mirror ➸ h.h.ʝ

♡ 撚り ♡

A [🌻]

E mais um dia, cá estou tentando conversar com o meu pai sobre minha carreira profissional. Em seu escritório, sentada em sua frente e brincando com alguns post-it amarelos, meu pai conversava com alguém importante pelo telefone.

— Sim? — desligou o telefonema e voltou sua atenção à mim.

— As matrículas para a Universidade Nacional de Artes já vão acabar. — digo com receio e o homem se senta em sua poltrona.

— Certo. — continuou a mexer na papelada na gaveta.

— Não sei se lembra, mas já faz duas semanas que te contei. — fiquei ereta e fiz movimentos com cadeira giratória.

— Incontáveis vezes. — encarou algo na tela de seu MacBook.

— Então...

— Se a pergunta é te tirar do seu curso atual para este, resposta continua sendo não. — deu ênfase na última frase.

— Por quê? — senti um aperto no peito. — Eu sempre quis ser dançarina... Deixa eu pelo menos tentar.

Meu pai me encarou e soltou um suspiro.

— Qual é o problema com a enfermagem? Antes de concluir o ensino médio, você já planejava a área de saúde como carreira. — bebeu seu café. — Isso não vai te levar 'pra frente, Aurora. Eles vão aproveitar da sua beleza e esforço. Vão te encher de dietas e atividades físicas para ter o corpo no padrão deles. — refleti em suas palavras e em partes, ele estava certo.

— Mas papai... — fui interrompida.

— Assunto encerrado, você 'tá atrasada para a faculdade. Tenha um belíssimo dia, querida. — levanta de sua cadeira e me dá um beijo na testa.

Vejo o mesmo saindo da sala, me deixando com o coração pesado por novamente não ter o seu apoio sobre as audições.

Eu reconheço meu talento para a dança e sei que sou capaz. Eu precisaria de alguns treinos e coreografias novas para me aperfeiçoar.

Após terminar meu café da manhã, pego minha mochila e meu cachecol. Sai de casa e um dos motoristas vão até o carro.

— Bom dia. — tombei a cabeça. — Eu vou sozinha, obrigada.

— O senhor Kang nos orientou a levá-la onde quer que seja. — o homem de terno diz.

— Não quero ser incoveniente, mas já conversei com ele sobre isso. Eu realmente consigo ir sozinha. Muito obrigada. — segui meu caminho de rotina para fora do condomínio.

De longe, com a vista da quadra e os equipamentos de exercicios, dava para ouvir risos abafados. Alguns rapazes jogavam basquete e outros caminhavam por perto.

~

  O dia estava frio, mas não nevava. Estava no intervalo da faculdade, desço a longa e larga rampa que aglomerava-se em alunos. Vou até um mini-bar e compro um suco de uva e um saco de biscoitos.

Sento-me em uma mesa de madeira de frente á uma janelas de algumas salas. Estou no terceiro período do curso e fiz poucas amizades por questões de opções. Eu realmente dedico toda a minha atenção na aula, tento absorver o máximo de informações do conteúdo. Contudo, eu prefiro ficar sozinha às vezes, não é nada pessoal.

   Pego meu celular e fico checando algumas coisas meio fúteis e algo me chamou atenção. Uma publicação de uma empresa famosa, de que começaria a fazer audições em uma semana. A JYP é uma grande influência de artista da Coreia do Sul, que agora pode ser minha luz no fim do túnel.

Meu coração começou a bater de uma forma diferente, eu já nem sentia o sabor do biscoito mais. Penso duas vezes antes de clicar, as palavras de meu pai ecoavam na minha mente. Em segundos, o formulário estava escancarado na tela do celular.

Eu não estaria mais ligando para a opinião do meu pai. Eu o respeito mais que qualquer pessoa do mundo, mas eu estaria o desrespeitando se eu descumprir sua ordem?

Que confusão! Nem a faculdade que eu escolhi como segunda opção, não me interessa mais. Meu pai tinha razão sobre minhas vontades no ensino médio, eu quis de biomedicina até enfermagem, para depois pensar em artes. É uma mudança brusca de vocação, mas não faz mal.

No final da página em que se fazia a inscrição, dizia que a entrada da minha audição era às 13h00 horas. É preciso ter uma coreografia montada na cabeça e dizer o porquê de querer ser um artista.

— Puxa vida! — encarei a tela do celular que exibia o número da minha inscrição. — Eu posso ter feito a melhor escolha da minha vida ou posso ter me ferrado por inteira

Não foi fácil para muitos, não é porque eu sempre quis que será diferente.

Se não der certo, eu vou tentar na próxima. Se não der certo na segunda, vai que dê na terceira. Caso não aconteça na terceira, eu vou continuar tentando até me sentir satisfeita com o que eu pude mostrar meu talento.

O sinal rude é ecoado para todos voltarem para sala. Pego minhas coisas e jogo a garrafa de plástico no lixo.

No corredor dos armários, flagro um casal escondido em amassos um tanto quanto vulgar, o que me assustou em milésimos de segundos.

Eu ri com a situação, sentiria vergonha se fosse comigo, mas não nego que gostaria de estar daquela forma. Entro na sala e desta vez, sento-me em uma carteira no fundo e  ao lado da janela que tinha a visão para o centro movimento.

Comecei a me perder em pensamentos sobre as audições e me imaginar dentro da empresa. Me peguei sorrindo, pois pensar isso me fazia me sentir bem e feliz.