♡ 真 ♡

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A [🌻]

— O que esse garoto tá fazendo aqui? — mudou sua expressão.

— A Aurora foi-

— Seu moleque! Eu avisei 'pra ficar longe dela! — meu pai o interrompeu indo em direção dele, empurrando-o.

— Chega! — soltei um grito fazendo os dois pararem.

— Querida...

— Então, é verdade? — me calei por 2 segundos e meu pai franze o cenho. — Foi o senhor quem pediu para o Hyunjin se afastar de mim?

— Aurora, era o-

— Você pelo menos tem ideia do que isso me causou?! Tantas noites que passei acordada chorando por alguém que eu havia perdido! Tantas vezes que chorava escondido por não poder nem ter um conselho familiar! O tanto que isso me afetou psicologicamente, ao ponto de eu perder alguma razão pra querer respirar nesse planeta? E no final, descobrir que o principal sujeito disso é o meu próprio pai?!

Me encarou sem expressão.

— Você mentiu 'pra mim, você me desobedeceu, você me desrespeitou,  você não tem argumento nesse assunto. — falou em um tom alto.

  Eu já me encontrava chorando amargamente, eu não tinha palavras para descrever o que sentia dentro de mim. Todos os meus pensamentos ruins de quando eu era mais nova voltaram.

— Pegue suas coisas e arrume suas malas, você vai embora comigo. — falou se virando de costas.

Por um momento que estava desnorteada, tentei me levantar e acabei caindo de joelhos novamente. Hyunjin que estava parado ao lado da cama, correu até a mim, me levantando.

— Não se esforce tanto, você ainda 'tá frágil. — sussurrou me segurando.

— O que é isso? Por quê 'tá toda roxa assim? E você, garoto? Se meteram em briga? — meu pai questiona.

— Se realmente importasse, já estaria sabendo assim que chegasse.

— Garota, eu sou o seu pai. Você deve saber como falar comigo. — apontou o dedo na minha cara.

— Não! Você não é! O fato de não ter um papel de pai dentro casa, apenas ligando sobre o status da empresa e lucrando, não te faz meu pai. Você não sabe do que eu gosto, você não sabe do que eu sonho, você não sabe do que eu odeio. Você não me conhece.

— Nunca te faltou nada...

— Quem sabe, se você me cedesse um espaço 'pra ficar com você naquela casa fria e silenciosa, eu ficaria em Seul 'pra comemorar meus vinte anos de idade com você? Ao invés disso-

— A Aurora foi abusada. — Hyunjin interrompe minhas palavras.

Meu pai que olhava para o chão de braços cruzados, se aproximou de mim segurando em meus braços, me olhando de cima abaixo. Ficou boquiaberto e se aproximou.

— C-como? — perguntou limpando a garganta.

— Eu passei pela esquina da rua ouvindo agressões, quando cheguei na quadra, o cara estava... espancando ela. — Hyunjin falou com fogo nos olhos.

— Mas já chamaram a polícia? — meu pai pergunta novamente.

Eu e Hyunjin nos entre-olhamos.

— Eu tenho medo.

— Você não pode-

— Ela pode o que ela quiser. Ela já ouviu muitos 'não' vindo de você, agora respeite o espaço dela. Pelo menos isso, é o mínimo que deve fazer.

— Como você acha que pode falar desse jeito comigo? Você não é o responsável dela, eu que sou e eu que devo tomar as decisões disso!

— Ela é a vítima, cabe a ela denunciar. E outra, você é responsável legal, mas ela já é uma adulta, automaticamente ela quem toma suas decisões.

— De qualquer maneira, você vai vir embora comigo. Vou arrumar suas malas. — falou indo até meu guarda-roupa abrindo-o.

— Não. — falei baixo. — Eu não vou com você. Eu já decidi, eu vou morar aqui.

— Mas filha... Você está abalada, não pode decidir assim. E a faculdade? E o seu pai? Hum? Vai me deixar assim? — aproximou de mim novamente acariciando meus cabelos.

— Eu já tinha decidido antes do meu aniversário e eu não quero contato com pessoas que não me querem feliz. — olhei para seus olhos.

— Aurora... Acho que você deveria ir. — Hyunjin comenta.

— Ok, mas depois não precisa voltar também. — assim que falou, deixou meu quarto.

Coloquei minhas mãos entre as pernas, fincando minhas unhas no palmo para não ter que me machucar de outra forma. Meu corpo estava queimando por angústia, meu peito estava carregado e doía, eu me sinto um lixo, me sinto suja, me sinto um trapo. Eu perdi minha honra e nem isso preocupou meu próprio pai.

  Sempre foi a base da empresa a prioridade da vida dele, nem foi preciso acontecer uma tragédia comigo para ele poder olhar um pouco para mim. O medo de sair na rua, fazia minha mente criar coisas absurdas que poderia encontrar novamente, só de relembrar e pensar no que aconteceu e poder repetir, me fazia estremecer e chorar.

  Hyunjin saiu do quarto, pude ouvir bloqueando a senha da porta da sala, isso me confortou. Voltou com uma garrafa de água na mão e me estendeu a que estava livre.

— Vem cá. — segurei nela e me levantei.

Puxou a coxa que estava na cama e me fez deitar sobre ela. Pegou o controle e ligou o ar condicionado e em seguida deitou ao meu lado nos cobrindo. Peguei a garrafa de sua mão e bebi sentindo congelar meus vasos sanguíneos na cabeça.

  Deitado de lado com a cabeça apoiada em sua mão, mesmo de olho fechado eu senti que me olhava. Abri os olhos lentamente e encarei-o, ficamos assim por alguns minutos, somente o som das nossas respirações e do sistema do ar condicionado soava ali.

— Desculpa. — sussurrou.

— Está bem. — umideci os lábios.

— Eu nunca vou me perdoar por isso. — seus olhos avermelharam-se junto com nariz.

Ver o Hyunjin desse jeito me deixava tão triste, eu o amava com a minha vida, ver a pessoa que você quer feliz chorar, é como uma fincada no estômago.

— Se você chorar, eu choro também. — digo encarando o quadro na parede.

— Se você sorrir, eu sorrio eu também. — respondeu.

— Então, por favor, sorrie sempre para eu ficar feliz. — falamos em uníssono.

— Você lembrou. — comentei lembrando das frases clichês que criávamos juntos nas horas vagas.

— Como eu poderia esquecer? — indagou arqueando uma das sobrancelhas.

— Não sei. — respondi olhando para seu tronco que ainda estava despido desde quando chegamos.

— Eu sempre vou estar aqui. — falou sorrindo. — Me desculpa de novo, por não estar quando você mais precisou de alguém e por ter sido sessenta por cento da razão das suas angústias.

— Não se culpe.

  Desceu seu olhar para minha boca e sorriu de canto. Sua mão foi até minha bochecha e se encaixou na minha orelha, acariciou o pequeno hematoma causando um leve choque pela dor. Aproximou rapidamente seu rosto do meu, fechei os olhos apertando-os esperando pelo o que acontecer, soltou uma risada abafada me fazendo sentir sua respiração no meu rosto.

— Hyunjin, agora não... — digo mesmo sentindo sua falta.

  Sorriu e beijou a ponta do meu nariz, sorri pelo ato e me afundei no travesseiro virando meu corpo para ele e adormecendo.

mirror ➸ h.h.ʝWhere stories live. Discover now