O Início da Jornada

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  Um barulho estranho de patas de cavalos cavalgando sobre uma extensa estrada de barro percorreu pelos ouvidos da vampira Alucard. O chacoalhar da carruagem a fazia abrir lentamente os olhos ainda turvos e embaçados devido a tontura e dor sofrida desde sua última memória.

  Sua última memória...

  Verdade, ela havia sido exorcizada pelo tio! Em um pulo Rachel se sentou com tudo assustada por estar dentro de uma carruagem e o desespero entrou por todos os poros e células de seu corpo. Aonde diabos ela estava? Ou melhor, para onde ela estava indo?!

— Acalme-se minha sobrinha, já estamos chegando ao destino. — Respondeu Van Alucard de pernas cruzada e mantendo a postura de um conde.

— Chegando aonde?

— Aparentemente nosso plano A, não veio a dar muito certo, então pensei no nosso plano B, e acredito que a Valáquia não é o local correto para ele ser executado.

— Do que está falando? Me tirou da Valáquia? Para onde estamos indo?

— Acalme-se Rachel. — Disse Van finalmente encarando a sobrinha que até poucos minutos estava deitada em seu colo. 

  Ele veio cuidando dela desde então?

— A quanto tempo estou desacordada?

— Aparentemente, 6 dias. 

— 6 DIAS?

— Foi muito pra você. Desculpe, deveria ter imaginado que um exorcismo seria demais. Já que você não está possessa, está... Bom você é um demônio então exorcismo só lhe causaria dor.

  Rachel se ajeitou um tanto pensativa.

— Tome. — Disse pegando logo a sua frente uma garrafa de pano marrom e a entregando. — Beba isso, deve estar com sede. E eu não quero virar o seu jantar. — Respondeu, e Rachel imaginou que aquilo fosse sangue, devorando com a fome que lhe matava as entranhas.

  Porém, ela cuspiu tudo de uma vez vomitando no meio da carruagem o que havia bebido.

— Céus Rachel... Postura! És a condessa de um império!

— O que diabos é isto? — Ela perguntou vomitando todo o sangue que ele havia lhe dado.

— Sangue de carneiro. — Rachel franziu o cenho com nojo em sua expressão. — Achou que eu fosse fazer o que? Matar o cocheiro e dar ele de presente pra você? Primeira regra é que se você for fazer isso, então irá fazer do meu jeito. Aprenda a saborear o doce sangue de animal. Toda vez que abater algum animal, o sangue é todo seu.

— Não consigo beber isso, é muito... É como seu eu tivesse comendo jiló!

— Jiló faz bem a saúde. Sangue humano possui muito colesterol, aproveite sua alimentação, e evite vomitar sangue no banco da carruagem, não sou obrigado a pagar minhas moedas de ouro para que o cocheiro limpe e fique calado.

  Rachel revirou os olhos.

— Irei morrer de fome com você do meu lado, tio.

— Ah... Você nem faz ideia. — Respondeu deixando Rachel um tanto desconfiada. — Antes de desmaiar me disse uma coisa estranha. — Falou olhando para frente. — Disse que "ela" está em todo lugar e que não iria te deixar ir. 

— Elizabeth... Vi ela, era como se ela visse por detrás de mim e eu visse por detrás dela. Ela estava na minha cabeça como se controlasse a situação. Acho que impediu que o exorcismo fosse completado. 

— Como desconfiei.

— Do que?

— Ela não teria interrompido da distância que está se não fosse algo completamente importante pra ela. A ponto de gastar tanta magia negra que foi capaz de impedir um exorcismo a quilômetros de distância usando você.

— O que quer dizer com isso?

— Quero dizer o óbvio Rachel. Não está claro? — Perguntou respirando fundo com a lerdeza de sua sobrinha. — Elizabeth está conectada a você. Ela precisa de você na terra. E enquanto ela estiver conectada, você não pode ser exorcizada ou ela iria reparar.

— Então... Como irei remover essa conexão? — perguntou Rachel e a carroça acabou parando.

— Bem vinda ao plano B, Rachel. — Respondeu abrindo a porta e descendo as escadas do lugar úmido e frio do norte da Romênia.

— Barsa...

  Eles estavam na mansão de Van Alucard. Em Barsa, na Romênia. O que reforçava o pior vindo desse tal... "Plano B".

***

  Carmilla Karnstein estava louca para devorar alguma bolsa de sangue. O estresse que passou indignada com a escolha de Laura fora grande o suficiente para deixar a condessa desidratada.

  Tudo bem que ela saia de vez em quando do castelo as escondidas para beber do sangue de alguns homens sedentos por uma mulher inocente e sozinha, mas que nunca havia sentido tanta fome depois daquele dia.

  Laura havia provocado ela. E aquilo nunca acontecera antes, geralmente quem provocava era a vampira Karnstein. Mas Carmilla não mentiu à Matska quando disse a ela que a princípio Laura era apenas uma curiosidade, pois ela jamais havia se interessado em alguma garota daquela forma, nem mesmo quando estava viva.

 Porém a coisa foi ficando cada vez mais séria e Carmilla foi ficando cada vez mais apegada a lady Hollis, o que era de longe sua intenção verdadeira. Vampiros possuem uma conectividade muito intensa com animais, e especialmente na parte hipnótica, invadir os sonhos de Laura era uma das suas coisas favoritas de se fazer, Carmilla gostava de provoca-la e ver que Laura gostava ainda mais daqueles sonhos, o que ela não sabia era que aquela despedida machucaria tanto um coração que nem sequer pulsa.

  Ela respirou fundo ao descer da enorme carruagem em frente a mansão dos Karnstein. O cocheiro a ajudou com as malas pesadas e a vampira se dirigiu usando um enorme chapéu negro e óculos escuros para se proteger da claridade, odiava aquela sensação de olhos queimando devido a aparência vampírica.

  Bateu a mandrágora das enormes portas amadeiradas da gigantesca mansão dos Karnstein, e esperou que fosse aberta. Para sua surpresa, não foi uma serva ou governanta ou alguém que trabalhasse na mansão que a abrira.

  Fora ela mesma, a própria. Com seu belíssimo vestido dourado e postura elegante, Matska abriu a porta com uma expressão nem um tanto confortável.

— Já sei, eu sei o que irá me dizer minha irmã, porém antes que venha a me dar sermões... — Dizia entrando em disparada dentro da mansão cuja os papéis de paredes eram vermelho-vinho. — Já quero que saiba que abandonei de vez aquela família, agora irei me programar a frente e...

— Carmilla... — Interrompeu uma voz familiar e bastante suave, mas que não era a da sua irmã.

  Uma mulher usando um vestido amarronzado e bastante decorado em pedras preciosas, esbanjava-se do decote a mostra dos seios fartos. Sua aparência era de ser uma mulher tão nova quanto Matska. Talvez uns 27 a no máximo 32 anos. Ela se levantou com um sorriso encantador como se visse uma obra prima a sua frente.

— Adorei a cara de espanto querida, o que foi? Viu um fantasma? — Sorriu ela fazendo Carmilla engolir em seco.

— Pior. Ela viu um demônio. — Respondeu Matska se aproximando. A condessa apenas fechou os olhos tentando recuperar a postura ao finalmente cair sua ficha e tentar controlar a situação.

— Olá... Mamãe.

Aparentemente, Elizabeth havia finalmente resolvido seu "negócio pendente".



Alucard: O Início - Vol 1 - Uma história Renegados do Inferno - Vol 1Where stories live. Discover now