aqui e ali fazendo alguns exercícios.
– Então, nós vamos filmar e tirar fotos para a campanha publicitária do S&L junto com a Body Move.
– S e L?
– Sol & Lua, seu bobo.
– Ah não, Carlitcha! – Faço cara de enjoado. – Isso me lembra P&V, a empresa onde eu trabalhava.
– Ai, nada a ver, desencana. Então, vão vir uns modelos super gostosos que o Ralph contratou pra fazer a campanha publicitária. Ou seja, – ela pigarreia – praticamente vamos passar o dia inteiro na companhia de gostosões.
– Até parece que eu vou poder aproveitar... – Olho de rabo de olho.
Ela me ignora e um garçom se aproxima. Nós pausamos a conversa até pedir o nosso café da manhã. Assim que o garçom se retira, ela continua.
– Qual problema? Tu é casado, mas não é castrado não. – Ela faz cara de deboche.
– Eu sei. Mas nem por isso preciso ficar empolgado por ver gostosões, não. – E outra coisa. – Aponto o dedo para ela. – Até onde eu sei você e David ainda estão juntos, então sossega o facho.
– Ai, nem me fala. – Sua expressão muda para triste. – Queria ter ido com ele passar o natal na casa dos seus pais, mas confesso que fiquei com medo. Não quero ser apresentada a eles no momento em que nossa relação está tão incerta.
– Relaxa, Carla. Conversei com ele e ele gosta de você pra caramba. E outra, ele sabe que você também gosta dele. Tudo vai se acertar.
– Ai, tomara, amigo. Gosto muito do David. Quero que dê certo as coisas entre a gente.
– Vai dar, relaxa.
– Mas enquanto isso, vou aproveitar da companhia dos gostosões, sim! – Ela se remexe, empolgada, na cadeira.
– Eita! – Uma voz conhecida chega por trás da gente. – Ninguém me convida pra tomar café da manhã.
Levanto num pulo.
– Ralph! – Eu o cumprimento. – Chega mais! Junte-se aos bons.
– Oi, Ralphzinho! – Carla diz, sorrindo.
Eu olho para Ralph, ele olha pra mim e ambos concordamos com a cabeça.
– Agora sei como se sente. – Ralph diz, sorrindo.
Nos sentamos, os três, e começamos a papear. Esta é uma rara ocasião em que nos juntamos e fazemos alguma coisa. Ralph tem estado bem distante de mim depois que comecei a namorar Henri. Este vai ser o nosso primeiro dia que passamos cem por cento juntos. Espero que seja mais como um dia de diversão e não de trabalho.
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Última Chamada (Amor sem limites #3)
RomanceQuando Pedro conheceu o piloto Henri, teve início um caso de amor que mudou a vida dos dois para sempre. Tudo era novidade para ambos, já que nunca haviam se envolvido com pessoas do mesmo sexo. A curiosidade, o desejo e por fim o amor aproximaram o...