Capítulo cinquenta e sete

1.5K 221 14
                                    

Alguma coisa está apertando a minha mão com tanta força que meus dedos começam a doer. Isso me desperta de um sono profundo. Já não sinto mais dor de cabeça ou falta de ar, apenas o corpo ainda está dolorido. Tento abrir os olhos, mas a claridade está forte. Fecho com força as pálpebras e deixo apenas uma fresta. Aos poucos vou abrindo um pouco mais até me acostumar.

– Mamãe te ama, meu filho. Vai ficar tudo bem. Deus e Nossa senhora está cuidando de você. Logo, logo você vai melhorar.

Reconheço a voz no mesmo segundo. É a minha mãe. Ela está aqui. Meus olhos se enchem de lágrimas. Ela está rezando por mim. Ela veio me buscar afinal, como meu pai me disse que faria no meu sonho.

– Verinha, vai com calma. – Digo mexendo minha mão esmagada.

– Pedro! – Ela dá um berro. – Meu Deus, você acordou! Obrigada meu Deus!

Ela se joga em cima de mim e me beija o rosto, o pescoço, os braços, a testa.

– Ai! – Faço um drama e ela para.

Ela se senta na beirada da cama de hospital, onde estou, e segura minha mão. Seus olhos começam a derramar lágrimas, o que me faz querer chorar também.

– Você não sabe o susto que me deu! Nunca mais faça isso.

– Eu não ia morrer, mãe. – Sorrio para descontrair. – Não sem a sua permissão.

– Você nunca a terá! – Ela levanta um dedo e sorri, secando os olhos.

– Obrigado. – Digo sério. Ela me olha sem me entender. – Por vir me buscar.

– O quê? – Ela pergunta confusa.

– Tive um sonho com meu pai. Ele me disse que você viria me buscar.

– Você sente falta do seu pai, né? – Ela segura minha mão e dá um beijo, depois limpa as lágrimas do rosto.

– Sinto sim, muita.

– Ele ia adorar ver o homem que você se tornou. – Ela levanta e beija a minha testa mais uma vez. – Agora deixa eu avisar pra todo mundo que você acordou.

– Espera. – Ela começa a se levantar, mas eu seguro sua mão. – O que aconteceu com aquele amigo meu da escola, quando eu era pequeno. O Jeferson?

Ela deixa os ombros caírem e fica triste de repente.

– Há pouco tempo eu fiquei sabendo que ele tinha se matado. – Ela balança a cabeça. – Vinte e poucos anos, coitado. Não consigo imaginar perder um filho assim.

Sinto uma pontada no coração ao saber o que aconteceu com o meu amigo. Lembro de a gente ter parado de se falar quando eu mudei de escola, para começar o primário. A escola onde estudávamos juntos fechou e nós perdemos o contato.

– Que pena. – É o máximo que consigo dizer agora.

– Pois é, meu filho. – Ela diz, segurando minha mão. – Acho que ele tinha depressão.

Ficamos ali tristes lembrando sobre o garoto que eu mal tenho lembranças.

– Ele acordou? – Uma voz grossa vem de trás da minha mãe.

– Graças à Deus, sim! – Minha mãe se levanta e eu consigo ver quem é o dono da voz.

Me sinto um pouco desconfortável com ele aqui, principalmente por essa intimidade toda com a minha mãe. Tento me ajeitar um pouco na cama, mas ainda estou fraco. Ele percebe meu desconforto, dando um sorriso amarelo. Então ele dá um passo à frente e coloca a mão no ombro da minha mãe.

– Posso dar uma palavrinha com ele? – Ele pergunta.

Ela se vira para mim.

– Giuseppe quer falar com você, Pedro.

Eu apenas balanço a cabeça quase imperceptivelmente.

– Vou avisar à todos que ele acordou. – Minha mãe diz e sai pela porta do quarto.

O tio de Henri se aproxima de mim e para minha surpresa, ele segura a minha mão e abaixa a cabeça.

– Obrigado por ter salvo o meu sobrinho. – Fico sem reação. – Henri é o filho que eu nunca tive. Ele é a coisa mais importante da minha vida. – Ele está se abrindo para mim? Fico chocado. – Henri sempre foi meio rebelde com tudo, e quando ele te conheceu não foi diferente. Sempre achei que fosse só mais uma fase da vida dele. E confesso que fui muito egoísta. Quanto mais ele me falava de você, o quanto você era legal e que ele te amava, eu ficava furioso porque você estava tirando ele de mim.

Seus olhos se viram para mim, estão cheios de lágrimas. De repente toda o rancor que eu guardava do tio de Henri se torna tão superficial que não consigo mais senti-lo.

– Hoje eu sei o que poderia ter tirado ele de mim. E não era você. – Ele limpa uma lágrima. – Muito pelo contrário, foi você quem o salvou. Obrigado por salvá-lo.

– Desculpa, mas eu não fiz isso pelo senhor. – Digo com sinceridade.

– Eu sei. – Ele larga a minha mão devagar. – Mas ainda assim, obrigado.

– De nada.

Ele se afasta devagar quando escuta alguém vindo do corredor. Mal consigo conter o meu sorriso quando percebo de quem se trata.

Última Chamada (Amor sem limites #3)Onde histórias criam vida. Descubra agora