Capítulo trinta e cinco

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Saio do restaurante e volto caminhando em direção à academia. O sol está fraco, escondido atrás de nuvens e um ar frio faz eu me arrepiar assim que viro uma esquina. A academia é perto de onde costumamos almoçar. Acho que comi demais, estou me sentindo pesado. Pelo menos estou com a consciência limpa de que só comi coisa saudável. Estou com foco na dieta, não quero parecer magro demais nas fotos e videos do grupo S&L. Não consigo evitar dar pulinhos de empolgação ao lembrar que as coisas estão dando muito certo. Suzi nossa nova professora é super legal e está muito empolgada com o projeto. Assisti e participei de duas aulas e me senti quase numa aula com Carla. Nós fazemos um trio e tanto.

Paro em cima de uma faixa de pedestres, esperando o sinal ficar verde para atravessarmos. Várias pessoas param do meu lado direito e depois várias outras param do esquerdo. O fluxo de carros é grande e aos poucos os dois lados da rua acumulam várias pessoas esperando para atravessar. Sinto uma presença atrás de mim que me faz arrepiar. Olho por cima do ombro esquerdo e vejo de longe um rosto conhecido. Penso por dois segundos e consigo me lembrar que é o Personal do outro dia, o de boné, que eu achei que estivesse me seguindo. Nosso olhares se cruzam e eu me viro, engolindo em seco. Me sinto estranho, não sei se imaginei aquele dia ou ele realmente queria me dar um susto. Desta vez vou tentar não fazer o mesmo papel. Olho mais uma vez em sua direção e ele está me olhando. Eu conheço este rosto de algum lugar, mas de onde?

Sou empurrado por uma pessoa que está atrás de mim e percebo que o sinal já abriu. Aperto o passo para chegar rápido à academia. Desta vez estou muito mais perto do que aquele dia, então engato uma terceira e vou praticamente correndo. Chego em dois minutos na porta, já ofegante. Paro na recepção e antes que eu atravesse a catraca, Camila me chama.

– P.O! P.O! Olha o que ficou pronto! – Ela diz acenando para mim.

Vou até onde ela está, sem entender o que está na sua mão.

– O que é isso? – Pergunto, confuso.

– São as fotos que vamos colocar no novo mural do grupo Sol e Lua. Essas daqui são do dia que você chegou. As da Carla estão aqui também. Olha.

Ela abre um leque de fotos. Sou tomado por uma empolgação. Parece que foi ontem que cheguei aqui e gostaria muito vê-las.

– Deixa eu ver! – Camila me passa as fotos.

– Estava arrumando em ordem cronológica. Lembra que tirei várias fotos enquanto você fazia um tour pela academia?

– Eu lembro! – Passo uma foto. E depois outras duas. Quase não apareço em nenhuma das primeiras.

– Carla tem bem mais fotos que você. – Ela diz apontando o montinho gordo de fotos ao seu lado.

– É porque ela é uma exibida. – Digo sorrindo.

Meu sorriso se esvai ao pegar uma foto específica. Sinto um frio na barriga ao perceber a pessoa sentada em uma poltrona esperando alguma coisa enquanto eu levo um susto com o flash da câmera. Eu lembro deste dia! Estava entrando para fazer avaliação física quando uma das meninas bateu uma foto com flash e tudo. Lembro também que tinha uma pessoa esperando para entrar, mas que passei na frente. – Engulo em seco. – Mas não lembro de ter sido esta pessoa.

– O que foi? – Camila diz, confusa. – Ficou ruim essa?

– Camila, quem é essa pessoa sentada? – Minha respiração se acelera.

Hummmm... não lembro... – ela fica pensativa – acho que era alguém esperando para fazer uma entrevista para trabalhar como personal trainer.

– Você sabe quem é? – Digo segurando a respiração.

– Não tô lembrada. Só sei que ele não passou na entrevista. E se não em engano é de Juiz de Fora.

Sinto minha alma saindo do meu corpo e voltando. Tento respirar. Não é possível que este cara é o mesmo que me seguiu aquele dia.

– O que foi P.O? – Uma voz chega por trás de mim. – Ficou ruim na foto? – Me viro e Ralph está sorrindo.

– Ralph. – Digo sério, ainda tentando manter o controle da minha respiração. – Lembra do dia que eu cheguei e disse que tinha alguém me seguindo e achei que queriam me assaltar?

– Sim, lembro. – Ele se aproxima com cara de confuso. – O que que tem?

– Esse cara aqui – mostro a fotografia – é esse cara que estava me seguindo aquele dia.

Ralph pega a fotografia da minha mão e a analisa por um minuto.

– Eu sei quem é. Veio aqui há um tempo fazer entrevista de emprego. – Ele me entrega a fotografia.

– Viu, eu estava certa. É ele mesmo. – Camila diz.

– Tem certeza de que é ele, P.O? – Ralph pergunta.

– Sim, tenho certeza. Acabei de vê-lo de novo aqui perto. – Os dois me olham. – Acontece que eu conheço esse cara! Um dia ele queria brigar comigo e Carla numa boate em Juiz de Fora. Aconteceu uma confusão e ele acabou sendo expulso de lá.

– E você acha que ele tá te seguindo por isso? – Ralph pergunta.

– Acho que sim. – Balanço a cabeça. – Ou não. Sei lá, Ralph! Só sei que fico muito desconfortável ao vê-lo e tenho quase certeza de que ele estava me seguindo aquele dia.

– Vamos fazer o seguinte. Vou colocar dois seguranças para te escoltar.

– Ai, Ralph, não é necessário.

– Eles não vão te incomodar. Vão ficar por perto, mas não vão ficar em cima de você, não se preocupe, você não vai ficar desconfortável com eles, serão quase invisíveis.

Começo a dizer alguma coisa, mas ele me interrompe.

– E é temporariamente. Quando você se sentir seguro eu mando parar.

Fico olhando sua expressão séria e chego a conclusão de que mal não vai fazer. E se é para me deixar tranquilo, não vejo por que recusar.

– Tudo bem. – Suspiro de alívio. – Só por um tempo.

– Show! – Ralph diz, levantando uma mão para fazermos um high five.

Sorrio aliviado. Por mais que pareça mais um dos exageros de Ralph sei que vai ser melhor ter duas pessoas da confiança na minha cola do que uma que pode ter guardado algum rancor de mim e esteja me perseguindo.

Última Chamada (Amor sem limites #3)Onde histórias criam vida. Descubra agora