Capítulo 1

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Nada foi tão empolgante quanto receber a notícia de que iria trabalhar com os felídeos, uma das quatro famílias modificadas. Não eram exatamente uma família, mas uma pequena cidade com pessoas geneticamente modificadas, ninguém sabia quem os havia criado, estavam lá a cerca de cem anos, geração após geração. Lara Delmar colocou sua última peça de roupa na mala antes de fechá-la, esperava ser chamada para trabalhar com eles desde que entrou na força tarefa, sabia que as revoltas e protestos contra as linhagens estavam aumentando rapidamente.

-Lara, o helicóptero já está pronto - Tony informou depois de bater levemente na porta.

-Já estou indo.

Ela suspirou e ergueu a mala, tirando-a da cama, pegou a arma em cima da mesa de cabeceira e a prendeu no coldre que rodeava sua cintura. O helicóptero decolou dez minutos depois, eles voariam cerca de uma hora até a cidade construída e governada pelos linhagens e Lara resolveu aproveitar a viagem. A fumaça pareceu mais espessa conforme eles se aproximavam, algo muito grande deveria estar pegando fogo.

-L1, aqui quem fala é Delmar, o que está acontecendo? - ela perguntou puxando o comunicador.

-Os protestantes explodiram a primeira torre, alguns dos nossos oficiais estão gravemente feridos.

-Protejam a entrada do dormitório, não permitam que eles cheguem as áreas de convivência e os mantenham longe das escolas, chegarei em menos de cinco minutos.

-Há a ameaça de uma outra bomba, não posso liberar sua aterrissagem.

-Não estou pedindo permissão, estou apenas informando que irei aterrissar.

Lara desligou e vestiu o colete, dando instruções claras para o piloto e seu companheiro. Eles baixariam o suficiente pra ela descer pela corda e seguiriam para a área de pouso, não se daria ao luxo de danificar o helicóptero, ele pode ser necessário em uma emergência. Ela saltou e aterrissou sem danos, o caos no chão era pior do que imaginava, a fumaça irritava os oficiais por causa do olfato aguçado e irritava seus olhos. Lara disparou duas vezes para chamar atenção, por cima daquela multidão, alguns a olharam e ela se desculpou mentalmente por atirar, sabia que machucaria a audição dos oficiais.

-Sou Delmar, oficial das forças armadas e humana, tenho total permissão para abrir fogo contra qualquer protestante.

Ela desviou de um soco, um homem com quase duas vezes seu peso, cambaleou antes de sentir seu braço ser torcido e uma mão se fechar em torno do seu pescoço. Lara o colocou de joelhos e pediu para Tony fazer a contagem regressiva pelo amplificador do helicóptero que, contrariando suas ordens, continuava a sobrevoar o local.

-Em cinco segundos será permitido disparos com arma de fogo contra os protestantes, todos aqueles que não trabalham na Land saiam imediatamente da propriedade. Cinco, quatro, três...

-Mulher estúpida, é por causa de idiotas como você que esses animais continuam se multiplicando.

-Cale a boca ou eu quebro o seu braço, ou seu pescoço.

Depois de deitá-lo de bruços e algemá-lo, Lara sacou a arma e se preparou para atirar, enquanto a multidão corria para os portões. Eram cerca de cem pessoas no pequeno espaço de entrada que ficava logo após o portão norte. Ela disparou na perna de dois imbecis que chutavam um linhagem desacordado e os que estavam perto se dispersaram.

-Façam a porra de uma muralha nessa entrada, o próximo idiota que entrar sem permissão eu atiro pra matar.

Ela gritava enquanto os oficiais formavam uma fileira no que antes deveria ter sido o portão. A multidão foi se dispersando, membros da guarda iam e vinham do local para tirar os feridos e ela guiava os humanos para a enfermaria no prédio ao lado, quase meia hora depois e o prédio estava silenciando, os protestantes já não estavam berrando xingamentos e pregações de ódio.

-Quietos! - ela gritou quando um barulho chamou sua atenção.

Ninguém mais falou, passos pararam e respirações ficaram presas. O "tic tac" pareceu ecoar por todo o espaço, a bomba estava presa ao lado do extintor e ninguém pareceu notar, isso provavelmente era consequência da primeira explosão, os oficiais não estariam com sua audição boa se a presenciaram. Quinze segundos para a segunda explosão.

-Para fora! Todos! Esse lugar vai explodir.

Os oficiais se moveram em uma velocidade incrível tirando os dois últimos feridos e ela os ajudou. Lara sentiu o inferno congelar quando percebeu que o linhagem que havia sido espancado não conseguiria sair sozinho, ela voltou para apoiá-lo. Cinco segundos. Dois metros apenas e ela o girou, ficando entre ele e o impacto da bomba. Seu corpo foi arremessado contra o felino e a mulher sentiu o ouvido zunir segundos antes de perder a consciência.

-Inferno, Laurent! Você quase morreu naquele lugar, o que diabos estava fazendo ali ao invés de estar no escritório com os humanos no telefone?

Lion brigava com seu amigo como se ele mesmo tivesse explodido o lugar em que estava, não gostou nem um pouco de saber que seu protocolo de segurança havia sido jogado pelos ares. Laurent é o representante dos linhagens, não poderia estar na linha de frente contra os protestantes e, se não fosse a fêmea recém chegada, eles teriam ficado sem o líder.

-Eu ouvi a primeira explosão, não vou ficar parado enquanto somos atacados.

-Seu trabalho é ser o gato dócil na frente das câmeras, me explique como infernos você vai fazer isso se tem hematomas em cada maldito centímetro do corpo? E que fim levou o médico que está cuidando da oficial?

-Ele está terminando o último curativo, a humana recebeu todo o impacto ficando entre mim e a bomba.

Lion rugiu e a enfermeira saltou, sabia que seu temperamento precisava ser controlado, mas não se importava com isso no momento.

-Ele não está rugindo para você, Lion está frustrado, não precisa ter medo - Laurent tentava acalmar a mulher que dava o último ponto no seu braço - Pare com isso, você está assustando a moça.

-Sinto muito, não estou bravo com você e nunca machucaria uma fêmea. Valentina já sabe que você está ferido?

-Não, ela está em casa, humanas não têm uma boa audição e ela não costuma sair para correr pela manhã.

-Você tem sorte por morar no lado sul da cidade. Párduc está em coma, ele foi atingido na cabeça durante a primeira explosão.

-Droga!

-Kiara vai nos matar.

-Ela não podia protegê-lo.

-Diga isso quando ela vê-lo, se você sobreviver três segundos depois disso eu paro de te aborrecer por parecer domesticado.

-Não, obrigado.

O barulho de passos calou a conversa, o Dr. Emble entrou no quarto segundos depois, trazendo a ficha de Lara.

-Temos um problema - ele anunciou.

-Não me diga que a humana morreu, isso não seria um problema, seria um desastre natural - Laurent resmungou.

-Ela está melhor do que o esperado.

-Qual é o problema então?

-A última lembrança dela é de seis meses atrás, quando foi atacada por um linhagem sob efeito de drogas.

-Ah, que belo inferno!

-Você não está me dizendo que a humana é Lara, está?

Laurent assentiu e Lion praguejou com mais vontade dessa vez, a pessoa que veio para ajudá-lo a melhorar a segurança, provavelmente iria querer sair dali correndo quando o visse, ou tentar matá-lo.

Linhagens - LionWhere stories live. Discover now