Pesadelo

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  Laura Hollis havia respirado fundo enquanto caminhava pelo campo vazio em algum lugar da bela Estíria naquela noite. Havia tido um pesadelo com o gato preto e era como se ele a vigiasse em seus sonhos também, desta vez ele estava em um canto próximo a parede e a encarava como se fosse devora-la a qualquer momento. Quando ele ia atacá-la Laura acorda em um pulo de sua cama assustada.

  Resolveu sair um pouco de seu pequeno castelo para enfim espairecer a mente. O campo era quieto e vazio, havia algumas flores por onde Laura passava por perto, tocando em suas pétalas sem olhar para frente.

  Acabou esbarrando em alguém, e por sorte não estava correndo ou então teria caído feio no chão.

— Mil perdões! Eu não a vi e... — Ao olhar bem a moça de preto que ela havia avistado notou que já conhecia aquele rosto antes. — Você? — Chamou um tanto espantada.

— Lady Hollis. — Respondeu a moça se curvando revelando a beleza estonteante que ela tinha.

— Condessa Karnstein. — Curvou-se Laura tanto feliz com surpresa de ter reencontrado a dama que havia conhecido outro dia. — Como conhece este lugar? — Perguntou estranhando o fato de Carmilla uma recém-chegada da Estíria já esteja familiarizada com os locais favoritos de Laura.

— Minha amada irmã me trouxe para conhecer a Estíria, e esse foi o meu local favorito dentre os outros que ela me apresentou. — Sorriu a condessa.

  Laura virou o rosto para encarar as flores evitando contato visual com Carmilla que parecia não compreender muito bem.

— Está tudo bem? — Perguntou a vampira.

— Você já sentiu como se você não conseguisse se encaixar com absolutamente nada nesse mundo? Como se houvesse um fardo tão pesado em suas costas que te sufocasse ao andar?

— Sente-se sufocada? — Perguntou Carmilla e Laura respirou fundo e começou a andar dando a entender que Carmilla deveria segui-la e foi o que ela fez.

— Se lembra da discussão que tive com meu pai sobre?

— Sim. A milady estava bastante aborrecida.

— Não acabou. Ele anseia para que eu me case com um príncipe. Aparentemente ele havia recusado a oferta do Conde Alucard III do reino de Valáquia, de casar-se com a filha dele.

— O Romeno? Vlad Alucard?

— Exato. Parece que a filha dele possui uma saúde frágil, e o rei não quer arriscar ter netos defeituosos. Meu pai se ofereceu... disse que sou jovem e possuo chances, sem contar que de acordo com o ver do príncipe sou "bonita o suficiente". Ele está vindo de viagem agora. — dizia ela disparadamente ao parar de andar e voltar seu olhar para a Carmilla. — Quer me conhecer. Papai quer que ele se hóspede no nosso castelo. Estou com muito medo... Ter de dividir meu conforto com um homem que não estou nem um pouco a favor de casar-me. — Carmilla ergue as sobrancelhas espantada em relação a como Laura gostava de falar e ao notar a expressão da nova amiga, Laura começou a sorrir completamente desajeitada e envergonhada. — Desculpe-me se meu desabafo assustou a senhorita.

— De forma alguma, estou assustada com a audácia de seu pai. Precisamos fazer com que esse príncipe arranje outra correto? — Sorriu a condessa.

  Laura franziu o cenho da testa.

— Minha mãe está a fazer uma viagem de negócios, estou morando com minha irmã em uma das antigas propriedades dos Karnstein, posso viver em sua residência se seu pai permitir durante esse tempo, e ajudá-la a ficar longe do príncipe.

Agora Laura estava mais do que surpresa. A Condessa queria mesmo ajudá-la?

— Não irei perturbá-la com meus problemas milady, não tem necessidade. Você é uma condessa, a herdeira dos Karnstein. Morar na minha casa temporariamente apenas para expulsar o príncipe será um...

— Uma ótima forma de passar o tempo. — Interrompeu Carmilla. Deixando Laura cada vez mais surpresa. — Minha irmã quase nunca está na mansão e eu passo minhas manhãs lendo livros de romance, minha querida. Ter uma nova amiga com quem conversar será bom pra mim.

  Laura sorriu enquanto olhava para os olhos da condessa. Havia algo naquela mulher que despertava na moça de cabelos loiros uma enorme vontade de continuar perto dela.

— Irei falar com o meu pai. Onde posso encontrá-la? — Perguntou Laura entusiasmada.

— Me dê o endereço de sua propriedade, irei aparecer amanhã à tarde durante o almoço. — Respondeu a condessa e Laura balançou a cabeça positivamente curvando-se para a condessa e voltando para seu pequeno castelo.

— Lady Hollis! — Chamou a vampira e Laura olhou de volta antes de prosseguir o caminho. — Em uma coisa eu concordo com o seu pai. A filha dele é realmente muito bonita. — Sorriu dando as costas para Laura e seguindo ao lado oposto deixando a moça confusa com aquelas palavras que parecia um flerte, mas... Isso era impossível né?

***

  Rachel banhava-se com a ajuda de Johanne, ela estava inexpressiva, completamente amedrontada, havia visto seu pai matar aqueles ingleses com brutalidade pelas costas! Sem ter dado a chance deles de retribuírem o favor? Aquele era o herói da Romênia? O conde da Valáquia? O homem que salvou diversas vidas é um covarde sanguinário que ataca por trás?

— Quando disse que tinha medo que meu pai a matasse, eu achava que falava no figurativo. — Disse ela com as lágrimas expostas. Despertando o olhar de Johanne.

— Sinto muito senhorita... Não era para ter visto aquilo, não sabia que seu pai estaria naquela floresta aquela hora... — Disse ela lavando o rosto da condessa com cuidado.

— Ele mentiu pra mim. Me enganou, disse que estava fazendo um bem à nosso reino, quando na verdade estava afogando os corpos daqueles homens em sangue pelas costas. Covarde. Que tipo de homem não dá ao adversário a chance de lutar por sua vida?

— Vai ver, eles haviam tentado algo contra ele. Você não sabe o que aconteceu senhorita.

— Certa vez, quando ainda era menina, estava brincando no pátio de meu castelo quando ouvi os cavaleiros comentarem sobre o sanguinário Alucard. O homem obcecado por seus inimigos. Disseram que meu pai olhava dentro dos olhos do morto e lambia o sangue de sua espada...

— Rachel...

— Achava que era mentira... Achava que eram apenas... Boatos. — Ela franziu o cenho da testa e levantou-se exibindo o belíssimo corpo escultural completamente nu. Pisou no chão frio e Johanne a secou seu corpo usando um roupão gigantesco da realeza.

  Se dirigiram ao quarto onde um enorme vestido cor de vinho a esperava junto à uma máscara preta reluzente.

— Sinto muito... — Disse Johanne confirmando a suspeita de Rachel.

— Naquele mesmo dia eu me machuquei. Vi a preocupação nos olhos do meu pai, ele estava desesperado por que eu não parava de sangrar. Uma garota frágil, que não podia se machucar... Daquele dia em diante, nunca mais vi aquela cidade novamente, não saí deste castelo. Sempre acompanhada por alguém... — Contava enquanto Johanne a ajudava com o vestido. — Nunca sozinha, e se eu arranhasse um dedo, o funcionário era descartado logo no dia seguinte. — Ela estava pronta. Sentou-se para iniciar a maquiagem e o cabelo.

— Não se preocupe, irá encontrar um bom marido, e irá ser muito feliz senhorita.

— Ah Johanne, já tenho 17 anos. Todos que ficam interessados desistem, pois sabem da minha condição em quesito saúde. — Sorriu esperando o término da maquiagem para que arrumassem o cabelo.

— Acredito que irá ser muito feliz ainda, milady. — Johanne sorriu, mas Rachel não acreditava naquelas palavras forçadas e repetidas que a serva sempre buscava soltar...



Alucard: O Início - Vol 1 - Uma história Renegados do Inferno - Vol 1Where stories live. Discover now