Conversa franca com Pedro

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Julia passa na pequena padaria perto da casa do irmão e segue para o apartamento, assim que abre a porta Pedro está sentado no sofá, não parecia nada feliz balançando as pernas parecendo nervoso.

— Bom dia Pedro. — Ela passa por ele sem dar muita bola para seu mau humor.

— Julia?. — chama ele com a voz rouca.

Julia se apoia na pia da cozinha e respira fundo, parece que o dia iria começar daquele jeito, cheio de questionamentos e brigas, pegou a toalha da mesa e novamente ouviu seu nome sendo chamado com mais vigor.

— Estou ouvindo Pedro. — Ela segue para a sala de jantar e estende a toalha depois que tirou o vaso de flores.

— Você vai embora com ele? Vai nos deixar? — Ele não a olha.

— Não Pedro.Eu vou ficar. E ele também vai ficar.

Pedro a olha surpreso.

— Isso mesmo. Ele ainda não está convencido disso, mas vai ficar Tenho certeza. — Ela respira fundo e vai até Pedro e se senta na poltrona ao seu lado. — Pedro. Eu e Stieng estamos fazendo terapia de casal já tem um ano, mas as coisas vinham só piorando e quando cheguei no meu limite eu sai de casa e vim para cá. Estava com ódio dele Mas eu o amo. E não consigo ficar longe dele.

— Eu vou fazer uma loucura Julia. — Pedro a encara, Julia se assusta com sua fala. — Vou abrir minha casa pra vocês dois e quero que morem aqui comigo se ele resolver ficar mesmo.

— Obrigada Pedro. Mas acho que um casal que está se reconciliando precisa de uma privacidade enorme. E não sei se Stieng vai se sentir a vontade Por que você deixa claro que não gosta dele.

— Então alugue o apartamento aqui de baixo. Eu ajudo no aluguel se for preciso. Eu quero você perto de mim Julia. — Pedro esta visivelmente abalado e deprimido e deita a cabeça em seu colo e chora.

— O que está acontecendo Pedro? — Julia enfia os dedos em seus cabelos ondulados e sorriu com a lembrança de quando criança que adorava mexer em seus cabelos castanhos cacheados, dizia que Ra seu anjo. — Lembra quando você e o papai brigaram por que você resolveu tomar banho de leite e derramou um vasilhame de leite sobre a cabeça e foi se esconder no seleiro e eu fui a única que te achei chorando por ter levado uns tapas Eu coloquei você no meu colo, você era tão grande que nem cabia no meu colo e fiquei acariciando seus cabelos como agora e acabamos dormindo Mamãe tem a nossa foto até hoje a gente abraçados, dormindo no meio daquela palha toda.

— Como posso me esquecer. Você era a única que aceitava as minhas birras e as vezes dizia que estava comigo no que eu aprontava, papai acabava cedendo, não tinha coragem de bater em nós dois, mas o castigo era severo e nos deixava separados.

— Mas eu fugia para sua cama de madrugada e dormia junto de você. — Ela ri. — Você era tão chorão e medroso.

— Eu odiava aquela fazenda. — Ele respira fundo. — Escutava passos em volta da casa, não dormia direitoE só conseguia dormir quando vinha pra minha cama ou eu ia pra sua. — Ele se levanta e se encosta no sofá e enxuga o rosto. — Quando mamãe disse que eu ia ganhar um irmãozinho eu fiquei com tanta raiva Eu deixei de flaar com ela os sete meses seguidos, mas quando você chegou em casa. Eu me apaixonei e prometi que iria cuidar de você Você só parava de chorar se eu me deitasse ao seu lado no berço, mamãe se gabava para todas as amigas que você nunca chorou a noite e nunca precisou amamenta—la na madrugada, mas eu enfiava o dedinho na sua boca e você voltava a dormir, quando o sol se levantava, eu saia de fininho e ia para o meu quarto ou deitava na cama de solteiro que tinha em seu quarto.

— Ah seu danadinho. — Julia cutuca sua barriga fazendo—o rir. — Você me enganava com seu dedo. Eca. Sabe—se lá se não tinha meleca nele.

— Mas você cresceu saudável e nunca ficou doente.

— Também. Só queria mamar no peito e na teta das vacas que você me fazia mamar.

— Caramba Julia. Eu aprontava mesmo. — Ele ri.

— Você era terrível, mas era natural que fosse assim, papai queria que você herdasse tudo aquilo e no fim, nem eu e nem você tivemos gosto para aquilo.Me ensinou a ter gosto pelos livros — Ela sorri. — Me lembro quando entravamos na biblioteca da cidade e a gente meio que roubava livros, por que não tínhamos idade para fazer ficha e poder pegar livros sem ser com autorização dos pais Mesmo a gente sabendo que podíamos pedir para mamãe pegar Era emocionante roubar livros, mas depois a gente devolvia, largando sobre a mesa junto de outros livros, nunca descobriram não é?

— Não. — ele balança a cabeça. — Mas eu desconfio que a aquela senhora que sempre estava no corredor percebia que levávamos os livros, por que uma vez ela me olhou e deu um sorriso torto e balançou a cabeça me reprimindo, mas não liguei, eu devolvia sempre.

— Bom. Vamos terminar nossa sessão nostalgia e me ajudar na cozinha e preparar o café da manhã, estou com fome e não comi nada até agora. — Ela se levanta puxando a mão do irmão e o levando para a cozinha. — Stieng virá para cá depois. Tudo bem pra você?

— Tudo bem. Desde que ele não queira quebrar á cara de nossos colegas de trabalho.

— Para Pedro. O que aconteceu naquela época foi uma lição em tanto para ele.

— Assim espero.

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SALVA-MEHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin