Capítulo vinte e três

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É isso aí. Hora de voltar ao trabalho. Tentando manter tudo em perspectiva. Não é nada comum para mim chegar em casa depois de ir visitar minha mãe e não receber uma mensagem perguntando se eu já cheguei, nem começar um dia sem uma mensagem com um imagem desejando bom dia e dizendo que Deus vai abençoar o meu dia. O silêncio entre a gente está me matando e boa parte é culpa minha, já que também não me atrevi a ligar para ela ou enviar uma mensagem. No fundo estou com medo de ligar e ela não atender ou atender e me falar que eu já não sou mais seu filho.

Mas esta manhã resolvi reunir forças e ir cumprir o meu compromisso com Ralph. Aliás, que compromisso é esse que não dá para esperar até o início da próxima semana? Um dia depois do natal é um dia morto na cidade. Praticamente ninguém trabalha e quando eu digo ninguém, também quero incluir Henri. Ele sempre é o primeiro a acordar, mas depois da viagem cansativa de ontem, ele sequer se mexeu quando me levantei. Mesmo depois de fazer tanto barulho para me arrumar, a única reação que ele teve foi de virar para o outro lado e continuar dormindo. E tudo bem, ele dirigiu sozinho a viagem inteira, merece o descanso.

Peguei o meu ônibus como de costume e sentei em um lugar vago, aliás o que não falta nesse ônibus hoje é um lugar vago. Está até indo rápido demais. Não tem trânsito, não tem passageiro para descer e não tem quase nenhum para pegar nos pontos. Fico olhando para fora com cara de desespero. Está tudo tão deserto... – Deixo os ombros caírem – ainda assim é melhor do que não estar indo trabalhar. Tiro o celular do bolso e mando uma mensagem para Carla.

"Gata. Como faz para ter ânimo para trabalhar nessa cidade praticamente morta?"– Enviada às 08:22

"Nem me fale. Foi preciso muita força de vontade para acordar hoje. Onde você tá?"– Recebida às 08:22

"No ônibus. A caminho. :)"– Enviada às 08:23

"Nossa, o Henri nem pra te dar uma carona. Ele não vai trabalhar hoje?"– Recebida às 08:23

"Não :/ E acho que tirando a gente e o Ralph ninguém mais vai..."– Enviada às 08:23

"Minina, nem te conto quem mais vai..."– Recebida às 08:24

"Quem?"– Enviada às 08:24

"Falei que não ia contar... kkkkk agora se apressa que eu to chegando e vou te esperar pra gente tomar café da manhã."– Recebida às 08:24

"Affff vc e seus suspenses ¬¬ "– Enviada às 08:25

"Manda o motô acelerar aí P.O.zinho pq to morrendo de fome... beijo s2" – Recebida às 08:25

"Beijo ;* "– Enviada às 08:25

Me animo um pouco mais com o nosso papo. Vai ser um dia longo, mas a Carla vai estar lá, bem melhor do que se fosse na P&V Engenharia. Hummmm é melhor não fazer essa comparação– meu cérebro me adverte. Verdade. Enfim, vai ser divertido com a Carla lá.

Chego na porta da academia poucos minutos depois e sou recebido por Camila, a recepcionista loira, que me deseja bom dia e me diz – toda empolgada – que Ralph liberou algumas vagas para funcionários fazerem aulas de dança na Sol & Lua e que ela será a primeira da lista. Entro recepção adentro, rindo da empolgação de Camila. Carla já vem correndo ao meu encontro, me pegando pelo braço e saindo em disparada em direção ao refeitório.

– Você demorou demais, P.O.zinho. – Ela me puxa e eu vou freando para não cair.

– Eita nós, tava presa debaixo de um balaio é?

– Quero comer logo antes que os gatões cheguem.

– Quem? – Finco o pé no chão.

– Ai, amigo, vamos andando enquanto te falo, tá?

Concordo com a cabeça e continuo andando. A academia está praticamente vazia, só alguns pessoas aqui e ali fazendo alguns exercícios.

– Então, nós vamos filmar e tirar fotos para a campanha publicitária do S&L junto com a Body Move.

– S e L?

– Sol & Lua, seu bobo.

– Ah não, Carlitcha! – Faço cara de enjoado. – Isso me lembra P&V, a empresa onde eu trabalhava.

– Ai, nada a ver, desencana. Então, vão vir uns modelos super gostosos que o Ralph contratou pra fazer a campanha publicitária. Ou seja, – ela pigarreia – praticamente vamos passar o dia inteiro na companhia de gostosões.

– Até parece que eu vou poder aproveitar... – Olho de rabo de olho.

Ela me ignora e um garçom se aproxima. Nós pausamos a conversa até pedir o nosso café da manhã. Assim que o garçom se retira, ela continua.

– Qual problema? Tu é casado, mas não é castrado não. – Ela faz cara de deboche.

– Eu sei. Mas nem por isso preciso ficar empolgado por ver gostosões, não. – E outra coisa. – Aponto o dedo para ela. – Até onde eu sei você e David ainda estão juntos, então sossega o facho.

– Ai, nem me fala. – Sua expressão muda para triste. – Queria ter ido com ele passar o natal na casa dos seus pais, mas confesso que fiquei com medo. Não quero ser apresentada a eles no momento em que nossa relação está tão incerta.

– Relaxa, Carla. Conversei com ele e ele gosta de você pra caramba. E outra, ele sabe que você também gosta dele. Tudo vai se acertar.

– Ai, tomara, amigo. Gosto muito do David. Quero que dê certo as coisas entre a gente.

– Vai dar, relaxa.

– Mas enquanto isso, vou aproveitar da companhia dos gostosões, sim! – Ela se remexe, empolgada, na cadeira.

– Eita! – Uma voz conhecida chega por trás da gente. – Ninguém me convida pra tomar café da manhã.

Levanto num pulo.

– Ralph! – Eu o cumprimento. – Chega mais! Junte-se aos bons.

– Oi, Ralphzinho! – Carla diz, sorrindo.

Eu olho para Ralph, ele olha pra mim e ambos concordamos com a cabeça.

– Agora sei como se sente. – Ralph diz, sorrindo.

Nos sentamos, os três, e começamos a papear. Esta é uma rara ocasião em que nos juntamos e fazemos alguma coisa. Ralph tem estado bem distante de mim depois que comecei a namorar Henri. Este vai ser o nosso primeiro dia que passamos cem por cento juntos. Espero que seja mais como um dia de diversão e não de trabalho.

Última Chamada (Amor sem limites #3)Onde histórias criam vida. Descubra agora