O Reacender dos Mortos

865 136 11
                                    

  O ritual se deu início. Enquanto a bruxa recitava palavras ao contrário em latim e hebraico de sua magia negra, Vlad mergulhava a cabeça por dentro da banheira de sangue, ele não emergia, mesmo depois do ritual ter sido completado.

  Segundos se passaram e nada do conde. A bruxa encarava a banheira com os olhos brilhantes e alaranjados, prosseguindo com mais magia negra sob a banheira, jogava uma espécie de pó negro sobre o sangue e por fim... Sussurrou para o conde ainda inerte debaixo da banheira.

— Ressurja... torne tua carne imortal, para o reascender dos mortos... E assim trarás a mim o meu propósito! — Sussurrou ela e em um pulo Vlad ressurgiu da banheira com os olhos avermelhados e veias negras dilatando-se para fora de seu rosto.

 Ele não conseguiu respirar e saiu de dentro da banheira ainda nu e completamente sem fôlego.

— Irá se adaptar. — Respondeu a bruxa, mas sua voz ardeu-lhe os ouvidos que estava mil vezes mais alta que o normal.

  A dor era insuportável, e as veias se dilatando por todo o seu corpo mostrando uma cor pálida e desnutrida de luz solar mostrava o quão doloroso era o procedimento de "adaptação".

Seus olhos brilhavam um vermelho intenso e Vlad sentiu-se poderoso e frágil ao mesmo tempo, naquele exato término do ritual.

— O que... F-Fizeste comigo? — Ele perguntou.

— Te dei o poder de destruir um exército inteiro, meu conde.... Agora irá retornar para tua casa, e se quiser fazer com que sua filha sobreviva, dará a ela do teu sangue a beber. A magia que usei pra você, é dela, seu corpo não vai resistir muito tempo.

— Como... C-Como saberei que está falando a verdade? — Perguntou ainda tentando buscar fôlego.

— Terá de confiar caro conde. — Respondeu sorrindo. — Acho melhor correr, pássaros me disseram que ingleses vingativos estão atacando o seu castelo neste exato momento... Rachel precisará de ajuda... — Ela sorriu respirando fundo e Vlad arregalou os olhos se levantando vagamente e pegando a manha do novo corpo ao vestir rapidamente, mais rápido do que um ser humano ou qualquer outro ser vivo.

— Cuidado com a adrenalina, caro conde. — Disse ela sorrindo e ele correu para fora da igreja, porém antes de sair ele parou para se virar.

— Quem é você? — Perguntou olhando para ela que sorriu lentamente para ele.

— Eu? Não sou ninguém...

— Exijo um nome... — A bruxa lhe entregou um sorriso ainda mais longo e medonho do que o normal.

— Meu nome... — Ela respirou fundo ao dizer. — Elizabeth. Elizabeth Bathory Karnstein.

***

  Era verdade... A guerra havia chegado ao castelo de Bran. Situado no reino da Valáquia. 

  Ingleses de todos os cantos marchavam em raiva e ódio prontificados a destruir toda Valáquia por vingança contra o cruel Conde Vlad Alucard.

  Aparentemente o conde havia destroçado não só aqueles homens, mas diversos outros com sua espada. Torturou e brutalizou muitos deles independentemente da idade, apenas por diversão.

  Para a Inglaterra, o conde não enfrentava a guerra como algo sério e sim como uma piada e entretenimento. Acontece que eles não estavam errados...

  Vlad Alucard era um monstro mesmo quando ainda era humano. E a única vez em que ele se prontificava a ter um coração bondoso, era quando se tratava de sua família. A guerra? Quem sabe não fora o próprio conde que começou ela?

  Quando Vlad voltou, ele já havia se tornado uma máquina de destruir pessoas, e especialmente, um sanguessuga imortal.

  Ele sorria enquanto derramava os sangue de seus inimigos. 

  Um único homem contra milhares de outros. Degolando seus pescoços com as unhas gigantescas e negras, ou mordendo-os ao ponto de rasgar a garganta.

  Quando Vlad acordou havia notado que seus sentidos haviam se amplificado muito mais. O poder da sensibilidade dos mortos era incrível, embora sua pele prosseguisse gelada e seu sangue não coagulasse muito bem. Porém agora ele escutava muito mais, cheirava muito mais, enxergava até mesmo durante a noite, e era justamente a noite que seus poderes vampíricos se fortaleciam, pois o sol queimava um pouco seus olhos como se estivesse em uma terrível ressaca.

 Era óbvio que um vampiro logo despertaria a atenção do próprio povo romeno. Onde já se viu? Um vampiro? Um morto-vivo sanguessugas? Para o povo, ele deveria ser apenas um adorador de satã que havia feito um pacto.

  Ele havia destroçado um exército inteiro usando sua velocidade e força...

  Um exército inteiro com o poder que deveria ser de sua filha... Por um momento Vlad pensou se Rachel conseguiria conviver com aquilo. Mas não importava, não agora que seu povo o assistia daquela forma, completamente sujo com o sangue... Aquilo viria ser um problema muito maior...

— D-Demônio... — Disse um dos camponeses correndo para longe para avisar logo ao povo que o príncipe romeno era na verdade, o príncipe das trevas.

— Padre! Padre! É o demônio! Ele é o diabo! — Gritava outro camponês espalhando a notícia da barbaridade cometida pelo conde.

  E meio aquela confusão, Vlad percebeu que o povo se rebelaria contra ele. Então correu para sua casa pronto para salvar a sua filha mesmo que coberto do sangue dos próprios inimigos. Pelo menos Rachel ele salvaria em meio aquela burrada.

  Em questões de segundos toda Valáquia se desesperou, tantos corpos amontoados próximos ao castelo, e tudo aquilo feito por um único homem! Aquilo era o ápice para que o povo se rebelasse contra o conde e obviamente fossem com seus tridentes em direção ao castelo.

  Não permitiriam que um ser vindo do inferno destruísse seus lares e matasse suas esposas e filhos! O medo do povo era tamanho grande que não conseguiam mais falar o nome do príncipe das trevas... Conde Alucard não era mais o conde Alucard.

  Agora para a Romênia, ele tinha outro nome.

— Matem o Drácula! — Gritou um homem segurando uma estaca de madeira.

***

  Rachel Alucard corria no meio da floresta de vários lobos que a seguiam. Sua respiração estava ofegante e frenética até o momento em que finalmente Rachel encontra um local para se esconder. Uma igreja abandonada no meio da floresta.

  Bateu diversas vezes na porta encarando a escuridão da floresta para garantir de que os lobos ainda não haviam chegados, mas não houve respostas, então ela simplesmente abriu a porta e a fechou usando os bancos amadeirados como obstáculos para que os lobos não a abrissem.

  Deu certo. Exceto que uma mão apertou o ombro da menina, que levou um enorme susto olhando rapidamente para trás em busca de ver quem estava lhe fazendo companhia.

  Mas não havia ninguém...

— Rachel Alucard... — Sussurrou a voz feminina por todo o lugar, fazendo a condessa encarar a igreja de um lado para o outro.

E então uma risada se é ouvida ecoando pela igreja.

— Quem está aí? — Perguntou a menina assustada e ofegante em busca de respostas...

— Entre a noite, o sol se esconde. Pelas trevas,o sangue esbanja-se no solo sagrado... Tua alma é devorada pelos caídos daqueles que  tanto teme. E então o coração puro se torna escuro e vazio... — Dizia a voz de uma mulher que deixou de se tornar apenas vultos para ganhar uma forma.

Um rosto desfigurado e cheio de marcas.

— O que é você?

— Sou a morte, a vida, a imortalidade... Sou o seu demônio... A sua alma... O seu... Destino... — Sussurrou. — Bem vinda ao seu inferno, Rachel...

Alucard: O Início - Vol 1 - Uma história Renegados do Inferno - Vol 1Where stories live. Discover now