Control

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  Depois de aproximadamente 28 horas sem dormir e apenas limpando o castelo todo sem parar, Rachel dava os últimos esfregões com o pano encardido no meio da biblioteca real.

  Precisava distribuir a raiva em algo e com isso veio a brilhante ideia de limpar o castelo. já estava no horário de almoço, e tudo que Rachel conseguia pensar era em sangue humano. Tinha que se livrar daquele pensamento.

  Dormir? jamais. Os pesadelos dos moradores sendo devorados por ela não saiam de sua cabeça, e ela não queria ser uma assassina, não era esse o destino que ela tinha em mente.

  Mal, mal teve tempo de pensar sobre como incrível era ela não estar cansada após 28 horas de trabalho exaustivo. E... Bom... Usando apenas um roupão como peça de roupa.

  Agora que não havia ninguém pelo castelo, ela não tinha nenhuma obrigação de utilizar aqueles malditos corsets apertados.

— Que droga. Estou com fome, mas não quero comer nada além de um ser humano! Virei o que uma canibal? — perguntou olhando para cima. — Ótimo... Já estou começando a falar sozinha! Daqui a pouco verei cavalos alados sob o castelo.  — Concluiu jogando o pano com tudo para o lado. — Não pense na fome Rachel... Não pense na fome... — Respondeu tentando focar em qualquer outra coisa que não seja a sede por sangue.

  Foi então que ela reparou no local onde estava.

  Uma biblioteca. Oras, o que melhor para passar o tempo e tirar a atenção dela do que livros?

  Rachel sorriu.

  Iria devorar aqueles livros antes de pensar em matar alguém de novo.

***

  A igreja estava vazia e Carmilla havia dito para Perrigton que não iria, mas como a governanta não era lá fácil de se vencer, acabou convencendo a condessa.

  Lafontaine também foi para acompanhar Laura e as demais. Uma mulher simples e de poucas palavras. Seus olhos eram claros e a pele tão pálida quanto a de Carmilla. Lafontaine tinha os cabelos bastante curtos, mas isso não tirava sua feminilidade já que os vestidos das governantas afeminavam seu corpo.

  E Carmilla. Bom no olhar de Laura, Carmilla estava estonteante como sempre, e pela primeira vez, ela estava fora de seus habituais vestidos pretos, os trocou para utilizar um vestido dourado, acredito que fez isso em respeito ao local onde se encontrava, ir de preto para uma igreja só era permitido em velórios.

  Sabíamos que Carmilla era muito branca e que devia tomar cuidado com sua pele, mas além de óculos escuros ela também usava um guarda-sol, para se proteger da claridade. Ser precavida era algo que a condessa realmente estava disposta.

  Laura se ajoelhou e começou a pedir em seus pensamentos para que aqueles sentimentos impuros que ela tinha sempre que Carmilla estava por perto fosse embora. E assim que terminou percebeu que ela nem sequer estava dentro da igreja.

— Aonde está a Srta. Karnstein? — Perguntou Laura às suas governantas.

— Lá fora, disse que estava com muita dor de cabeça e que preferia esperar lá . — Disse Lafontaine e Laura franziu a testa indo em direção à condessa.

— Ei, você está bem? — Perguntou ao ver a condessa parada do lado de fora da igreja.

— Sim, estou bem, apenas na espera da milady. — Respondeu se voltando para Laura.

— É que as minhas governantas me disseram que estava com dor de cabeça, achei que estava passando mal, Carm. — Ela sorriu e logo percebeu a besteira de que havia falado.

— Carm? — Perguntou para ter a confirmação de que havia escutado direito. Ela havia usado uma abreviação de seu nome?

— Mil perdões! — Respondeu de imediato. — Não deveria ter dito isso, mil perdões, é que estou acostumada de chamar minhas governantas pelo apelido devido ao fato de terem praticamente me criado. — Sorria completamente desajeitada e falava tão freneticamente que precisou buscar ar logo em seguida.

— Não peça perdão sua tola. — Disse Carmilla sorrindo. — Eu gostei. — Respondeu despertando ainda mais a curiosidade de Laura.

— Gostou? — Perguntou. — M-Mas isso é intimidade demais em pouco tempo de amizade. — Disse Laura.

— Então quer dizer que já se sente íntima o suficiente para apelidos, Laura? — Perguntou fixando o seu olhar na moça de cabelos dourados que estava tão corada que não sabia como responder aquela pergunta.

  Por sorte, Lafontaine e Perrigton interromperam a conversa de ambas ao chegarem contando as novas novidades.

— Acabamos de descobrir um fato horrendo que ocorreu ontem a noite. — Disse Lafontaine se voltando para as duas, aparentemente elas estavam conversando com uma das senhoras que passaram perto da igreja. — O filho do açougueiro morreu. — Continuou explicando a situação.

— Disseram que foi ataque de animal... Um coiote ou talvez um lobo... — Continuou Perry fazendo Laura estranhar.

— Mas... Nesta época do ano? Coiotes e lobos? Na Estíria? — Disse Laura e Carmilla parecia ter ficado um pouco tensa.

— Devem ter vindo da América, recebi cartas de uns amigos meus de que lá anda bastante calor, animais estão se movendo. — Disse Carmilla inventando desculpas.

— Pobre rapaz. Houve rumores de que ele iria pedir a filha do artesão em casamento esta semana. — Disse Perrigton e Lafontaine a abraçou para reconfortá-la. — O corpo do rapaz foi encontrado com o pescoço completamente dilacerado... O que quer que tenha feito isso, virá novamente...

— Não se exalte, não vamos ser abrasivas, nem sabemos se foi realmente um animal.

— Óbvio que foi um animal! O que mais poderia ter sido? — Disse Carmilla um pouco assustada. — podemos voltar ao castelo? Minha cabeça está estourando e não suporto mais carregar este guarda-sol. — Ela sorriu um tanto nervosa e Laura fez que sim com a cabeça.

  Pescoço dilacerado... Laura acabou se recordando do seu sonho. Nele Carmilla sempre acabava por mordê-la na região do pescoço. E o fato da condessa ter ficado tão amedrontada devido a notícia havia espantando a moça.

  Não... Vamos Laura, não deve pensar em tais atos.

  Logo a jovem de cabelos dourados balançou a cabeça tirando a tal possibilidade da cabeça. Não era por ela ser filha de uma bruxa iluminada que Carmilla também seria uma renegada do inferno. Não... Seria muita coincidência. Não seria?

***

— Entediante... — Disse Rachel largando, outro livro.

  Dias e dias, devorando os livros, se alimentando e bebendo água do castelo, e a bendita fome não passava. E  pior é que ela ficava cada vez mais intensa

  Rachel ao se olhar no espelho percebeu estar com os olhos fundos e a pele pálida e desnutrida, mais do que já era. Ela precisava se alimentar de outra coisa e sabia disso. Não estava mais aguentando, seu cérebro já não pensava por si só.

  Foi então que ela ouviu um gemido. Alguém gemendo dor a quilômetros do castelo. Mas o cheiro... O cheiro fez as veias negras se dilatarem do corpo da vampira, seus olhos brilharam com o vermelho intenso, e suas presas... Ah, aquelas presas iriam devorar um pescoço aquela noite.



Alucard: O Início - Vol 1 - Uma história Renegados do Inferno - Vol 1Where stories live. Discover now