Busão

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Muita coisa acontecia, quer dizer, mais ou menos.

O avião chacoalhava mais do que um pau-de-arara numa estrada de terra do nordeste. Eu estava enlatado com mais duzentas pessoas na classe animal há quase 3 horas sem poder fumar, bebendo um café instantâneo de merda e mais puto que o diabo diante da cruz.

Mas pelo menos eu estava recebendo, e por hora.

Tinha um cara da PF que sempre me pegava uma boa grana para fazer investigações para ele. Depois do Doutor Pilantra, ele era quem mais me explorava, mas pelo menos eu enfiava uma grana violenta no bolso, pois eu sabia que apesar de ele negar, quem tava pagando pelo meu honorário era o governo.

Meu trabalho era rastrear um malandro com uma mala cheia de dinheiro que seria entregue para algum bandido de verdade.

Sim, de verdade.

Eu não to falando de traficantezinho preto de favela, tô falando de homem branco, de meia idade, que anda de terno, gravata e colarinho branco.

Mas eu estava sentado na porcaria do assento do meio. Não tinha a "vista" da janela, nem podia ir ao banheiro sem ter de "pedir licença" ou pular por cima de alguém.

A grande pergunta que restava era como o safado tinha conseguido passar pelo Raio X?

Diz o jargão que a oportunidade faz o ladrão, mas na minha opinião eu sei que o bom ladrão faz a sua oportunidade. Tudo depende da quantia em jogo.

Com um solavanco o busão voador toca a pista. As aeromoças e "aeromoços" emitem um sorriso cansado e falso quando saímos do avião.

Ele chama um Uber, eu suborno o Taxista para ele seguir o Uber. Não. Não é como nos filmes onde você entra no carro e diz pro motorista "siga aquele carro". Aqui, meu amigo, se não morrer um dinheiro você não faz nada.

O cara para num restaurante chique.

Nada acontece.

Café & Cigarros (amostra)Where stories live. Discover now