Capítulo dezessete

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Algumas estações depois e ainda estou meio ofegante por andar pelas ruas correndo. Henri acordou bem mais cedo que eu e como não era o dia de Lucinha, acabei acordando mais tarde do que deveria. Eu sei que Carla não vai brigar comigo por me atrasar, mas não quero ter tratamento especial porque sou amigo dela e de Ralph. Hoje acordei me sentindo bem melhor do que quando cheguei em casa ontem. Boa parte do meu bom humor se deve ao mimo que Henri me fez. Depois do jantar, ele insistiu em arrumar a cozinha enquanto eu escolhia um filme para assistirmos juntos no sofá. E logo que terminou, chegou com um pote de sorvete e duas colheres. E ficamos agarradinhos assistindo filme até cairmos no sono.

A porta do metrô se fecha com um baque atrás de mim. É apenas mais uma estação até Botafogo, e só de não pegar trânsito já me sinto um pouco mais aliviado. Olho para o meu celular enquanto bato o pé no chão com impaciência. Percebo que estou incomodando uma moça de cabelos encaracolados na minha frente que olha para o meu pé e depois olha para mim várias vezes. Sorrio e paro com o barulho inconveniente. Não há nada na tela do meu celular também. Minha mãe falou comigo pelo telefone muito rápido antes de sair de casa e recebi duas mensagens de Henri falando que estava indo para Curitiba e que só chegaria de madrugada.

Uma voz avisa que estamos chegando na próxima estação e começamos a parar devagar. Reparo em um homem encostado na minha frente, atrás de um grupo de crianças com uniforme de escola. Ele é musculoso e está usando um boné branco, tapando seu rosto. Não sei porque resolvi olhá-lo, me pareceu que ele estava me observando, mas quando virei em sua direção ele abaixou a cabeça e ficou olhando a tela do celular. Que estranho, sinto que conheço essa pessoa de algum lugar.

O metrô para e dá um solavanco. Me seguro para não ser jogado para o lado contrário e as portas se abrem. Uma enxurrada de pessoas sai ao mesmo tempo e sou levado pela multidão. Aproveito o embalo e vou em direção à saída. Olho para trás de relance. Fiquei curioso em saber quem era aquele cara. Eu o vejo a uns dois metros atrás de mim, seguindo o fluxo de pessoas. Hummmm... esse cara... quem é esse cara? Alguém me dá um empurrão e eu aperto o passo. Escuto uma mulher reclamar atrás de mim, mas ignoro.

Resolvo que é melhor deixar para lá. É muito improvável que eu saiba quem é aquele cara. Afinal, não me lembro de conhecer alguém com aquele porte físico. Volto a me lembrar que estou prestes a chegar atrasado e engato uma terceira e saio pela saída principal. O sol está quente e quase me cega quando saio para a rua.Droga, esqueci meus óculos escuros. Passo por umas barracas pintadas de azul, vendendo todo tipo de coisa e depois viro uma rua à direita. A academia é um pouco longe do metrô, vou ter que andar um pouco a pé, mas ainda assim é mais rápido do que pegar um ônibus no horário de pico.

Sinto novamente um desconforto e olho para trás. Algumas pessoas estão indo na mesma direção que eu, inclusive o cara de boné branco. Viro para frente e engulo em seco. Estou me sentindo estranho. Balanço a cabeça para afastar essa sensação e continuo andando. Sem perceber, aperto ainda mais o passo e viro uma rua desnecessariamente, só para ver quem mais vai para o mesmo lugar que eu. Me abaixo no canto, fingindo que estou amarrando o cadarço e olho para o lado. As pessoas vão para o outro lado. Assim que fico de pé, o cara forte vira a esquina e vem em minha direção. Engato uma primeira e saio quase correndo de onde estou. Olho para trás de relance e ele se aproxima de mim. Esse cara está me seguindo! Não, não está, Pedro! Deixa de ser paranoico. Viro mais uma rua à esquerda e outra à direita e o cara ainda está na minha cola. Já estou ofegante e minha panturrilha começa a doer. Ainda falta um quarteirão para chegar à academia. Para o bem ou para o mal, resolvo correr esse resto de caminho. Olho para trás mais uma vez e vejo o cara correndo atrás de mim! Fico desesperado e acelero o mais rápido que posso. Esse cara é maluco. Ou quer me assaltar! Viro a última esquina sem olhar para trás e vejo a porta de entrada do prédio da academia. Corro ainda mais rápido sentindo alguém quase me alcançar. Minha boca está seca e meu coração está a mil. A porta de vidro automática se abre eu entro com tudo, batendo em alguma coisa.

– Ei! – Ralph segura meus braços. – Parece que temos um maratonista aqui. – Ele sorri e depois seu sorriso se esvai ao ver minha cara de desespero. – O que foi que aconteceu, Pedro? Você está vermelho.

Tento respirar ar suficiente para não desmaiar e tentar falar alguma coisa. Estou em choque. Alguém estava me seguindo e queria me assaltar ou sei lá o quê... Ralph me leva para o canto e me encosta na parede.

– Respira fundo, Pedro. E se acalma.

Eu tento imitar a sua respiração do jeito que ele está me estimulando a fazer e alguns segundos depois fico melhor.

– Agora me fala, o que aconteceu? – Ele pergunta, sério.

– Tinha alguém me seguindo. – Digo por fim. As lágrimas se formando em meus olhos ao perceber a situação que acabei de passar. – Acho que queria me assaltar.

– Tem certeza?

– Sim. Ele saiu do metrô comigo e veio atrás de mim. Aí quando percebi que ele estava me seguindo, eu corri e ele correu também.

– Como ele era? – Ralph pergunta, tirando o celular do bolso.

– Era de estatura média, baixa, sei lá. Roupa preta de academia, futebol, talvez. E boné branco de aba reta.

– Espera aqui um minuto. Não sai daqui.

Ralph vai em direção à porta e olha para os lados. Em seguida, coloca o telefone no ouvido e liga para alguém. Fala e gesticula por alguns segundos e desliga. Tento respirar fundo e parar de tremer. Quando ele chega perto de novo, está com um semblante sério.

– Vou mandar uns seguranças darem uma olhada por aqui e depois verificarem as gravações das câmera externas pra ver se descobrem alguma coisa.

– Obrigado.

Ele me segura firme pelos dois braços e olha nos meus olhos.

– Você está seguro agora. Provavelmente não foi nada. Só alguém tentando te assustar, mas mesmo assim vou pedir que verifiquem. Agora vai lá, Carla já deve estar te esperando.

– Tá bom. Provavelmente era só isso mesmo. – Concordo com a cabeça e ele me solta. – Obrigado mais uma vez Ralph.

Entro na recepção alguns segundos depois com minha respiração já normalizada e tento parecer o mais normal possível. Penso bem e resolvo não contar nada à Carla. Ela vai fazer alguma piadinha com isso. Provavelmente não era nada mesmo, como Ralph disse. É só mais um doido tentando assustar alguém. Não foi nada– repito para mim mesmo. Foi só uma brincadeira. Só minha imaginação. Ou não...

Última Chamada (Amor sem limites #3)Where stories live. Discover now