Vulto na multidão

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Aquele dia era o que Gerard ousaria um pouco mais para defender o que acreditava. Ele e seu irmão, Mikey, seriam apenas alguns dos milhares de estudantes nas ruas de Paris daquele dia de maio.

Ele se encarava no espelho à medida que fechava o zíper de sua jaqueta preta de couro, que sem dúvida era uma de suas favoritas. Ao chegar na sala, o irmão usava uma camisa de gola alta branca com a calça de paletó cinza. A armação redonda de seus óculos deslizava levemente pelo seu nariz, obrigando-o a ajustá-la com a mão um pouco antes de bater na porta do quarto de Gerard.

- Você está pronto? O centro da cidade já deve estar cheio de pessoas. É esse horário o que o jornal de ontem disse. - ele falou.

- Sim, eu estou indo. - Mikey fechou a porta para o aguardar.

Os dois irmãos já dividiam apartamento há certo tempo, desde o último ano de escola do mais novo, e, enquanto Mikey era um calouro de 19 anos, Gerard já estava no seu penúltimo ano do curso de artes. Ele costumava a dizer que era sensacional e um privilégio viver na França quando se interessava por essa área, e previa que os próximos anos, quando já estivesse formado, seriam os que ele mais poderia aproveitar: o começo da década de 70.

Michael Way vivia de forma mais diferente que seu irmão. Sendo sempre o orgulho de toda a família, começara o curso de direito, não por nenhuma grande vontade, mas por uma certa indecisão sobre o que realmente queria seguir. Como sua vocação nunca foi encontrada, ele simplesmente escolheu o que mais valesse a pena, para si mesmo e para os outros. Quando ele fosse um advogado, ele gostaria de continuar com a sua característica de ajudar os outros. Sempre fora um garoto quieto, mas extremamente gentil.

Por mais que Gerard também tivesse ambas dessa qualidade, ele sempre se desviou do que as pessoas esperavam que ele fosse ou do que as pessoas esperavam que ele fizesse. Era um adolescente esquisito e que vivia "fora de seu tempo", de acordo com as palavras de seus professores, que não diziam isso de forma que soasse como um elogio. Sua personalidade forte acabou sendo uma influência para o caçula.

Depois de o tempo que só serviu para Gerard dar um longo suspiro e tirar os cabelos negros do rosto, ele saiu do quarto e encontrou Mikey na sala. Eles desciam as escadas do prédio e carregavam os cartazes de reinvindicações nas mãos. O país estava passando por sérios problemas, e, eles, como universitários, seriam os melhores para mudar isso.

Qualquer jovem francês precisava ter fé que o futuro dependia deles, porque isso era o que os mantinha determinados. Todos os últimos anos da década de 60 haviam sido turbulentos, nacionalmente e internacionalmente. A Guerra do Vietnã trazia notícias pela televisão, jornal ou rádio que fazia qualquer cidadão do mundo se sentir mal emocionalmente. Além disso, aconteciam constantes injustiças. A morte de líderes pacifistas, pessoas que estavam ajudando o mundo e acabaram sendo assassinadas por isso, era revoltante.

Para eles, vivendo no ambiente de uma universidade, também existia a política de divisão dos dormitórios. Não era uma política totalmente francesa, mas ridícula o bastante para receber questionamentos. A geração dos irmãos Way sabia reconhecer sexismo.

A esperança era que mais grupos se unissem à forma de combate deles, e as manifestações estavam sendo marcadas para vários dias. A ideia já era de longa data, mas o primeiro protesto havia sido feito uma semana antes do que Gerard e Mikey estavam a caminho.

Pegar um táxi ou qualquer via de transporte pelas ruas era impossível no momento, então, os dois foram ao local marcado caminhando. Não moravam longe, e em pouco tempo viram aglomerações de pessoas, ainda não tantas, mas o número chegaria à expectativa. Elas falavam alto e esperavam que outros chegassem.

1968; frerardOnde histórias criam vida. Descubra agora