A Decisão de Laura Hollis

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  Barsa, norte da Romênia. 

  O ar da Romênia era de fato incrível. Rachel queria poder respirar fundo novamente, suspirar e se sentir viva pelo menos uma única vez. Porém, tudo o que conseguia, era de fato sentir-se a beira do abismo da morte. Era como se toda sua vida tivesse sido drenada e o pesado fardo do mundo se entregasse em suas costas.

  Especialmente dentro da mansão de Van Alucard.

  Uma enorme mansão com o papel de parede vermelho e preto coberto por ornamentos curvados em detalhes. Seus móveis rústicos e amadeirados não tiravam a beleza de um conde. Os quadros de sua família enfeitavam as paredes da casa. Espadas, facas, estacas e diversos tipos de armas estavam espalhadas por toda mansão.

  Rachel estava ali. Amarrada a uma cadeira escutando as árduas palavras do tio enquanto tentava não focar na dor que sentia em sua perna ensanguentada.

— T-Tem certeza disso?

— Não. — Respondeu amolando a lâmina de sua espada em uma pedra enorme. — Mas, talvez, se eu descobrir uma forma de te matar até Elizabeth sair da sua cabeça, isso ajude.

— Ou me mate de uma vez.

— Prefere morrer ou viver assim Rachel? — Perguntou e a menina não fazia ideia do que responder, de fato sobreviver para matar pessoas que não tinham nada a ver com isso era covardia demais.

— Talvez me torturar não seja de fato a chave meu tio. Talvez devêssemos procurar por Elizabeth.

— E iremos. Caso o plano B não dê certo.

— E por que não fazemos isso antes de me matar até "ela sair da minha cabeça"?

— Por que, Elizabeth jamais cederia a te ajudar, e nem eu e nem você poderíamos lutar contra uma bruxa negra capaz de interromper um exorcismo feito com água benta batizada por três anjos diferentes Rachel. Essa mulher é mais poderosa do que imaginei.

— Me disse que já matou uma bruxa negra antes.

— E ela retornou a vida! Quase me matou e tive de sumir de Barsa por um tempo até ter a certeza de que ela havia ido embora! — Respondeu se aproximando com a espada e a água benta.

— Espera... não vem com essa coisa... Isso arde! Por favor se vai fazer isso faça de maneira indolor!

  Van respirou fundo.

— Rachel entenda uma coisa. — Respondeu pingando três gotas na lâmina de sua espada. — Eu já matei demônios. E todos eles voltaram a vida a não ser as que são meio humanos. Se tiver uma chance de você ser ainda humana. Eu preciso saber. E isso, vai ajudar bastante. — Respondeu colocando o frasco em cima de uma mesa de madeira no canto esquerdo da lareira da sala. 

  Rachel estremeceu. Aquilo iria doer. E pior. Aquilo... Iria demorar. 

***

  Laura caminhava lentamente pelo jardim. Aquele lugar lhe dava paz. Aquele campo vasto e imenso coberto por rosas e diversos tipos de flores. E o verde, ah o verde! Transmitia uma paz tão imensa. Ela amava aquele lugar. Ah como amava!

  Laura havia reencontrado Carmilla certa vez naquele mesmo lugar. A condessa até havia dito que sua irmã lhe apresentou a Estíria. E foi através dela que Carmilla conheceu aquele lugar. Estaria Laura ali para pensar? Ou porque ainda tinha uma certa esperança de que a vampira Karnstein estaria ali a sua espera?

  Que besteira Laura! Óbvio que não. Carmilla não perderia mais seu tempo nobre com uma garota que tinha medo de arriscar por que era pecado ou por que tinha medo da sociedade. Logo ela, a filha de uma renegada do inferno.

  As vezes ela se esquecia disso. Esquecia que também tinha um sangue negro em suas veias. E se esquecia que seu pai também arriscou por amor. Se deitar com uma bruxa seria sim uma das escolhas mais difíceis para ele, então.... Talvez ele entendesse. Ou não.

  Provavelmente não. E principalmente o príncipe da Prússia. Ele jamais aceitaria ser rejeitado. E o rei esfolaria Laura. Ela sabia disso. Se ela se recusasse a se casar com o príncipe o rei caçaria Laura por todo o reino. E isso sim seria o maior dos problemas.

— O que eu faço? — Perguntou a si mesma e um ronronar de um gato chamou sua atenção. 

  Um gato preto acariciava seu vestido miando e ronronando para Lady Hollis que franziu o cenho da testa. Aquele não era o gato de Carmilla?

  Virou-se rapidamente e deu-se de cara com a condessa igualmente surpresa com a presença da moça. Aparentemente ela não imaginava que Laura estaria ali.

— Achei que a milady já tivesse partido para a Prússia. — Respondeu Carmilla agachando-se para pegar o gato no colo.  

— Irei depois do pôr-do-sol. — Respondeu sem tirar os olhos da condessa.

— Compreendo. Sinto muito atrapalhar seus pensamentos, achei que...

— Foge comigo Carm? — Perguntou freneticamente interrompendo a condessa que arregalou os olhos na mesma hora.

— Que? — Perguntou devolvendo o gato ao chão ainda em estado de choque acreditando ter ouvido errado.

— Foge comigo...

— Do que está falando Laura? Enlouqueceu? E seu noivado? E seu pai? Não pode fugir! O rei iria..

— Não quero saber. Não quero esse casamento Carmilla. Não quero viver presa a um homem que não amo. Não quero temer que meus filhos descendam minha magia, não quero arriscar que descubram que sou uma bruxa, e não quero.... — Ela pareceu hesitante ao dizer a última frase, porém um impacto de coragem a fez dizer. — Não quero perder você Carm...

  Aquelas palavras vieram como um tiro para a condessa. E sinceramente, o que Carmilla tinha a perder?

  Passou tempo demais sendo obrigada a servir aos gostos da mãe, que só a usava para seu próprio bem. Sem contar que Laura ainda mexia com ela, mais do que qualquer outra mulher já mexera. Ela não tinha nada com o que perder. Só tinha a ganhar.

— Me encontre aqui antes do pôr-do-sol, irei buscar minhas coisas, não leve malas gigantes para não levantar suspeitas, e Laura... — Dizia segurando as mãos da moça. — Cuidado... — Respondeu entregando-lhe um selinho intenso e retornando em direção a sua mansão às pressas pronta para organizar um plano de fuga.

  Laura sorriu ao se virar para fazer o mesmo.

  Ela estava decidida. Iria fugir com Carmilla, e as duas se tornaria um só. Exatamente como a condessa havia lhe prometido ao se deitar com ela.

Alucard: O Início - Vol 1 - Uma história Renegados do Inferno - Vol 1Onde histórias criam vida. Descubra agora